DOZE

93 10 0
                                    

Quando minha ficha caiu, já era tarde. Oliver Gutierrez já estava ciente do que estava acontecendo, o deixei curioso o suficiente para pesquisar sobre a tal Scarlet Russell e sobre mim. Eu não deveria ter feito isso, mas não dá mais para voltar atrás.

Quando eu trabalhava com a polícia, aprendi muito sobre expressões. Eu sempre fui observadora, e depois que me tornei investigadora tudo ficou ainda melhor. Levanto isso em conta, posso garantir que vi apenas verdade e curiosidade no rosto do doutor Gutierrez. Ele seria de grande ajuda. Pelo menos é o que espero.

Encaro o pátio pela janela da enorme sala de estar. Eu ainda não tinha vindo nesta parte do prédio, mas ela existia. Não sou o tipo de pessoa que se enturma fácil, então gosto do quarto e do colchão fino.

— Oi.

Olho para o lado, vendo uma jovem negra dos cabelos curtos e lisos. Seus olhos eram lindos, mas estavam mortos, assim como sua alma devia estar.

— Oi – respondo baixo.

— Sou a Hannah, e você?

— Todos me chamam de Scarlett aqui.

Ela sorri e acena com a cabeça.

— Eu já sabia, na verdade. – Ri. — Sou a Hannah.

Ela já havia dito seu nome, o que me chateou um pouco. Parece egoísta e insensível o que vou dizer, mas sinto falta de conversar com uma pessoa sã. Se eu não sair daqui logo, vou acabar enlouquecendo de verdade.

— Por que está aqui, Hannah? – Resolvo perguntar.

— Porque meu marido morreu. Mas ele não morreu sozinho, eu o matei. – Sorri.

Ela parece muito perturbada, sua cabeça deve ser um caos, ela tenta disfarçar a dor com sorrisos.

— Como fez isso? – Continuo.

— Com o meu carro. Ele tinha outra, não suportou uma mulher louca. Tenho problemas desde criança, sempre vivi sob remédios, e mesmo que me falte parafusos, ainda tenho noção do que faço. Fui mandada para cá porque preciso de cuidados mentais, se não passaria todo o tempo na prisão. Prefiro ficar aqui do que lá, com aquelas pessoas maldosas.

Desvio minha atenção para frente, ficando em silêncio enquanto minha cabeça trabalha na história dela. Uau.

— Você se arrepende. – Afirmo.

Ela não diz nada, o que confirma meu pensamento. Não deve ser fácil, de qualquer forma.

— Eu o amava, mas deixei que minha cabeça me controlasse e estraguei tudo.

— No meu caso, deixei que o coração me controlasse e me dei muito mal. A vida é uma ironia, eu adoraria ter matado o homem que amei um dia – digo, amargurada.

— Não diga isto, ninguém merece a culpa de uma morte. É horrível. Vingança não nos faz mais fortes. – Suspira.

Ficamos em silêncio depois do que ela disse, mas minha cabeça estava trabalhando em suas palavras.

Eu estava cega pela raiva, mas podia enxergar que por um lado Hannah estava certa. Ninguém merece carregar a culpa de um assassinato, principalmente se aconteceu na hora da raiva, "sem querer". Depois que a sanidade volta, o mundo cai em nossas costas. Meu desejo de vingança é gigantesco, Jack não pensou duas vezes antes de me apunhalar pelas costas, ele foi horrível comigo. Tudo para proteger a própria pele. Maldito.

— Você está aqui por quê? – A pergunta vem da mulata ao meu lado.

— Longa história. – Suspiro.

PSICÓTICAOnde histórias criam vida. Descubra agora