TRINTA E CINCO | último

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Os meses correram rápido, tudo estava como antes de Jack Bailey entrar na minha vida.

Eu estava cada vez mais bem-sucedida profissionalmente, e como recomendação de Zoe, iniciei terapia há alguns meses. Foi a melhor decisão que já tomei na vida.

— Filha, você pode ver se o peru já está assado? – Minha mãe pergunta para mim com seus grandes olhos pidões.

— Claro.

Deixo de servir os pratos na mesa e caminho até a cozinha, já sentindo o cheiro delicioso de carne.

Natal sempre foi minha data comemorativa favorita.

Abro o forno após colocar uma das luvas da minha mãe e pego o recipiente grande de vidro onde ela havia colocado, tirando-o lá de dentro para colocar na pia.

— O cheiro está ótimo! – Sorrio com a alegria de Anastasia Patterson. Como se ela não soubesse que ficaria uma delícia.

Volto para a sala de jantar e inspeciono a mesa antes de ir para a sala de estar com o resto do pessoal.
Meus tios da Carolina do Norte e meus avós paternos e maternos vieram desfrutar da ceia de natal com a gente.

— Como está o trabalho, Sam? – É meu avô, Desmond Patterson, quem faz a pergunta, sorrindo para mim.

— Está ótimo, vovô.

— Fico feliz por você, apesar de achar muito perigoso. Você nos deu um susto quando tudo aquilo aconteceu – continua.

— Demy! – Minha avó e sua esposa, Rosely Patterson, chama sua atenção.

— Foi um susto para mim também, mas não vai acontecer novamente. – Sorrio, antes que o clima tenso pudesse se instalar.

— Pessoal, venham comer, o jantar está pronto! – Minha mãe nos interrompe, sorridente.

Todos nós nos encaminhamos para a sala de jantar e nos acomodamos nas cadeiras disponíveis.
As conversas estão embaralhadas e é difícil distinguir o que cada um diz, mas é maravilhoso estar cercada por pessoas que amo tanto.

Charlote desce logo depois de minha mãe servir a todos, usando um vestido vermelho reto, de veludo, e um laço branco nos cabelos. Sorrio para ela quando a mesma se senta ao meu lado.

— Aonde vai tão bonita assim? – Pergunto.

— Para lugar nenhum. – Dá de ombros. — Não preciso sair de casa para ficar bonita.

Minhas sobrancelhas provavelmente devem ter ido muito alto, porque estou surpresa com a língua afiada de uma garotinha de doze anos.

De repente, me lembro de Blake Sommers e de como foi simples solucionar seu caso. Havia sido mesmo o esposo de sua tia, mas ele não fez tudo sozinho, pois teve ajuda de um amigo para encobrir tudo. De nada adiantou, pois o mandei para passar mais da metade de sua vida atrás das grades.

Bem, de qualquer forma, prefiro não lembrar de uma tragédia agora.

Volto a prestar atenção nas risadas e falas altas, sorrindo para nada em específico.

▪️

Todos já estávamos de barriga cheia, ainda mais depois da torta de maçã incrível que minha mãe serviu.
Agora, estamos na área de lazer, do lado de fora da casa dos meus pais. A piscina está com luzes coloridas por insistência de Charlote, o que me faz pensar que eu preciso ir até a praia nesta semana de folga do trabalho. Talvez leve Amalia comigo.

— Sam, quero muito te contar uma coisa. – Minha irmã balança o corpo de um lado a outro, parecendo nervosa.

— O que aconteceu, meu amor? – Fico um pouco preocupada, me colocando ereta na espreguiçadeira.

Ela esfrega os lábios brilhantes de gloss e olha para o chão, colocando as mãos na frente do corpo.

— Aquilo.

— Aquilo o quê? – Franzo o cenho, confusa.

— Que você disse que as mulheres têm.

Arregalo um pouco os olhos, me aproximando dela para ninguém ouvir.

— Você ficou menstruada? – Seguro o riso, mas não por muito tempo, pois ela acena com a cabeça. Seu rosto está corado. — Ei, Lottie, não precisa ficar com vergonha de mim. Meus parabéns, você está se tornando uma garota linda. Você precisa de ajuda com alguma coisa?

— Não, olhei tudo na internet. – Dá de ombros.

Ela me abraça, fazendo-me achar fofo a maneira como ela age. Eu amo tanto esta garotinha.

— Agora já posso adotar um cachorro? A mamãe disse que eu poderia quando me tornasse uma mocinha. – Seus olhos brilham em expectativa.

Solto um riso, passando uma das mãos por seus cabelos pesados e lisos.

— Vou falar com os nossos pais, está bem?

— Você promete? – Faz uma expressão engraçada de desconfiança.

— Claro, fique tranquila.

Ela beija minha bochecha e se vai, entrando em casa.

Me levanto da espreguiçadeira e entro em casa também, indo até a cozinha. Abro a geladeira e sirvo um pouco de vinho em uma taça para mim, mas quando vou beber, minha irmã surge com uma caixa nas mãos.

— Sam, está escrito seu nome. Estava lá fora. – Me entrega.

Franzo o cenho e deixo a taça sobre a mesa, pegando a caixa das mãos dela.

— Obrigada. – Sorrio.

Ela dá de ombros e vai para algum lugar, então vejo um cartão preso na tampa da caixa e começo ler:

"Achei você".

Meu coração acelera, mas antes que eu pudesse me precipitar, meus olhos capturam o resto das palavras:

"Foi realmente difícil.
Estou me sentindo um psicopata,
talvez eu seja.
É melhor investigar, detetive.
Pode começar abrindo a caixa,
tem uma boa pista dentro dela."

Mordo o lábio, curiosa. Abro a caixa e não consigo evitar o sorriso, sentindo meu coração disparar novamente, mas desta vez é de empolgação.

Ali dentro tinha simplesmente uma camisinha de morango, então desatei a rir, não conseguindo acreditar no que estava vendo. Só podia ser brincadeira.

— É, Oliver Gutierrez, você realmente me achou. – Mordo o lábio, sorrindo ainda mais.

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