TRINTA E QUATRO

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Eu estava ansiosa para a visita que faria. Já se passou uma semana desde que pedi a transferência de Amalia para cá, e ela chegou hoje pela tarde.

Sorrio educadamente para a recepcionista da clínica psiquiátrica e peço para ver Amalia Williams, que logo é reconhecida.

— É por aquele corredor – aponta, — você será acompanhada até o quarto em que ela está.

— Obrigada.

Caminho até o corredor que ela me indicou, vendo um segurança parado com expressão séria. Ele abre as portas para mim e me segue pelo corredor, me acompanhando até o quarto em que a garota que tanto quis ver está.

— Será que posso entrar sozinha? – Olho para ele, que ergue uma sobrancelha. — Eu a conheço, somos amigas. Preciso de privacidade.

— Está bem. – Suspira. — Estarei aqui fora.

Bato na porta antes de abri-la e olhar para o lado de dentro, vendo Amalia sentada no banco estofado de uma das paredes. Ela levanta a cabeça e me vê, se levantando rapidamente, surpresa.

— Scarlet?! – Sorri.

Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim, abrindo os braços para ela, que se aninha em mim.

— Pode me chamar de Samantha. Como você está?

Ela se afasta, olhando para o chão e para meu rosto sem parar. Continua perturbada com a própria cabeça.

— Eu gostei daqui, a comida tem cheiro bom. – Ri fraco.

Sorrio e analiso o quarto, ficando um pouco tonta por tanta cor branca. Ao menos é confortável.

— Você ficará aqui agora, na mesma cidade em que moro, o que você acha?

— Eu gostei daqui – repete.

— Farei visitas a cada duas semanas, esta clínica não permite muitas visitas, mas estarei sempre por perto. Podemos até sair um pouco.

— Sair!? – Me olha, conseguindo manter o olhar fixo em mim por mais de cinco segundos. — Eu amo os pássaros.

— Não sei se vamos encontrar muitos, mas você pode ver o mar – sugiro.

— Mar? – Franze o cenho, dando de ombros como uma garotinha. — Eu nunca vi um. É grande?

— É, sim, muito grande. – Sorrio.

Quero fazer por ela o que ninguém fez, que é dar atenção, afeto, amizade. Desejo fazer passeios com ela nos meus dias vagos, quando não estiver no trabalho. Levá-la para pisar na areia, tomar sol, caminhar pelo parque, tomar sorvete, rir, conhecer coisas novas.

— Você vai gostar muito daqui, Amalia, eu prometo. – Acaricio seu rosto angelical, vendo-a ficar um pouco constrangida com a minha demonstração de carinho.

▪️

— E então, como foi? – Zoe McCoy nem espera eu sair do elevador para perguntar.

— Normal. – Dou de ombros. — Uma visita à uma amiga.

— Ah, claro. Normal.

— Não seja insensível, Zoe, você não conhece aquela garota como eu. Ela precisa de alguém, assim como eu precisei quando fiquei sozinha. – Mordo o lábio.

Ela ergue as mãos e dá de ombros, pegando um pouco de café na garrafa ali do andar.

— Desculpe.

Entro no escritório do meu chefe e o pego no telefone, provavelmente com a família, pois está com um sorriso gigante.

Tudo bem, meu amor. Eu sei, também te amo. Tchau.

Ele olha para a tela do celular ainda sorrindo e o guarda no bolso.

— Está inspirado hoje. – Sorrio, sentando-me na frente dele.

— Eu tenho a mulher mais linda do mundo, só isso. Você precisa de algo?

— Você não tem nada para mim? – Franzo o cenho.

— Sim, eu tenho. – Vê algo no notebook sobre sua mesa. — Adivinhe só.

Hmmm... – finjo pensar, — assassinato?

Ele me dá as costas, indo em sua cadeira giratória até um móvel atrás de si.

— Estupro seguido de morte. – Joga alguns papéis sobre a mesa. — Preciso que você mantenha isto em sigilo absoluto.

Minha pele está arrepiada, flashs do que aconteceu comigo explodem em minha cabeça, e quando percebo estou tensa, com a visão embaçada e os dentes cerrados.

— Blake Sommers – mostra uma foto, — uma garota de doze anos.

— Meu Deus! – Engulo em seco. — Era só uma criança.

— Infelizmente acontece a todo momento. O que me diz; quer pegar o caso?

Só de pensar que posso colocar as mãos no imundo que fez isso, balanço a cabeça positivamente.

— Sei que você é capaz disso, Samantha. Precisamos descobrir quem é o culpado. A mãe da menina acredita que tenha sido o próprio cunhado. – Vira seu notebook em minha direção, me permitindo ver a foto do homem.

Ele deve ser novo, ainda na casa dos vinte anos. Meu sangue parece borbulhar dentro de mim, sinto tanta raiva que começo a tremer.

— Ela não pôde fazer nada, não tem provas, mas precisamos resolver o caso. E eu tenho uma ideia que talvez funcione.

— E qual é? – Ergo uma das sobrancelhas.

— Você poderia marcar um encontro com ele, estudar suas reações, suas atitudes. Você é ótima em leitura corporal, não vai ser um trabalho difícil para você.

Engulo em seco, um pouco insegura, mas a menina só tinha doze anos.

— Eu aceito, vou me encontrar com ele. Consigo provas em apenas uma tentativa. Quando começo? – Respiro fundo.

— Hoje mesmo. Eu cuido de tudo e te passo os detalhes. Você precisará vê-lo ainda esta semana, hum?

Apenas aceno com a cabeça, me levantando da cadeira e saindo dali.

— Vai ser como tirar doce de criança – digo, antes de fechar a porta atrás de mim.

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