VINTE E DOIS

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Às seis da manhã deixamos o motel, tivemos uma boa noite de sono depois das longas cinco horas de viagem.
Oliver está concentrado na rodovia, enquanto eu penso em como estou em abstinência depois das lembranças de ontem.

- Você está inquieta - ele comenta.

- Ansiedade - minto, - não vejo a hora de ver Jack atrás das grades.

- Chegaremos lá até onze da noite se pararmos para almoçar e comer algo ao entardecer.

- Perfeito, amanhã de manhã já posso ir até o departamento. - Sorrio, satisfeita.

▪️

Seis horas depois, conseguimos encontrar uma conveniência decadente próximo à uma cidadezinha, então paramos para almoçar.
O relógio já marcava meio-dia e eu estava com tanta fome que sentia tremores por todo o corpo.

- Podemos descansar nos próximos trinta minutos. - Oliver diz, batendo a porta da caminhonete.

- Eu dirijo até fazermos a próxima parada. Devíamos ter optado por voar até Los Angeles. - Respiro fundo.

- Devíamos se não fosse tão fácil para Jack te encontrar dessa forma.

Reviro os olhos, amaldiçoando Jack Bailey. Não tenho ideia de onde ele possa estar agora, mas, obviamente, não está fazendo algo de produtivo.

Entramos no restaurante e escolhemos uma mesa ao fundo, nos acomodando nas cadeiras descascadas. Uma garçonete nos atende e anota nossos pedidos com tédio, se retirando sem dizer nada. Estou acostumada com garçons antipáticos.

- O que me deixa mais curioso, é como Jack Bailey conseguiu enganar tantas pessoas. E sua família, seus amigos? - Oliver franze o cenho.

- Dinheiro, talvez. - Dou de ombros. - Todos acham que eu sou louca, e minha família deve me odiar, acham que matei meus pais e Charlote. Muitos viram o ferimento que fiz em Jack com um canivete, ele fez questão de chamar a atenção dos vizinhos dele.

- Como ele incriminou você?

- Quando eu descobri que ele havia assassinado Ella Armstrong, dei o prazo de dois dias para ele se entregar - respondo.

- O que você tinha na cabeça? - Ergue as sobrancelhas. - Devia tê-lo entregado o quanto antes!

- Eu sei, é que... eu estava cega de paixão, iludida. Pensei que ele fosse me ouvir e ir até a polícia.

- Mas ele não foi, não é? - Pergunta com ironia. - O que aconteceu?

- Quando o prazo que dei venceu, ele me chamou até a casa dele, disse que precisava de ajuda e que estava com medo. - Reviro os olhos. - Mas quando cheguei lá, ele simplesmente riu da minha cara e disse que não ia se entregar. Acabei descobrindo a morte de uma segunda garota. Charlie Davidson. Ele confessou, disse que fodia com a garota também, e como Ella, quis terminar o caso que tinham, mas ele não aceitou - repito as palavras dele.

- Que cara louco! - Franze o cenho novamente.

- Eu sei. Ele tinha fetiche em garotas que namoravam, gostava de ter casos proibidos.

- E você, ele não sentia nada? - Pergunta, curioso.

Dou um sorriso irônico e balanço a cabeça, vendo a garçonete se aproximar com nossos pedidos.

- Além de desejo sexual, não. - A garota entediada serve nossa comida e uma garrafa de coca-cola, saindo logo em seguida. - Eu era alvo fácil para ele. Apaixonada, manipulável, disponível sempre que ele queria... Uma verdadeira bonequinha que ele possuía e fazia o que bem entendia.

- E o que você sente quando me conta isso? - Me analisa enquanto mastigo uma batata frita deliciosa.

- Bem, doutor - sorrio, vendo-o fazer o mesmo, - sinto raiva de mim mesma por ter caído em algo tão fútil. Ele só queria sexo fácil, era apenas isso que tinha a me oferecer, e eu aceitei, mesmo querendo dar tudo a ele. - Suspiro.

- Você ainda é apaixonada por ele, Samantha. - Afirma, convicto.

Solto um riso enquanto corto um pedaço da minha carne e lanço um olhar rápido para ele.

- Também achava que sim, mas é só mágoa. Estou decepcionada ainda. Muito.

- Isso me faz pensar na minha ex namorada, provavelmente é assim que ela se sente em relação a mim - diz, olhando para o nada por alguns segundos.

- Então você é um psiquiatra/lutador/atirador que destrói corações? - Sorrio e bebo um pouco de refrigerante.

Ele dá uma risada leve e balança a cabeça em negativa, com a boca cheia de comida.

- Digamos que sim - responde depois de limpar a boca com um guardanapo.

- Como ela é; sua ex namorada? - Pergunto.

- Perfeita. - Dá de ombros. - Linda, inteligente, engraçada, sincera, sonhadora e gentil. Porém, não foi o suficiente, a rotina abraçou a nós dois e eu me deixei ser acolhido.

- Entendi, você não a ama, mas ela sim, certo?

- Certo. - Suspira.

- Não quero te desanimar, mas é horrível amar e não ser amado, ela foi corajosa em deixar você, coisa que eu não fui. - Termino de comer, deixando o prato de lado.

- Ela sofreria ao meu lado, foi melhor assim.

- Não era para dar certo, a vida é assim. Você ainda vai encontrar alguém que seja a sua rotina, e não alguém que caia nela com você. É muito mais fácil continuar amando assim. - Suspiro.

- É, quem sabe. - Me encara.

Ficamos presos um ao outro por um tempo, mas quebrei o clima ao limpar a garganta e me levantar.

- Vamos? - Sorrio, um pouco desconfortável.

Ele termina seu refrigerante e se levanta, apenas acenando com a cabeça.

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