SEIS

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Mais dias se passaram, e minha rotina estava voltada a pensamentos e planos. Eu sempre fui uma mulher determinada e inteligente, não era a toa que eu tinha uma vida perfeita antes de tudo acontecer, antes dele acontecer. Então, presa naquele lugar infernal, minha cabeça já havia trabalhado em uma maneira de fugir dali.

Meus pés amassavam a grama enquanto eu caminhava para o refeitório, porém, algo me chamou atenção. O guarda, o tal David Waters, estava parado ao lado da porta de entrada e saída dali, e então vi minha chance de colocar o meu plano em prática. Me aproximei dele e parei em sua frente, conseguindo sua atenção. Ele abriu um sorriso que conheço bem, um sorriso malicioso e sacana. Filho da puta.

— Perdeu alguma coisa, docinho?

Controlei minha raiva, respirando fundo. Eu não precisava fingir na frente dele, ele precisava entender que eu não era louca e sim esperta.

— Você é David Waters, o guardinha sujo que fode uma paciente mentalmente incapaz de se defender, acertei?

Seu sorriso sumiu, vi seu maxilar ficar rígido com a minha acusação.

— Você é só uma retardada, não sabe o que está dizendo! – Tenta me ofender.

— Não estou aqui porque sou louca, estou aqui por ter me apaixonado pela pessoa errada. – Ele franze o cenho. — Eu sei sobre você e Isabella, ela é apaixonada por você.

Outro sorriso estampa seu rosto, mas não um malicioso, e sim terno e carinhoso. Tudo bem, ele não parece ser mau para ela.

— Eu quero que você me ajude a sair daqui, se não contarei ao diretor o que você faz – ameaço.

— Ninguém vai acreditar em você, você é só mais uma louca aqui. – Ri.

— Será? Algumas loucas têm mente de uma criança. Inocente, verdadeira... dessas que fala o que vê.

— Ninguém vai acreditar em você.

— Sou muito manipulável, você não vai querer pagar para ver. E tenho outra proposta.

Ele ergue uma sobrancelha, parecendo disposto a ouvir.

— Você como guarda sabe bem o que estes malditos fazem aos pacientes. Isabella pensa que em breve sairá daqui, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Se me ajudar, ela fugirá comigo e vocês terão a chance de ficarem juntos – sugiro.

Sua expressão é neutra, mas sei que está pensando sobre. Isabella não seria liberada facilmente, algumas pessoas sabem ser sujas, e David sabe disso. Se alguém descobrir que ela vomita os medicamentos será o fim, os funcionários deste lugar não são bem intencionados. Se ele a quer tanto, não vai exitar.

— O que eu tenho que fazer?

Sorrio, esplêndida.

•••

Nunca fiquei tão empolgada para comer, estava radiante porque estava prestes a sair daquele manicômio.

— Viu algum passarinho verde? – Isabella pergunta, sorrindo.

— Vi milhares deles! – Sorrio também. — Tenho que contar algo a vocês.

Katherine não estava na mesa, então eu poderia ser clara com ela e Amalia, as duas poderiam vir comigo.

— Conte logo! – Isabella apressa.

Inclino-me um pouco sobre a mesa, mas apenas Cooper me acompanha, pois Amalia só consegue levar o corpo para a frente e para trás e permanecer com o olhar congelado no chão.

— Nós vamos fugir! – Sussurro.

Consigo a atenção de Amalia, que parece assustada. Isabella está de olhos arregalados e paralisada, então continuo:

— Um guarda vai nos ajudar, ele tem as chaves.

— Eu não vou, é perigoso! – A morena começa a ficar eufórica, então pego sua mão para não deixar que ela estrague tudo.

— Fique calma, Amalia, não precisa ficar nervosa, ok?

Ela balança a cabeça várias vezes e volta a encarar o chão. Olho para Isabella, que não parece tão feliz quanto imaginei.

— Não posso, estou quase cumprindo minha pena e melhorando, não vou destruir tudo por uma fuga, me desculpe. – Ergue os ombros, parecendo realmente lamentar.

— Isabella, é melhor você conversar com o guarda Waters, ouça o que ele tem para dizer – digo, entendendo que só ele pode convencê-la.

•••

No quarto, sozinha novamente, penso no quanto falta pouco para que eu esteja livre. Tenho consciência de que poderei passar o resto da vida fugindo, mas se eu tiver qualquer chance de provar a verdade, aproveitarei, e tenho certeza que não farei nada presa nesse lugar.

Olho para o céu escuro através da janela, pensando na minha família. As palavras de Oliver Gutierrez se repetem na minha cabeça o tempo todo. Nos primeiros dias não quis enxergar outras possibilidades para o que ele disse, mas agora sei que existe uma grande chance dele ter oferecido dinheiro aos meus pais e ameaçado Charlote se não desaparecessem. O conheço muito bem, conheço seus raciocínios, e é isso que vai me ajudar quando eu puder me vingar.

Jack Bailey conheceu uma parte frágil de mim, ele não sabe o quanto posso ser cruel.

Mas vai saber.

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