QUATRO

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O restante do meu dia foi ainda pior do que o dia anterior, pois não consegui fechar os olhos em momento algum. Mantive meus pensamentos focados, organizando minha mente para sobreviver a este lugar.

Ouço barulho de chaves, então olho em direção à porta e vejo uma enfermeira entrar acompanhada de um guarda. Ela está segurando um copo descartável pequeno em uma mão e dois comprimidos na outra, mantendo a expressão neutra.

— Seus remédios.

— Que remédios? – Franzo o cenho.

— Sem perguntas, beba! – Estende o copo para mim.

Aceito sem discutir, colocando os comprimidos na boca e bebendo a pouca água como ajuda. Devolvo o copo à ela e olho para o guarda rapidamente.

— Abra a boca.

Faço o que ela manda, mostrando que engoli tudo. Os dois se retiram e me deixam trancada outra vez, como se eu fosse um bicho.

Volto a me sentar na cama e fico olhando a parede, mas uma leve luz do fim do dia refletindo sobre ela me faz olhar para a janela.
Levanto-me da cama novamente, parando na frente da luz natural. A janela é alta, não consigo ter visão de nada lá fora, o que aumenta minha curiosidade para saber o que existe atrás desta parede. Talvez dê para a parte de trás e não para algum lugar dentro do manicômio onde algum guarda pode me pegar.
Preciso arrumar um jeito de alcançar e armar um plano para sair daqui.

•••

No dia seguinte, acordei com um guarda me gritando da porta. Ele não precisou dizer nada, repeti o mesmo processo de ontem e o segui até o refeitório, onde ele esperou eu entrar na fila para se afastar.
Hoje o café da manhã são torradas, um copo descartável com alguma geleia vermelha e leite puro.
Pego a minha bandeja e vou em direção às mesas, vendo Amalia Williams acenar a mão para mim.

— Como passou a noite? – Cooper é a primeira a dizer algo quando me sento.

— Dormindo.

Amalia sorri enquanto Isabella joga a tampa de sua garrafa em mim.
Abro minha garrafa também, bebendo um gole do leite puro.

— Eu detesto leite puro – digo.

— Aqui parece mil vezes pior.

Aceno com a cabeça, concordando plenamente com ela. Tudo aqui parece pior.
Olho uma das cadeiras vazias e franzo o cenho.

— Onde está a Katherine?

— No quarto, ela teve um surto antes de sair e os guardas bateram nela.

— Os guardas bateram nela? – Arregalo os olhos. — Eles não podem fazer isso!

— Infelizmente acham que podem.

— Kate já teve muitos problemas com os surtos, ela não consegue se controlar depois que começa. – Amalia explica, sua voz é doce como a de uma criança. Ela está de cabeça baixa, comendo a torrada e balançando o corpo para frente e para trás.

Lamento por Katherine, fazendo uma nota mental de descobrir quais foram os guardas que bateram nela e foder a vida deles depois que estiver fora desse inferno.
Termino meu café da manhã um pouco depois das outras, e alguns minutos depois somos levadas de volta para o quarto.

•••

Não sei se passaram horas ou apenas minutos desde que estou deitada, mas ouço abrirem a porta pela segunda vez hoje.

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