DEZ

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A noite estava fria, mas não me impedia de sair com um dos meus amigos para tomar uma cerveja. Tristan Parrish é um colega do trabalho, o único que sabe tudo sobre os meus pacientes, dividimos algumas dores de cabeça, não precisamos de segredos um com o outro sobre o trabalho, não estamos ali para disputar quem é o melhor.

— Ela é intrigante – comento, tomando mais um gole da bebida gelada.

— Não é a única. Estamos em um lugar onde apenas loucos moram, todos eles são intrigantes. – Ergue as sobrancelhas.

— Você não entendeu, cara. Eu não sei se tenho certeza sobre a loucura dela.

— Está me dizendo que acha que ela é inocente? – Solta um riso.

— É, eu sei, parece loucura. – Sorrio, deixando este assunto de lado, por enquanto.

Fico pensando em cada palavra que saiu da boca de Scarlett Russell. Ela é intrigante, como acabei de dizer para Tristan. Desde a última consulta não consigo parar de pensar nela, não por algo sentimental, mas sim curiosidade.

— Como vai Kristen? – Meu amigo me puxa de volta para a realidade.

— Ela está viajando, foi passar uma temporada na casa da irmã em Boston. – Suspiro. — Ela odeia esse lugar.

— Eu também odeio, mas minha vida toda está aqui. – Dá de ombros.

— Só fico aqui pelo trabalho, minha família toda mora no Canadá. Eu gosto de ficar sozinho.

— Vai acabar perdendo sua namorada também, ela gosta muito de você, Oliver. Você é tão burro, às vezes. – Balança a cabeça enquanto beberica seu uísque.

— Ela não se importa com muitas coisas, e garanto que sou uma delas, se não ela estaria aqui comigo. Quem ama, sacrifica certas coisas pelo outro – digo.

— Serve para você mesmo, cara.

— Eu sei, mas não a amo, apenas me acostumei.

— Então ela não deve sacrificar nada por você também. – Cruza os braços sobre o balcão do bar.

— Tem toda razão. – Bato em seu ombro. — Vou para casa, preciso resolver algumas coisas do trabalho. Até amanhã.

Ele apenas acena com a cabeça e com a mão, virando o copo de uísque e pedindo outro enquanto saio do estabelecimento.

▪️

Sentado na cadeira giratória do meu quarto, leio pela quarta vez a ficha de Scarlett Russell. Não há nada errado, mas alguma coisa não me deixa esquecer sua história.

"Eu não sou louca".

"Eu não sou ninguém, doutor".

Suas palavras ficam se repetindo em minha cabeça como um eco. A maneira como ela falou, sua expressão fria e vazia.

Decido pesquisar por seu nome, mas sou interrompido pelo meu celular. É Kristen, ela sempre liga nesse horário quando não está aqui.

— Kristen! – Atendo depois de cogitar o contrário.

Oi, Oliver. Só liguei para saber como está.

— Estou bem, e você?

Com saudades. Chego amanhã, não aguento mais ficar aqui com Celine.

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