Capítulo 1- Mariana

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Eu estou praticamente pronta. Iremos comemorar o meu novo emprego como pediatra no hospital São Rafael. Faz anos que eu não sei o que é uma festa, afinal, estudar medicina exige tudo e mais um pouco de você.

Só que ser pediatra sempre foi meu grande sonho, e eu lutei por ele com todas a minhas forças, abri mão da diversão, dos encontros...Só que hoje estou tão feliz que me sinto no direito de ir à forra!

Como o branco vem sendo a cor predominante em meu guarda roupa, escolho algo que fuja totalmente do meu habitual. Um vestido azul Royal é o meu escolhido.

Ele é justo e faz com que eu me sinta sensual, coloco um salto alto, deixo os cabelos cairem em minhas costas nuas e faço uma maquiagem caprichada.

Estou colocando meus brincos quando escuto uma buzina estridente.

— Mariana Sanches, você não vai se casar! É só um barzinho!

Pego minha bolsa e tranco a porta de casa, entro em seu carro e beijo seu rosto, então ela começa com seus comentários que me deixam sem graça.

— Até que enfim ela está vestida como uma mulher de vinte e quatro anos... Esse visual mostra claramente que você quer transar hoje!

— Como você é baixa, Luiza! —recrimino-a enquanto afivelo o cinto de segurança.

Ela apenas ri, aumenta o som e acelera.

O tal barzinho é um fiasco, eu acabo a noite bebendo suco de laranja com groselha enquanto minha amiga é engolida por um rapaz que a cercou a noite toda.

Na volta, a Luiza faz um relato detalhado do cara, ela está tão empolgada que eu desisto de dizer que preferia ter ficado em casa assistindo a novela das nove.

Despeço-me rapidamente dela, afinal, eu vou ter que madrugar enquanto a bonita vai dormir no mínimo por doze horas.

Enquanto troco o visual femme fatale por meu pijama estampado, penso que no fim das contas eu não perdi tanta coisa, a vida de balada decididamente não é para mim.

*****

Acordo num rompante e sento na cama, assustada, com os olhos grudados no rádio relógio. Três da manhã. Salto como uma louca à procura do meu telefone celular.

— Por que raios você não despertou? — Seguro o aparelho na mão enquanto o amaldiçoo.

Estou pronta para ir ao banheiro quando lembro de que não tenho mais que fazer residência, que esse será meu primeiro dia no hospital São Rafael e, o principal, que o meu turno começa às sete da manhã.

Aliviada como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas, volto a me deitar. Graças a Deus e ao meu esforço eu posso dormir um pouquinho mais.

***

— E então... Como se sente, Doutora Mariana? — Minha mãe questiona enquanto termina de colocar a mesa do café. É a primeira vez em anos que faremos o desjejum juntas.

— Feliz — resumo, terminando de abotoar meu jaleco. Em meu peito, o nome escrito com linha verde parece brilhar. É como se isso fosse um troféu. — Acho estranho quando escuto "Doutora Mariana" — confesso.

Minha mãe para atrás de mim e começa a mexer em meus cabelos.

— Deve se orgulhar disso. Só seu pai e eu sabemos tudo o que você sacrificou por essa faculdade. Todas as festas que deixou de ir, os feriados trancafiada em prontos-atendimentos e até mesmo seu namoro, que acabou indo por água abaixo.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora