Capítulo 23- Bônus Silvia

256 37 8
                                    


Olho para o relógio na parede e o maldito ponteiro parece nem se mover, se existe uma coisa que me tira do sério, é esperar. Decididamente a paciência não é uma das minhas poucas virtudes.

Vou até o frigobar e abro a porta, sabendo que não vou encontrar nada que me agrade, ou melhor, nada que eu possa comer, afinal, chocolate não é algo que eu deva incluir no meu cardápio.

Ou será que devo?

Que se dane!, penso já rasgando a embalagem de uma barra crocante e, mordida após mordida, sinto um prazer inigualável. Em pouco menos de dez minutos lá se vão mais de duas mil calorias.

Inferno!

Corro para o banheiro, curvo-me em torno do vaso sanitário e dou o meu jeito de colocar tudo para fora, com a consciência mais tranquila, lavo o meu rosto e volto para o quarto.

Estou prestes a me sentar na cama quando a porta se abre...

— Finalmente...Eu achei que fosse passar a noite fora.

Paulo me encara com o semblante sério, as sobrancelhas altas, os braços cruzados e é como se eu estivesse vendo o meu Pedro parado em minha frente.

Confesso que quando eu descobri que ele tinha um irmão gêmeo, imaginei que seria parecido, mas nunca idêntico e isso mexe demais comigo.

— Meu irmão fez questão de me mostrar cada pedacinho do bar dele, depois uma amiga da noiva dele quis dar uma esticada na pista de dança, então... — Ele caminha na minha direção e passa por mim, sentando-se na ponta da cama.

— Eu odeio quando se refere àquela vagabunda como noiva do Pedro! — retruco severamente.

— Mas é o que ela é, e, por muito pouco tempo... O Pedro e ela pretendem formalizar a união o mais rapidamente possível. — Ele segura o queixo enquanto fala.

Sentindo meu sangue fervilhar, abaixo-me na frente dele e coloco o dedo em riste.

— Se o seu irmão se casar com a médicazinha dos infernos, o nosso plano vai por água á baixo, entendeu?

Outra vez ele fica sério.

— Sabia que ele me ofereceu a gerência do bar? — Segura a minha mão, forçando-me a abaixar o meu dedo. — Apesar de conhecê-lo pouco, ele parece ser um cara legal, bem diferente de como você me falou.

Outra vez sou tomada pela raiva, minha vontade é de gritar com o Paulo, dizer que ele é um idiota, mas eu preciso dele.

— Acha mesmo que ele mostraria a verdadeira face assim — estalo os dedos —, o Pedro é sagaz, inteligente, do contrário não chegaria aonde chegou — argumento, antes de me levantar. — Aposto que ele continua fingindo que não sabia sobre você, acertei?

Paulo me encara e junta as sobrancelhas.

— Na verdade, parece mesmo que não sabia...Em momento nenhum ele transpareceu ter sequer ideia de que tinha um irmão e, honestamente, toda essa história parece não fazer sentido.

— Eu deveria imaginar que depois de passar mais algumas horinhas com ele, voltaria duvidando da verdade, aliás, ele deve ter inventado um monte de coisas sobre mim...Mas isso eu já tinha avisado que aconteceria. — Caminho pelo pequeno quarto, desfazendo minha postura. — Para justificar sua traição, o Pedro adora dizer que perdeu a guarda da filha por minha culpa, insiste que eu armei para ele, tudo porque é um covarde, não tem a dignidade de confessar que enquanto eu vivia por ele, o safado me traía com a pediatra da filha.

— Olha, Silvia, se quer saber a verdade, o Pedro nem tocou no seu nome...Ele me disse rapidamente que um mal-entendido fez com que a filha fosse entregue aos avós, mas não mencionou sua suposta culpa — ele continua tentando defender o irmão.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora