Capítulo 13-Mariana

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É uma casa grande de dois andares, nós estamos na garagem onde há um carro mal estacionado e uma motocicleta coberta por um lençol. Pedro para na frente da porta e gira a maçaneta, abrindo-a. Ele acende as luzes e faz um sinal para que eu entre.

Engulo em seco e o obedeço, passo por ele e chego à uma sala de estar. Tudo parece tão novo, o sofá claro, a tevê grande pendurada em um painel de madeira escura, quadros de paisagens, um belo tapete aveludado, enfim, um ambiente agradável e organizado demais para um homem que trabalha tanto e ainda tem uma filha para cuidar.

— Sua casa é muito bonita... — elogio e logo me sinto uma idiota, acho que isso seria algo que minha mãe diria a alguém.

Pedro fecha a porta e caminha, ficando mais perto de mim.

— Comprei com muito sacrifício, mas devo admitir que quem a deixou assim, tão aconchegante, foi a Fernanda. Antes dela isso aqui era bem diferente — ele fala, e eu posso sentir a ternura quando se refere à esposa.

— Ela fez um bom trabalho, tudo é de muito bom gosto. — Sou sincera.

— Você tem razão, ela era detalhista, pragmática até. Vem ver o quarto da Lorena. — Ele segura a minha mão e guia-me até a escadaria.

Subimos os degraus em silêncio e eu não consigo ignorar a eletricidade que percorre o meu corpo por estarmos em contato.

— Meus Deus! Que coisa linda... — murmuro ao me deparar com o belo enfeite em uma das portas. Duas ursas vestidas de bailarina, seguram uma placa com o nome da filha de Pedro.

Ele abre o quarto e eu noto que seus olhos ficam marejados.

— Cada coisinha...Desde a cor das paredes até o lustre foram escolhidos à dedo por ela. — Ele para ao lado do berço vazio, e eu sinto o meu coração se encolher dentro do meu peito.

— Não fica assim. — Paro em sua frente e vejo que ele chora em silêncio. — Pedro, ela vai voltar em breve. Prometo que vou ajudá-lo no que puder.

Ele abaixa a cabeça, parece envergonhado.

— É tão difícil... Sabe, eu estou sempre tendo que ser forte, a vida vem me dando golpe atrás de golpe e eu não tenho o direito nem de sofrer... — Ele funga e aperta os olhos com a ponta dos dedos.

Meu desejo é de abraçá-lo, de dar colo para ele, mas temo não conseguir ficar apenas nisso e, por mais que eu esteja com pena dele, nada apaga o fato de que ele me fez de idiota.

— Poderia me mostrar a cozinha? Eu acho melhor começar a fazer algo para você. — Mudo de assunto, a fim de frear meus impulsos.

— Claro. — Ele começa a caminhar e eu vou atrás escada à baixo. — É bem organizada, então vai achar tudo com facilidade. Vou aproveitar e tomar um banho, pode ser?

— Tudo bem, eu acho que consigo me virar — afirmo, depois de passarmos pelo corredor e chegarmos à uma cozinha bem- equipada.

Pedro me dá uma breve explicação de onde ficam as panelas e utensílios e depois sai. Paro então em frente à geladeira e sozinha ali, chego a me perguntar aonde eu estava com a cabeça quando me ofereci para cozinhar para ele

— Agora é tarde, Mariana... Ajoelhou? Então comece a rezar...Ou melhor, a cozinhar... — converso comigo mesma, enquanto tomo coragem para abrir a geladeira. — Vejamos o que temos aqui...Muitas verduras, legumes, carnes...

Sem muita ideia e desejando fazer algo rápido, separo os ingredientes para uma sopa de legumes. Visto um avental que encontro pendurado e o perfume de Pedro está nele, ignoro-o, ou tento, tudo o que sei é que pretendo fazer a melhor sopa que ele já comeu na vida.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora