Capítulo 31-PEDRO

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Depois de muito relutar, sou obrigado a voltar para a minha casa. Fazia quase vinte e quatro horas desde a minha chegada ao hospital e eu não tinha comido nada.

Mesmo sem apetite, abro a geladeira e pego uma panela que tem um resto de macarrão. Coloco no prato e enfio no micro-ondas para esquentar. Enquanto espero, puxo uma cadeira e deixo meus pensamentos passearem por momentos felizes em que Mariana e eu vivemos ali.

Saber que eu deveria estar me preparando para o nosso casamento é algo que dói profundamente, sinto-me devastado.

O apito do forno avisa que minha comida está pronta, mas eu o ignoro, continuo imerso em recordações e suposições. Tantas são as coisas que passam por minha cabeça que tenho a impressão de que estou carregando um fardo pesado demais.

Estou prestes a me levantar, quando ouço meu telefone tocar.

— Dona Odélia? Aconteceu alguma coisa coma minha filha? — questiono-a angustiado.

— Fique calmo, Pedro...Não aconteceu nada com a Lorena. — Ela pigarreia. — Na verdade, estou ligando porque soube que sua noiva sofreu um acidente... Não sei ao certo quem falou para ela, mas o fato é que a Sabrina me contou.

— É verdade, dona Odélia...A Mariana sofreu um acidente feio...O estado dela é bastante grave. — Minha voz trava ao falar sobre ela.

Ouço um suspiro.

— Olha, Pedro...Apesar das nossas diferenças, eu quero que saiba que eu sinto muito e que eu estou orando por ela...Sei bem como é a dor de perder um filho e não desejo isso para nenhuma outra mãe. — Ela se emociona. — Também não desejo que você passe por isso novamente.

— Eu agradeço a sua preocupação... É bom saber que a senhor pensa assim.

— Se quiser ver a Lorena, ficar um pouco com ela, pode passar aqui em casa...Acho que a companhia dela vai te fazer bem — sugere ela e eu me desmonto.

As lágrimas encontram um caminho fácil e saem como se estivessem represadas.

— Muito obrigado... Isso vai ser mesmo muito importante para mim. — Consigo dizer em meio a soluços.

Dona Odélia desliga e eu continuo chorando, no fim acho que é mesmo como eu disse, as lágrimas estavam represadas. Sinto que não chorei pela Fernanda o quanto deveria, ficar viúvo e ter nos braços um bebê recém- nascido, acabou fazendo com que eu não pudesse me dar o luxo de sofrer o necessário, mas agora, depois de levar outro tombo, decido me dar ao direito de esmorecer, de colocar de lado minha armadura e de desabar.

*****

Estaciono o carro bem em frente à casa dos pais da Fernanda e, não há como me esquecer das tantas vezes que fiz isso para buscá-la, quando ainda namorávamos, depois, mesmo casados e ela, como sempre foi muito apegada à mãe, fazia questão de vê-la praticamente todos os dias.

As recordações são boas, fui muito bem-tratado por meus sogros e mesmo agora, mesmo diante dos últimos acontecimentos, não posso tirar sua razão, até onde sabem, eu deixei a neta deles sozinha em minha casa.

Sem mais querer perder tempo, desço e depois que ativo o alarme do meu carro, vejo Sabrina surgindo com a minha princesa em seu colo. Ela está linda, vestida em um conjunto cor-de-rosa, parece uma boneca.

— Olha quem veio te visitar, meu amor! — ela fala, apontando na minha direção.

Minha pequena gira seu pequeno corpo e quando seus olhos me encontram, ela escancara um sorriso, exibindo seus poucos dentes e começa a chacoalhar as perninhas.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora