Capítulo 37- Bônus Paulo

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    Mesmo acuada e derrotada, Silvia Amorim não perde o ar de superioridade, que parece fazer parte do seu DNA. Ela está dentro do camburão, não tem saída, mas ainda assim continua gritando ofensas e acusações, além de insistir em insultar o Pedro e a mim também.

Confesso que estou me sentindo aliviado por essa história ter finalmente terminado. Eu não aguentava mais ter que fingir ser aliado de alguém tão desprezível.

Mas acredito que a pior parte nem foi essa, mas sim, enganar meu irmão e todos acerca dele, mesmo que tenha agido dessa forma por uma boa causa.

— Tenente, pedimos autorização para seguirmos com os elementos até a delegacia — um dos agentes se dirige a mim, antes de fechar a porta do camburão onde Silvia está.

Ela me olha com surpresa, as sobrancelhas altas expõem todo seu torpor.

— Eu gostaria de ser o condutor desse caso, mas tenho que resolver problemas pessoais, portanto, Arruda e Moura os acompanharão e participarão das otivas — respondo, sem tirar meus olhos dela.

— Você... ? Você é um policial? — estridente, ela me questiona.

Curvo-me, a fim de alinhar nossos rostos.

— Deixe-me apresentar-me oficialmente...Tenente Vargas. Puxo o distintivo que está no bolso da minha calça e exibo-o para ela. — Achou que seria você a me fazer uma surpresinha hoje, mas as coisas acabaram se invertendo. — Sorrio, com todo o meu sarcasmo.

Ela trinca o maxilar, posso notar que as veias em sua testa pulsam compulsoriamente.

— Desgraçado! Filho de uma puta! — ela berra.

— Pode fechar. — Dou um tapa na lataria do veículo, antes de virar as costas para Silvia.

Pedro está no interior da casa, ele quis proteger Lorena e poupá-la de presenciar cenas como as que protagonizei minutos atrás.

Sigo até a uma das salas, ouço gargalhadas infantis vindas de lá, paro na entrada e fico observando meu irmão e minha sobrinha se divertindo com um brinquedo de pelúcia.

Eles não notam a minha presença, é interessante assisti-los, é como se estivesse vendo a mim mesmo, só que com outra vida.

Pedro é tão carinhoso com a pequena Lorena, e ela, com sua infinita inocência, consegue demonstrar o amor que sente pelo pai.

Das muitas teorias que criamos sobre os planos da Silvia, pensar que ela realmente pretendia fazer algum mal à minha sobrinha, faz com que meu estômago reaja enjoado.

— Ei, será que o tio Paulo pode brincar um pouco com esta tartaruga? — pergunto quando o brinquedo vem parar próximo aos meus pés, depois que Lorena o arremessa.

— Nossa, eu nem vi você chegar! — Pedro a segura pela mão e eles caminham em minha direção.

— Faz alguns minutos, mas vocês estavam muito distraídos para perceber. — Entrego a tartaruga para a menina.

— Tugo...Tugo... — ela sorri e se abraça ao bichinho.

Mesmo sem planejar, respiro aliviado por ela estar em segurança, bem longe daqueles dois criminosos.

— Irmão...Eu nem tenho como agradecer pelo que fez por nós... — Pedro coloca uma das mãos em meu ombro, noto que ele está emocionado.

— Eu já disse que não precisa me agradecer, e mais, sou eu quem tem uma dívida com você. Depois de saber de toda a verdade, não se sentiu traído, ou enganado...Pedro, você confiou em mim sem reservas, embarcou nesse plano, teve coragem de usar sua filha nele.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora