Capítulo 2-Pedro

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Faz mais de oito meses desde que a minha mulher me deixou. Não está sendo nada fácil, mesmo assim eu venho conseguindo me manter em pé. Claro, isso graças à Lorena, se não fosse a minha pequena, eu já teria desistido.

Por bem os pais da Fernanda não se opuseram em deixá-la comigo, eles entendem que eu preciso dela...Mais,muito mais do que ela de mim.

De qualquer maneira, a impressão de nunca estar sendo bom o suficiente, sempre acaba me assombrando e, em dias como hoje, em que a minha pequena amanheceu mal, eu volto a pensar que quem deveria estar aqui, é a Fernanda.

Enquanto a Lorena chora e se contorce, eu corro para a caixa de primeiros socorros e pego um medicamento anti-térmico. Ela está com febre e isso me deixa desesperado.

Com ela em meus braços, aguado alguns minutos e volto a medir sua temperatura. Nada.

Dou alguns telefonemas, preciso avisar os funcionários da academia que eu não tenho hora para chegar. Assim que resolvo essa parte, sigo imediatamente para o hospital São Rafael, onde a pediatra da Lorenna costuma dar plantão.

Por todo o trajeto a minha filha chora em desespero, levando-me a tormenta junto com ela. Estaciono de qualquer jeito e corro até a recepção e, embora para mim seja algo urgente, a secretária me obriga a preencher uma ficha a avisa-me que têm outras duas pacientes antes de mim e ainda me avisa que seremos atendidos por outra pediatra, uma vez que a da Lorenna foi transferida.

Minha vontade é de gritar com ela, mas respiro fundo e me sento, ajeitando a Lorena contra meu peito. Com a mão em sua testa noto que, embora ainda esteja quente demais, parece menos do que quando saíamos de casa. Ela também parece mais calma, as piscadelas estão pesadas e ela trava uma luta contra o sono.

A primeira paciente é chamada e seu atendimento não leva muito tempo, a segunda mulher deixa a recepção segurando a mão do filho, um garotinho com cerca de cinco anos que não parecia doente, por isso imagino que também não será um atendimento demorado.

Estou certo. Em menos de quinze minutos mulher e criança deixam o consultório e ela me avisa que eu já posso entrar. Sem perder tempo, levanto-me enquanto a agradeço e praticamente corro até a sala da pediatra.

A porta está semi-aberta, empurro-a com meu ombro e me deparo com uma mulher, ela está de costas, seu corpo esguio está coberto por um jaleco branco e ela não deve ter mais do que um metro e sessenta de altura. Antes que eu diga qualquer coisa, ela se vira e me encara. Seus olhos são grandes e têm um tom esverdeado, o rosto é jovem e, ainda que eu esteja completamente preocupado, não posso deixar de notar sua beleza.

"Anda, Pedro! Foco no que interessa..."

— Pedro Motta Assunção? — pergunta com a voz doce enquanto estende a mão em minha direção.

— Isso — confirmo, apertando-a. A textura de sua pele delicada se contrasta com a minha. Minhas mãos são cheias de calos...Culpa da academia. — A pediatra vai demorar? — Olho para os lados, pois a sua beleza está me tirando a concentração.

— Prazer... Dra. Mariana Sanchez, a pediatra — diz. Seu rosto está sério, mesmo assim eu desconfio.

— Tem certeza? — Aponto o dedo em sua direção. — Você tem idade para isso? —Deixo escapar o primeiro pensamento que me ocorre.

Ela me lança um olhar maroto, sem dizer nada vai até a sua mesa, pega algo e volta para perto de mim.

— Acho que isso deve bastar. — Entrega-me um crachá, ou melhor, seu crachá, com fotografia, número de CRM, e eu fico sem saber aonde enfiar a minha cara.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora