A decisão de começar a namorar a Silvia se mostra a cada dia, mais uma grande burrada feita por mim. Isso o que ela diz ser amor, vem se revelando uma obsessão, algo quase que doentio.
Nas primeiras semanas eu cheguei a acreditar que havia feito o mais certo, mesmo não conseguindo deixar de pensar na Mariana, no entanto, a Silvia disse que respeitaria meu tempo, e o principal, ela tratava a Lorena com tanta dedicação que eu acabei me comovendo.
Não durou muito.
Logo ela começou a falar em casamento, e isso no sentido literal da coisa. Vestido, festa , buffet... Eu queria ir com calma, até porque, meu foco agora é o processo judicial que está em curso e, apesar do fato de que um casamento pode contar pontos positivos para mim, eu preciso saber aonde estou pisando e devo admitir, tenho me preocupado muito com isso.
Ultimamente a Silvia vem acabando por me assustar com suas mudanças de temperamento. Sua doçura se esvai instantaneamente quando é contrariada e suas crises de ciúmes estão se intensificando, até mesmo a atenção que dou à Lorena parece que ela quer disputar.
Ainda bem que não contei a ela sobre o meu "quase relacionamento" com a pediatra da minha filha, do contrário, certamente ela me proibiria de ir a uma consulta, além disso, a Mariana continua treinando na minha academia, fato que confunde ainda mais meus sentimentos.
Eu penso nela o tempo inteiro, todos os dias espero ansioso por sua chegada, e observo escondido enquanto ela faz seus exercícios. Parece que está ainda mais bonita, e eu nem vejo o tempo passar enquanto ela está lá, isso só muda quando ela treina com aquele médico, e isso vem acontecendo cada vez com mais frequência.
Sei que deveria ficar na minha, mas algo dentro de mim grita para que eu faça o contrário e, unindo o útil ao agradável, marco uma consulta de emergência para a Lorena, seus dentinhos estão nascendo e ela anda bastante irritada, além disso, teve febre na noite passada.
Por qual razão eu quero encontrá-la a sós?
Eu também não sei, só que a saudade daqueles olhos verdes e do sorriso calmo que só ela tem está me matando, e mesmo sabendo que ela nunca mais será minha, acabo, como sempre, agindo sem muito pensar.
A Silvia tem um desfile fora da cidade e para minha sorte, passará o fim de semana inteiro trabalhando.
*****
Como se me aprontasse para um encontro, visto minhas melhores roupas, uso o meu perfume preferido e arrumo a Lorena como uma boneca.
Chego quase meia hora adiantado, estou nervoso, já bebi ao menos meio litro de água enquanto espero para ser atendido e, quando o nome da minha filha é anunciado, parece que eu participei de uma partida de futebol jogando todos os noventa minutos. Meu coração bate com força e minhas mãos suam.
— Bom dia, Pedro. — Mariana cumprimenta-me sem me olhar. — Oi, Lorena. Como está a bebê mais linda do mundo? — Ela estica os braços na direção da pequenina e minha filha, sem reservas e diferente de como age ultimamente com Silvia, salta para o colo dela, rindo como se estivesse feliz em revê-la.
— Os dentinhos ... Acho que estão nascendo... — Começo a falar, já me sentindo um idiota.
— Ela tem apresentado febre? — a pediatra indaga-me seca.
— Baixa — respondo depois de um pigarro. — Mas eu já aprendi, e o banho tem resolvido, só que ela está manhosa, anda chorando por tudo.
Ela finalmente me encara, a mágoa estampada em seus olhos acaba comigo, e nesse momento eu tenho vontade de abraçá-la.
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Era para ser assim
Roman d'amourPedro Motta Assunção é um homem que teve uma infância difícil, marcada por traumas e rejeições. Quando acredita ter encontrado a felicidade, uma tragédia marca sua vida e o coloca dentro de um grande desafio: criar sua filha recém-nascida, sozinho...