Mais um dia em que a maldita pediatra sobrevive...Mais um dia em que eu estou sem o Pedro.
Odeio esperar, odeio depender do destino, por isso eu preciso agir, a Mariana tem que morrer e só uma pessoa pode me ajudar com isso.
— Laércio, eu preciso da sua colaboração. De novo — digo, assim que ele atende a minha ligação.
— Docinho... Que saudades eu estava de você! — Ele parece gostar de me irritar.
— Não faz nem uma semana desde o nosso último encontro — rebato.
Ele ri, e eu sou capaz de imaginar a expressão em seu rosto.
— Para mim, isso é muito tempo...Mas me diga, qual o servicinho agora?
— A garota do hospital, a que você deu um jeitinho no freio do carro...Então, ela sobreviveu ao acidente. — Suspiro, enquanto ando de um lado para o outro do quarto aonde estou. — Já faz cinco dias que ela está internada e, apesar de estar muito mal, ela continua viva.
— Eu falei para você, essa coisa de acidente é muito incerta... — Seu tom é de superioridade.
— Agora já foi! — Explodo. — Vai me ajuda ou não vai?
Ele bufa fazendo o telefone chiar.
— E eu consigo negar alguma coisa para você, docinho? — Ri com sarcasmo. — Só que isso vai custar um pouco mais que as outras vezes...
Engulo em seco, só de imaginar ele me tocando novamente e meu corpo reage em negação.
— Laércio, você sabe que o Pedro tem uma filha...Uma menininha linda, mas que é uma pedra no meu sapato... O que acha de tê-la como pagamento? — Exponho a ideia que acaba de passar pela minha cabeça, sei que homens como ele enlouquecem com uma oportunidade dessas.
Ele fica em silêncio por um tempo, mas continuo ouvindo o som de sua respiração.
— Está querendo se livrar de mim, docinho? Sim, porque, se eu aceitar essa sua proposta, vou ter que desaparecer daqui.
" Perfeito!", penso.
— Não será a primeira vez, não é? Eu sei que você tem seus esconderijos. — Tento convencê-lo.
— Bem, acho que não será difícil encontrar uma enfermeira que tope fazer o servicinho...Elas ganham tão mal que não será preciso oferecer uma quantia exorbitante por uma medicação errada, ou um aparelho desligado por engano...
Fecho os olhos, sinto-me aliviada por ter sido tão fácil persuadi-lo.
— Isso significa que temos um acordo? — Apenas quero confirmar.
—Vou te ajudar a tirar a tal médica do caminho e em troca eu fico com a filha do Pedro... — Ele se mostra animado. — Mas não pense que vou te esquecer, Silvia, você sempre será o meu docinho.
****
Com uma parte do meu plano resolvida, preciso traçar uma estratégia para que tudo dê certo. Livrando-me do Laércio, só vai restar o Paulo, que apesar de ser peça essencial no meu tabuleiro, chegará o momento em que precisarei descartá-lo e acho que já sei como.
Abro uma das minhas gavetas e pego, sob uma pilha de roupas, a única coisa que consegue me acalmar quando me sinto dessa forma...
Vou ao banheiro e lavo meu nariz, a fim de me livrar de qualquer vestígio do que acabei de fazer. A euforia começa a tomar conta de mim, sentada no chão do meu quarto, traço detalhe por detalhe e consigo arquitetar tudo.
Sem querer perder tempo, telefono para o Paulo e peço para nos encontramos no hotel onde ele esteve hospedado.
À princípio ele coloca empecilhos, diz que está complicado se ausentar do bar e isso acende uma luz de alerta em minha cabeça. Será que o idiota está mesmo levando a sério seu trabalho?
Era só o que me faltava!
Temendo que as coisas comecem a fugir do meu controle, exijo o encontro e, à meia noite, uma hora depois do combinado, o vejo chegando no quarto em que estou.
— Achei que fosse me dar um bolo... — reclamo enquanto me levanto da cama onde me deitei.
Ele tira sua jaqueta e eu posso sentir o cheiro de fritura impregnado em suas roupas.
— Não tem ideia de como aquele lugar está movimentado... — Ele se senta na poltrona, estica as pernas e coloca as mãos atrás da cabeça. — Confesso que nunca vi tanto dinheiro vivo em toda a minha vida.
Puxo o ar, esse assunto é bem providencial.
— E você tem desviado algum...Certo? — Ajoelho-me em sua frente e apoio meus braços em suas coxas.
Paulo move a cabeça de forma negativa.
— Meu irmão não está indo lá, mas aquele cara, o Josias, fica de olho em tudo.
Dou um tapa e sua perna.
— Claro! O Pedro desconfia de você. Mercenário como é, nunca confiaria em um estranho, ainda que tenham o mesmo sangue... — Aproveito para envenená-lo um pouquinho.
Ele encolhe os ombros como se não se importasse.
— Ele está me pagando um bom salário, bem mais do que já ganhei em outros trabalhos. — Continua em sua posição relaxada.
Sinto vontade de estapeá-lo.
— Você pensa mesmo muito pequeno... — Aproximo meu rosto do seu. — Sua sorte foi ter me encontrado, vou ajudá-lo a conseguir uma grana boa e de quebra, dar susto no seu irmãozinho.
Paulo junta as sobrancelhas, parece incomodado.
— Quer que eu o roube? — pergunta sem rodeios.
— Não...Na verdade ele dará essa grana para você... — Coloco o dedo em meus lábios enquanto penso. — Que tal oitocentos mil? Eu sei que não é muito, mas dá para brincar um pouquinho.
Ele arregala os olhos e sua expressão reprova minha fala.
— E por que acha que o Pedro me daria quase um milhão de reais?
Fecho os olhos antes de me levantar.
— Por que você vai sequestrar a filha dele...A sua doce sobrinha Lorena...
— O quê? — Ele também se levanta. — Você ficou maluca?
— Todo gênio já foi confundido com um maluca em algum momento da vida... — Rio. — Quando eu te contar o meu plano, você vai ver que ele é brilhante e, no fim, além de conseguir a grana, você ainda pousará de herói para o seu irmão — minto.
Paulo me encara por alguns instantes, temo que ele não embarque na minha ideia, mas se ele hesitar, vou apelar para a memória de sua santa mãezinha.
— Anda...fala que plano é esse... — Ele volta a sentar-se na poltrona nojenta e rasgada, e eu comemoro internamente, porque noto que ele está mesmo em minhas mãos.
****
Se existe um ser mais repugnante que a Silvia, eu desconheço!
Esse bônus nos deixou sem muitas palavras, só podemos agradecer à todos que estão acompanhando essa história, pedir que continuem votando e comentando e logo estaremos de volta...
Com muito amor,
Biah Gomes e Nana C. Fabreti
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Era para ser assim
RomantikPedro Motta Assunção é um homem que teve uma infância difícil, marcada por traumas e rejeições. Quando acredita ter encontrado a felicidade, uma tragédia marca sua vida e o coloca dentro de um grande desafio: criar sua filha recém-nascida, sozinho...