Observo que Pedro fica estranho ao saber que conheço Ricardo, não penso que seja ciúmes, mas ele parece incomodado, e com razão, o médico, como sempre, me olha como um chocólatra diante de um prato de brigadeiros e eu confesso não gostar muito disso, então, assim como sempre fiz nos hospitais onde trabalhamos juntos, finjo que sou boba e saio pela tangente.
— Bem, como já terminei meu treino, vou indo... — digo, olhando para o Pedro.
— Espera...O que acha de irmos juntos? Podemos tomar um café em algum lugar por aqui... — Ricardo se mostra insistente.
Pedro tem seu rosto transformado, com o maxilar trincado, ele estufa o peito e vira-se para Ricardo.
— Eu não quero atrapalhar, mas preciso saber se vai fechar o pacote. — Tenta sorrir.
Sentindo-me numa baita saia justa, dou alguns passos e também fico de frente para os dois.
— Infelizmente eu tenho que recusar seu pedido, meu dia está muito corrido...Fica para uma próxima — falo sem conseguir encará-lo, meus olhos só conseguem focar no Pedro.
— Vou cobrar, viu?! Mas aí faço questão de um jantar no meu novo apartamento...Eu cozinho para você. — Parece que ele está fazendo de propósito, querendo se mostrar para o dono da academia. — E quanto ao plano, eu até estava em dúvida, mas agora que descobri que a doutora Mariana treina aqui, é claro que vou fechar. — Volta-se para o Pedro.
Vejo-o engolir em seco, faço um gesto com a mão e saio sem dizer mais nada. Volto a respirar quando chego ao estacionamento, mas o ar em meus pulmões dura pouco tempo, assim que entro em meu carro, vejo uma mulher descendo de um táxi.
Esguia, alta e com um ar de arrogância que não me deixa dúvidas...É a louca da Silvia.
"O que essa sirigaita está fazendo na academia do Pedro?", penso, muito irritada e vejo-a cruzando a entrada.
— Doutora Mariana...Eu não acredito que você vai fazer isso... — recrimino a mim mesma, mas não consigo evitar. Desço do meu carro e rente a parede, praticamente rastejo para tentar conseguir ver como o pai de Lorena vai recebê-la.
Ele está no balcão assinando papéis, por certo são os contratos do Ricardo e companhia e demora alguns instantes até que ele perceba que tem uma mulher parada observando-o.
— Silvia!? — Ele se mostra confuso. — O que está fazendo aqui? —pergunta em um tom tão baixo, que eu só entendo porque consigo ler seus lábios.
Ela se inclina no balcão e fica na ponta dos pés, sem muita dificuldade alcança Pedro e deposita nos lábios dele um beijo rápido.
Isso é demais para mim e, embora eu saiba que ele foi surpreendido, não quero ficar para ver como esse encontro vai se desenrolar. Furiosa, cambaleio até o meu carro e saio em disparado.
Ódio define o que sinto enquanto dirijo rumo à minha casa. Penso que sou mesmo uma idiota. Como pude acreditar naquele papinho furado do Pedro?
Está na cara que a história da Silvia e ele tem muito mais capítulos do que Pedro me contou. Passo e repasso a noite em que a conheci e a forma como ela agia com ele, me pareceu muito com uma ex-namorada ciumenta.
Em minha casa, mal falo com meus pais que estão reunidos na sala, subo direto para o banheiro e tomo uma ducha gelada, troco-me sem muita frescura e vou direto para o hospital.
Assim que chego em minha sala, sinto meu celular vibrar, no visor o aviso de uma mensagem dele...Ricardo.
Faço uma careta, no fundo queria que fosse do Pedro. Tudo bem que eu não iria respondê-lo, mesmo assim, gostaria de saber seus planos para mim.
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Era para ser assim
RomansaPedro Motta Assunção é um homem que teve uma infância difícil, marcada por traumas e rejeições. Quando acredita ter encontrado a felicidade, uma tragédia marca sua vida e o coloca dentro de um grande desafio: criar sua filha recém-nascida, sozinho...