Era para ser assim

Capítulo 8- Pedro

Estou sentado na primeira fila, de frente para uma longa passarela, rodeado por pessoas de todos os tipos; a música eletrônica toca enquanto belas mulheres desfilam seus corpos esguios cobertos por roupas esquisitas, roupas as quais eu nem imagino alguém usando-as nas ruas, mesmo assim recebem aplausos acalorados e eu, totalmente leigo, faço o jogo de imitação.

Este lugar não tem nada a ver comigo, sinto-me, literalmente, um estranho no ninho e estou contando os minutos para que a Silvia entre, liberando-me assim dessa sessão torturante.

O mau-humor me consome de tal maneira que não sobra mais nada do Pedro que costumo ser, mas não posso culpar só esta situação, na verdade, se fosse colocar em um ranking, esse desfile estaria em terceiro lugar, antes dele viriam o fato dos meus ex-sogros estarem querendo tirar minha filha de mim, e claro, não menos importante, a doutora Mariana.

Não fosse por ela, eu nem estaria em São Paulo, perdendo o meu tempo com algo que eu nunca me interessei...Desfiles de moda.

Mas que outra opção eu tinha? Depois de pedir um favor tão grande para a Silvia, essa foi a única maneira que encontrei de retribuir. Sem contar que elas está tão feliz por desfilar neste evento, que eu não tive como dizer não.

Ela sabia que este fim de semana eu estaria sem a Lorena, então, nem dava para usar minha filha como desculpa.

É...E saber que meus planos eram completamente diferentes...Eu achava que teria minha primeira noite com a Mariana, estava disposto a pedi-la em namoro, deixar claro que ela era especial e que a queria em minha vida.

Só que ela encontrou alguém melhor do que eu...Aquele médico, apesar de arrogante, tem muito mais a oferecer; Uma família tradicional, uma profissão admirável e certamente um passado bem mais bonito que o de um órfão que foi largado à própria sorte.

Tudo bem que, mesmo achando isso tudo, dói relembrar a cena que vi naquele hospital, noites atrás. As rosas vermelhas, a conversa ao pé do ouvido e aquilo foi o bastante para me fazer entender que pertencemos a mundos muito diferentes.

Por mais que a minha situação financeira seja boa, eu nunca poderei competir com alguém como aquele neurocirurgião.

Não era para ser, penso e isso me traz de volta ao mundo real e bem a tempo. Quando volto a atenção para a passarela, vejo Silvia entrando.

Ela veste um macacão jeans todo estampado, como se fosse pichado com spray preto, ainda, os cabelos estão cobertos por uma peruca loura com franja, além de ter seu rosto pintado com uma maquiagem carregada.

Está bonita, e eu sinto orgulho dela.

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— E então? Eu arrasei ou não arrasei nesse desfile? — ela pergunta assim que nos encontramos na área externa do evento.

— Você estava linda... Eu só ouvi comentários bons a seu respeito — digo a verdade.

Silvia está sem a peruca, mas continua com a mesma maquiagem e escancara um sorriso largo em seus lábios vermelhos.

— Esta noite está sendo perfeita...Não imagina como estou feliz por ter você aqui comigo em um momento tão especial para mim. — Para em minha frente e segura as minhas mãos.

— Fico feliz que esteja feliz. — Sorrio, tentando não transparecer a tristeza que queima em meu peito.

— O pessoal da agência organizou um after em uma das melhores boates da cidade e nós temos entradas vips. — Silvia abre a bolsa e tira de lá um par de pulseiras de papel pink fluorescentes.