Pedro
Depois que soube o que houve entre a Mariana e seus pais, fui tomado por um sentimento de decepção comigo mesmo. Olhar para ela tão vulnerável e saber que sou o culpado por ter sido colocada para fora de sua casa, me fez questionar se sou mesmo o homem certo para ela.
— Eu sinto muito por ter bagunçado a sua vida dessa forma — reclamo e enfio o rosto dentro das minhas mãos antes de voltar a encará-la. — Parece que sempre estrago tudo.. Primeiro a Lorena, agora você...
Ela me olha com as sobrancelhas juntas, seus lábios se juntam num biquinho, parece ter se irritado.
— Está falando besteira. — Cruza os braços. — A culpa não é sua, mas sim dos meus pais que agiram com tamanha ignorância. Claro que estou triste por ter sido expulsa de casa, afinal de contas, por mais que meu plano fosse mesmo me mudar, nem de longe imaginei que seria assim, agora, o que mais me fere, é a motivação, ou melhor, a falta dela.
— Mas se parar para pensar, no fundo eles estão certos; você é uma pediatra com uma carreira promissora, enquanto eu...
— Pedro! — ela me interrompe, colocando a mão sobre meus lábios. — Olha para isso. — Aponta a academia. — Esse lugar é um sucesso, está sempre cheio de gente treinando, sem contar o seu bar, o Mister Beer é um dos lugares mais badalados da cidade. Isso porque eu estou falando apenas do seu campo profissional, se eu for me estender ao seu caráter, tenho ainda mais elogios a tecer.
Ela tem tanta firmeza ao falar e tanto entusiasmo, que acaba me convencendo.
— Bom, se você tem certeza de que me quer em sua vida, não vou discutir, até porque, eu não me imagino sem você — falo, antes de puxá-la para dentro dos meus braços.
— Essa é a única certeza que eu tenho atualmente — ela confirma em meu ouvido e seus olhos vêm de encontro com os meus.
— Então, acho que só nos resta irmos até a nossa casa e levarmos suas malas para lá.
— Nossa casa... — Mariana repete depois de um suspiro. — Acho que vai demorar um pouco até eu me acostumar.
— Não vai. — Seguro sua nuca e trago seu rosto para mais perto do meu. — Eu vou fazer tudo para que se sinta feliz e à vontade lá, inclusive, tem carta branca para mudar e mexer no que quiser...Paredes, móveis, enxovais...
Ela sorri e seus olhos voltam a brilhar.
— Obrigada por ser tão... Tão você... — sussurra, antes de me beijar.
****
Aviso ao Bruno que vou me ausentar um pouco e sigo com a Mariana para a casa que agora é nossa. Subo com as malas até o nosso quarto, o guarda-roupas é amplo tem espaço o bastante para nós dois.
Assim que abro uma das portas, deparo-me com a caixinha de joias que guarda nossas alianças, os planos eram tão diferentes, mas algo em meu coração me diz que não devo esperar para entregá-las à Mariana.
Ela está sentada na beirada da cama, com o olhar perdido, aproximo-me dela e me ajoelho em sua frente.
— Agora que veio para ficar, não quero mais perder tempo, na segunda-feira vou ao cartório para marcar a data do nosso casamento. — Acaricio seu rosto e ela movimenta a cabeça, assentindo. —Eu pretendia te dar isso hoje, mais tarde,na presença dos seus pais, mas como tudo mudou... — Estendo a caixinha para ela.
Mariana a segura e hesita um pouco em abri-la, mas quando o faz, seus olhos cintilam e seus lábios se curam num sorriso que tira o meu fôlego.
— Pedro...Estas alianças são lindas! — A voz está embargada. — Eu amei...Amei... — Curva seu corpo e me abraça com força.
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Era para ser assim
RomansaPedro Motta Assunção é um homem que teve uma infância difícil, marcada por traumas e rejeições. Quando acredita ter encontrado a felicidade, uma tragédia marca sua vida e o coloca dentro de um grande desafio: criar sua filha recém-nascida, sozinho...