Capítulo 01

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  Colocando apenas uma calça moletom, me deito à cama e deixo que meu corpo relaxe lá, em poucos minutos sinto minhas pálpebras pesar e faço o máximo para mantê-las aberta. Ligo à televisão e começo a assistir qualquer coisa, apenas para não dormir.

"— Não! — o barulho do tiro estourou meus tímpanos e apenas assisti o corpo cair.
— Anna! — seguro minha arma e atiro nos dois homens a frente, corro até a menina no chão e seguro seu corpo sentindo seu líquido grosso e vermelho descer minha mão — Dallas! Tommy! — vejo os homens de preto correr para longe de mim e sinto minhas lágrimas — a ambulância! Chamem a ambulância!".

  Acordo no meio da noite ofegante e suado. Olho de um lado para o outro tentando saber onde estou, à televisão passa um programa de culinária e meu quarto está escuro. Sento passando as mãos no meu rosto e suspiro alto, ligo a abajur do móvel ao lado da cama e abro a gaveta para ver que não tem meus remédios ali. Levanto-me caminho até a casa de banho, os malditos pesadelos estão de volta todos com um mesmo objetivo, me atormentar naquele maldito dia. Passo uma água ao rosto e olho meu reflexo, suspiro forte e procuro um remédio para me manter acordado. Acabou! Droga. Esmurro sem pensar o espelho sentindo a dor dos cortes e vendo os cacos caindo sobre o chão e pia. Não quero dormir! Depois de fazer os curativos coloco uma blusa de frio por cima do meu tronco nu colocando o capuz pelos meus cabelos longos.

  São três horas da manhã e estou na rua a andar, tudo menos dormir. Quero uma noite de sono, mas a droga dos pesadelos não me deixa, as cenas estão se repetindo toda vez que fico fora do quarto dela, lá é uma paz tão boa. Caminhando vejo a farmácia vinte quatro horas que tem perto de casa, o que antes o lugar que mais visitava eram bares para comprar bebidas, agora é a farmácia para comprar remédios. Os últimos cinco meses têm sido conturbados, não vejo a hora de amanhecer para dar logo a hora da primeira visita. Entro no ambiente e às duas meninas atrás do balcão me encaram com cara de assustadas, sei que estou horrível, cansado. Pelo semblante da menina loira, pensa que sou um criminoso.
  — Preciso de remédios para ficar acordado — a moça parece não ouvir, fica parada me olhando antes da outra limpar a garganta.
  — Não posso te entregar sem uma receita, senhor — respiro fundo.
  — Vim buscar remédios, noites passadas. Por que agora preciso de uma receita? — a menina se afasta e parece com medo. — Quero apenas os remédios, por favor — passo as mãos no rosto tentando me manter acordado.
  — Não posso ent... Uh! — um grito é solto da sua boca quando minha mão se choca à bancada.
  — Senhor? — vejo um homem a sair de uma porta atrás do balcão. Recomponho-me e vejo que as meninas saem — o que deseja?
  — Preciso de remédios para ficar acordado — me olha fundo nos olhos e vira para trás procurando o remédio.
  — É provável que não durma há dias — pega algumas cartelas e me olha — há três dias ou mais. É melhor remédios para dormir — diz calmo e engulo em seco o encarando e sinto meus nervos ferverem.
  — Não quero dormir esse é o problema — ele balança a cabeça negativamente — são fortes? Tipo, evita sonhos? — digo baixo.
  — Dormirá como uma pedra. Tome apenas um — me entrega a sacolinha — quinze libras — entrego para ele as notas e saio do lugar. Sinto meus músculos doerem e meus olhos pedem para fechar, tenho que manter meu corpo em pé até em casa.

  Assim que chego dentro de casa deixo que meu corpo descanse no sofá enquanto tiro meus sapatos, levanto indo à cozinha me assustando com Mary a por chá em uma xícara.
  — Menino — mas é ela que parece mais assustada — o que aconteceu com você? Parece...
  — Acabado? — me sento vendo ela por chá em uma xícara para mim — não aguento mais Mary, eu... não acabam esses pesadelos, quando não estou dormindo, as cenas se repetem. Por que eu sou assim, por quê? Tão tóxico? Está no meu sangue? — Mary me abraça e sem temer choro em seus ombros, cadê o Harry orgulhoso que não deixava uma lágrima cair? Sinto-me diferente, nunca deixei, nunca, Mary ver uma lágrima minha, mas sinto que agora, ela é a única que tenho, minha mãe, nem sei se a posso chamar assim mais, espero que Cristal venha, irá me ajudar de todas as formas.
  — Você deve se cuidar meu bem, quando ela acordar deve ver aquele mesmo Harry, forte e pronto para qualquer coisa. Esse Harry não está errado, chorar não te faz menos homem! — segura minhas bochechas me fazendo olhar seus olhos — pelo contrário, mostra que é um por não ter medo de sentimentos. Mas se você se render a esse desprezo, a essas lembranças, vão te levar — está certa, mas toda vez que me recordo, é como se toda positividade de tentar estar bem, fosse embora.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora