Capítulo 56

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   Pela manhã quando levanto, Anna já não está na cama, confesso que quase não dormi depois de ontem, depois de suas palavras, pois, a culpa de a ter dado sede de vingança e vontade de matar não saí dos meus ombros, sede de matar aqueles que são sua família ou que ameaçam quem ela ama. Saio do banheiro depois de um banho frio de modo a esquecer tudo o que atormenta meus pensamentos, pois, hoje era o dia que eu e minha família iria para França, o dia em que talvez todo o ódio e a vingança que ainda tem em mim, fosse embora com os corpos daqueles que me tiraram a paz, tiraram minha família e tudo de mim e sei que se continuar com ele, eles destruirão Anna e meu filho, por não ter mais um pai e um marido ao lado. Farei isso por eles e por mim. Ao sair na varanda para ver o dia minha atenção vai para Anna e Henry que estão fazendo alguma atividade diferenciada, a risada da garota estronda todo o quintal enquanto o rapaz não sabe o que faz. Desço as escadas em direção a cozinha percebendo que todos sentados tem um silêncio diferente, algo raro de se ver.
   — Preparado para hoje? — enquanto ponho a minha xícara de café encarando o dono da pergunta, a minha postura fica reta enquanto suspiro.
   — Na verdade, não, desde que o meu último plano, que tinha tudo para estamos em paz agora, falhou. Não sei o que nos espera, pode dar tudo certo, pode dar tudo errado, seus filhos podem nunca mais os ver. Posso nunca poder ver o meu. No entanto, se não demos nossas almas por isso, elas serão tiradas de graça. Eu não quero ter que viver mais escondido, não quero realmente seguir os passos de meu pai até parar onde ele parou — encaro a todos — em um caixão! Então se isso trará nossa paz, e vocês continuaram o trabalho de vocês normalmente, não custará puxar o gatilho para mais alguém. Nunca nos sentimos mal em fazer isso, não vai ser agora matando um inimigo. — Saio da presença de todos caminhando para fora, vendo Anna frente à frente com Henry, veste roupas de academia enquanto uma música passa, dança e tenta fazer o rapaz dançar.
   — Vamos lá! Me siga! — vejo que ri do menino perdido — consegue fazer musculação por duas horas e está sentindo dor por um simples rebolado, vamos força Henry — dá uma tapa em seu braço, o olhar do rapaz vem a mim como se me pedisse socorro e só consigo apreciar a diversão da menina, talvez seja a última que verei, se eu fosse o Harry de nove meses atrás estaria matando Henry por rir com a mulher que amo, mas tenho provas suficientes que não me trocaria por nada. Viro as costas em caminho para o escritório, fecharei tudo o que tenho na empresa por próximas duas semanas. Deixarei um testamento sobre tudo o que tenho para o nome de Anna, está tudo preparado caso tudo ocorra de outro modo a não ser o que penso.

 Enquanto mexo nos últimos papéis para deixar tudo organizado um papel cai ao chão. Suspiro sentado na poltrona, dedilho minhas tâmporas afim de descansar minha visão.
   — Aqui — ouço a voz da menina quando acha o envelope e me entrega.
   — Obrigado — veste um vestido preto acima dos seus joelhos, está descalça e seus cabelos molhados, tem um leve vermelho nas bochechas enquanto se senta na poltrona a minha frente. Abrindo o envelope vejo que se trata da carta que recebi dos franceses a alguns meses. Meus pêsames. Deve se por isso que tantos homens estão aos redores da casa, sabem que Anna não está morta, o que mais podem saber?
   — Para que você tem uma espada, se quase sempre usa sua arma? — encaro a arma branca perto da cortina, aquilo tem mais história que nós.
   — Assim como essa arma — tiro da minha gaveta o revólver que Débora me deu quando esteve comigo — aquela espada tem uma história boa.
   — Me conte então — me sento a poltrona a sua frente pondo um pouco de uísque para mim.
   — Já ouviu falar dos Peaky Blinders? — a mesma tem suas sobrancelhas franzidas.
   — Minha mãe me contou as histórias, mas nunca foi tão a fundo.
   — Eram conhecidos na época deles por matar com lâminas na ponta de suas boinas e apostar em cavalos. Claro, por ser uma das gangues mais temidas de Birmingham. Assim como eram conhecidos por suas lâminas, meu bisavô era conhecido pela aquela espada — encaro o objeto o segurando, ouvindo a lâmina quando tiro da bainha encaro meu reflexo ali enquanto me lembro do que meu pai me falava — se essa espada falasse, choraria por cada alma que foi tirada através dela — Anna me olha atenta enquanto lhe entrego a arma, encara bem cada detalhe e desenho que tem — foi passada a meu avô e logo a meu pai. Todavia, o mesmo nunca usou, não sabia nem de longe manusear isso — sorri lembrando de cada vez que tentou seguir o caminho do meu avô.
   — Você sabe a usar? — tem um ar brincalhão na sua pergunta e não deixo de degustar sua diversão com minha bebida.
   — Vamos dizer que sou melhor que Túlio. — Demos uma risada — mas prefiro as armas. Sempre fui fascinado por elas — encaro como segurou ao revólver a olhar os seus detalhes também. A mesma sorri pequeno e me entrega.
   — É como meu arco e flecha. Penso que nunca será tão rápido quando um tiro.
   — Mas matará mais rápido que um — ficamos em silêncio por um longo minuto, enquanto bebo minha bebida, Anna parece viajar pra longe daqui, pensa em algo e confesso minha curiosidade em saber, no entanto, não pergunto.
   — Suas malas estão arrumadas? — a mesma sai do seu transe e me encara, um longo suspiro é solto de sua boca e a mesma balança sua cabeça em confirmação.
   — Tenho mesmo que ficar no hotel?
   — Sim, não quero ter que ver você tomar outro tiro, ainda mais com meu filho aí dentro. — Vejo como desenha um sorriso em seus lábios.
   — Se for um menino, qual seria o nome? — meus olhos se arregalam em surpresa, pois, eu ainda não tinha pensado nisso, tínhamos oito meses para decidir algo assim. Nem tão cedo eu saberia.
   — Não está muito cedo para pensamos? — me levanto estendendo minha mão para que segura, a mesma o faz e saímos do escritório andando pela sala até a escada.
   — Está sim, mas me sinto tão ansiosa para o ver — olho para ela — será parecido com quem?
   — Com certeza comigo, será um galã ou uma donzela — pisco para ela.

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