Capítulo 39

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   Hoje levarei Anna a um galpão onde meu pai me levava para treinar, estou sozinho na cozinha a tomar um chá e ler jornal, ouço passos a se aproximar e olho para minha irmã.
  — Tenho uma pergunta — começa.
  — Bom dia Cristal, como você está? — ouço um suspiro da sua parte.
  — Confia em Úrsula? — sorri para minha irmã enquanto engulo o chá.
  — Não — seus olhos se arregalam.
  — E como deixa ela e Anna juntas naquele apartamento, Anna acabou de acordar! E se ela quiser fazer alguma coisa para ela? Não tem medo de perde-la novamente?
  — Não tem como saber se devo ou não confiar, se ela não me demostrar que é digna da minha confiança — me levanto dobrando o jornal — se ela tentar algo a Anna, saberei que não devo confiar.
   — E sobre elas ficarem longe de nós? — Cris me segue quando saio da cozinha.
  — Estão seguras lá, se eu tivesse feito isso antes como pensado, Anna não tinha ficado naquela maca — me viro para minha irmã — na verdade, estou pensando se realmente as deixo lá, ou trago para cá — respiro fundo — Suzana começou a treinar Úrsula para o trabalho, dividirão os afazeres da empresa.
   — Mas Ursula sabe do seu trabalho sujo? — seguro na maçaneta.
   — Ela trabalhava no meu clube, com certeza ouviu e viu coisas que me faria uma inimiga — saio deixando-a sozinha.

   É claro que me preocupo com o fato que minha Anna está sozinha com uma mulher desconhecida, mas sei que ela não é boba e nem indefesa, vai saber se defender até chamar um dos seguranças, tem tantos homens em volta daquele apartamento que se algo acontecer com ela, eu mesmo os mato.

*


Observo ela a mexer na arma, confesso que acordou com uma sede grande, eu ainda não sei de quê, mas está determinada a ser uma de mim, não sei se me sinto bem com isso, não quero que entre nessa vida, na verdade, ela nasceu nisso, mas não quero que enxergue isso como o Harry de dezesseis anos enxergava, uma maravilha! Não! Sei como é e eu mesmo quero sair, mas é meu destino e talvez seja nosso.
  — Você foi ótima! — a mesma me devolve a pistola e sorri.
  — Estou tentando me esforçar — a agarro para mim.
  — Um grande esforço — nos olhamos e acabo por lembrar de a anunciar sobre nossa viagem. — Me lembro muito bem, antes da desgraça acont...
  — Depois um milagre — me interrompe, e reviro os olhos sorrindo para ela.
  — Você me disse que queria ir a Paris — a mesma tem um olhar emotivo, como se a levasse à lembrar de algo passado, não sei se a notícia é boa ou ruim, mas logo seu sorriso surge. — Estou tirando uns dias da empresa, fiz viagens cansativas de desfiles e reuniões, aceita me acompanhar? — me olha tão séria, às vezes penso que a Anna que está aqui não é a mesma que deixei levar um tiro, parece tão mudada e tão natural.
  — Mas é claro — me puxa para um beijo — estou aonde você está — suas mãos transmitindo nas minhas bochechas um calor intenso que me fez fechar os olhos — e farei de tudo, para não só ser alguém sem utilidade — sem tempo de retrucar o que acabou de dizer, suspiro. Vou atrás da mesma que está trocando de roupa, ponho as mãos nos bolsos da calça marrom que uso e vejo que já veste um vestido azul claro. Anda a minha frente em direção do carro, ainda é a minha pequena Anna, com uma determinação de uma grande mulher. Uma determinação em que?

  No apartamento, falo com Úrsula sobre os papéis, a mesma está feliz e eu também pelo seu trabalho. Espero Anna com suas malas para irmos a Paris, Úrsula se retira assim que a menina desceu.
  — Pegou tudo que precisa? — concorda me olhando e deposito um beijo a sua testa — me espere no hall. — Henry a acompanha e espero que Úrsula desça novamente com os papéis que pedi.
  — Aqui está Harry, fiz tudo hoje mesmo quando me disse que iria viajar — me entrega e sorri largo — tenha uma boa viagem — sorri para mim, da para ver o quão grata é por mim ter a tirado daquele lugar, é meu clube, mas um lugar sujo, parece mais feliz e tem uma boa feição desde que a conheci, fala com sua mãe duas vezes por semana, ouvi uma vez a conversa das suas e, pude sentir o desprezo que sua mãe tem, mesmo a própria filha a ajudando, me faz lembrar da minha relação com Débora.
  — E eu espero que você aproveite seu novo apartamento — me olha confusa e deixo a chave do, agora seu, apartamento em suas mãos.
  — Mas... não posso, já fez muito por mim — sorri para ela olhando suas mãos.
   — Faria muito mais Úrsula. Estou te dando e não quero ouvir reclamações, é seu — dou um beijo no dorso de sua mão.
  — Obrigada, por tudo — vejo seus olhos marejados e fico confuso — é de emoção. Ninguém nunca fez isso para mim e você mal me conhece.
   — Te trouxe para cá, mesmo trabalhando não é o suficiente para ter um lugar para ficar, nem uso muito esse lugar. Deixaria Anna com você, mas não consigo ficar longe dela.
  — Obrigada mais uma vez — sorri a ela e logo sai do apartamento andando os grandes corredores. Na verdade, pela tarde enquanto Anna treinava pensei bem se deixaria ela com Úrsula assim como Cris comentou, não quero da brecha para perde-la novamente.

    Seguro a cintura da menina que me espera, me selou e logo fomos a caminho do carro para o aeroporto. Anna não perguntou nada e nem se atreveu a falar uma única palavra, já eu, a observo como venho fazendo nos últimos dias depois que acordou. Anna está diferente, mas não era algo tão atormentador, aos poucos se lembrou de cada coisa e conforme ia lembrando, a sua personalidade ficava mais forte, é doce e gentil, a mesma menina que me apaixonei, mas tem algo por trás que não sei decifrar, só sei que é algo tão sombrio, algo que a atormenta, ou que a causa ódio. Me pego a olhar ela quando tenho a oportunidade de ver que pensa, o que é muito frequente, e a olhar me faz pensar no meu pai como nunca imaginei, é como ele quando pensava demais nos negócios ou até mesmo numa reviravolta, mas acontece que ponho na minha cabeça que Anna só está determinada a ser útil, que quer está comigo e mesmo sabendo que é perigoso, irá assumir o lugar de Débora e precisa ser tão útil como ela. A Máfia não é nada fácil, não gosto de pensar nela cuidando dos negócios que eu cuido, prostituição e armamentos, mesmo sendo pesado a mim. Nunca pensei que teria até mesmo nos negócios sujos, uma secretária. Suspiro em derrota com esse pensamento, preciso seriamente de umas férias de tudo isso. Preciso sumir com Annastácia e nunca mais aparecer em nenhum lugar que se lembrem de nós.
  — Harry — a encaro, mas não me olha, observa as ruas bem iluminadas. — Você acha que mudei? — seus olhos encontram os meus — às vezes me sinto tão estranha. — E num turbilhão, é como se me sentisse ruim em falar algo real, coisa que nunca senti. São tantas coisas que aprendi a ser nesses meses e mesmo depois que Anna acordou, é como se eu ainda estivesse a aprender, aprender a ser humano, estou relutante em dizer a ela, o quão diferente os seus atos parecem.
  — Me sinto com emoções e sentimentos diferentes. — Olha suas mãos, como se quer achar algum erro. — Eu tenho vontade de vingança.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora