Capítulo 06

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   Depois do delicioso café, eu e Estevão nos encaminhamos para deixá-lo em casa, o dia será longo e não estou a fim de dividi-lo em dois. Quero passar o máximo de tempo com Cristal, porque está com ela, significa está ocupado e está ocupado significa não está só com minha própria mente, por umas longas horas sem tortura psicológica e emocional, sem drogas para ficar acordado, sem drogas para tentar esquecer.
   — Ei, fará algo hoje à noite? — Estevão me tira dos devaneios. Hoje eu irei visitar Anna, depois de passar uma semana sem a ver apenas recebendo noticias por Helena, mas à tarde eu não poderia fazer isso
   — Apenas verei Anna, por quê? — O encaro quando o semáforo fecha.
   — Tenho um convite para uma festa hoje — tira um papel do bolso — precisa sair um pouco de casa, fará bem — sorriu amigável e seguro o papel.
   — Eu penso — continuo a partida até a porta de sua casa, enquanto no rádio passa Ed Sheeran, observo as ruas enfeitadas para o festival e de longe observo o anúncio de uma palestra que haverá na cidade, Londres é um lugar cheio desse tipo de coisa e confesso que nunca quis participar, talvez porque nunca tive um tempo para mim, de todos os tempos que tirava, nunca era um para mim. Ao mesmo tempo em que penso em um momento para mim penso como me deixa frustrado às vezes essa "paz" que estou sentindo, aliás, uma pessoa como eu, jurada de morte pelo Reino Unido a fora, ter uma paz que estou tendo, confesso que é bom, pareço alguém normal. Estou pensando seriamente em me aposentar do crime, o que o crime trouxe a minha vida? Um monte de desgraças! E o pior de tudo que precisei ter uma perda para saber que essa vida não é o que eu preciso, sei que meu pai não ligaria se abandonasse aquilo que ele começou, aliás, sempre me disse que era além do que o tráfico poderia me proporcionar que tinha um futuro brilhante junto com Cris. Minha irmã tem duas faculdades, trabalha e age como uma pessoa normal, não apoia nada disso, mas também não nega que no seu sangue corre a mesma célula vingativa que corre no meu, ela foi treinada como fui, não tanto como eu, por ser o herdeiro desse Império de crimes, por nosso pai não acreditar na capacidade da menina de liderar isso, Cristal é tão forte quanto eu, mas quem sou eu para dizer algo quando sua opinião foi a mesma de Túlio?
   — Entregue senhor — Estevão solta um longo suspiro.
   — Pensa no convite — a porta é aberta — a propósito — se abaixa ao vidro quando a porta se fecha — Claire estará lá e uma par de amigos do ensino médio — dá um sorriso sem dentes e uma piscadela a mim. Engulo em seco pressionando meu maxilar, acho que não estou preparado para ver os "amigos" do ensino médio. Ligo o motor pronto para voltar ao meu dia atarefado de coisas.

   Quando chego a casa, Cristal está a falar no telefone alegre. Passo pela mesma que não me vê pronto para subir as escadas e me prender no quarto por alguns minutos.
   — Ei bonitão! Vá se trocar e já saímos! Vinte minutos — ouço no meio da escada seu grito da sala de estar, sorri comigo mesmo, pois sem ela volto ao vazio, ao mesmo vazio depois de Emma e antes de Anna. Caminho entre os corredores passando pelo quarto das punições indo para o último do corredor. Abro a porta para ver que estava intacto, o quarto de Emma. Faz um ano e meio que não entro aqui, percebo que a metade desse quartos já tiveram donas, mas apenas um deles faz um grande efeito em mim, pela história por trás. Por mais que não seja o de Emma, por mais que não a amara tanto como amo Anna, ainda sim foi alguém que deixou algo. Sento à cama e abro o móvel para ver a foto que guardava minha, percebo que agora sinto o que ela sentia o que ela sempre me dizia, algo que conhecia, mas não queria admitir. O vazio! Um dos piores sentimentos, prefiro ser torturado a sentir isso novamente, ainda mais isso vindo de consequências minhas. Levanto da cama girando entre meus calcanhares em direção à porta, quando saio do quarto me deparo com Cristal.
   — Disse vinte minutos Harry — caminha até mim autoritária e para com a mão na cintura. — O que tem lá? — aponta para porta.
   — Apenas mais um quarto vazio sem história alguma — passo pela mesma — desço em cinco minutos — viro o corredor não olhando pra trás para ver a garota baixa. Entro no meu quarto e ainda consigo sentir a colônia de mais cedo, tiro todos meus pertences dos meus bolsos e junto aquele bilhete, talvez não seja tão ruim à noite. Seguro numa blusa de frio e apenas pego minha carteira, é meu dia de folga e não levaria o celular para interromper meu passeio com a miúda no andar debaixo.
    — Vamos — a encontro mexendo em seu telemóvel sobre o sofá, a mesma sobre salta do seu conforto e sorri para mim. — O que quer fazer primeiro? — digo abrindo a porta.
   — Cinema, soube que vai estar um filme novo em cartaz — essa sua alegria e o jeito de me tratar, me lembrava de Anna, Cristal é minha irmã me trata como tal, mas seu jeito meigo e carinhoso lembra as atitudes de Annastácia.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora