Capítulo 10

1.8K 145 23
                                    

    Assim que entro em casa, meus nervos estão à flor da pele, não deixo de depositar minha raiva nas paredes e quando percebo jogo copos ao chão e garrafas de bebidas.
   — Idiota — puxo meus cabelos e jogo tudo ao chão, vejo que à porta do quarto é aberta, acabo por cortar minha mão e sinto que mãos pequenas as seguram.
   — Harry se acalma! — Cristal segura meus pulsos impedindo que quebre mais um dos copos que havia no quarto.
   — Perdi tudo! A droga da minha vida! Meu pai! Minha família! Meus amigos! Minha dignidade! Tudo! Como quer quê eu fique calmo, sendo que as únicas coisas que tenho correm perigo? A única coisa que tenho está na porra de uma maca por minha culpa! Você está em perigo! E por minha culpa, perdi minha mãe! — Estou com raiva por tudo, quero apenas descontar no mundo. Tirar a droga dessa dor. Jogar a culpa para fora.
   — Deve entender que não foi sua culpa nada disso — segura meu rosto — Harry se acalma, vai correr tudo bem, Anna vai  acordar e você não vai me perder, não foi sua culpa mamãe ter ido, ela escolheu isso. — Choro, quero apenas chorar, desabar em seus braços. Não ligo, não ligo se estou sendo fraco na sua frente, a única pessoa nesse mundo que me conhece, é Cristal.

~*~

   Acabando com mais uma garrafa de bebida, estou jogado encima da cama a olhar o noticiário, na qual diziam sobre a festa de horas antes. São quatro da manhã, minha irmã dorme ao meu lado e só quero me afogar nas magoas.
   — Não sei, ele é estranho — uma loira dizia — de um dia para noite se transformou em um homem problemático. Ele é louco! — deixo que o líquido entre pela minha garganta, queimando tudo que há por dentro.
   — Há mais de cinco meses, Harry Van Vitsky começou uma série de negociações na sua empresa e do dia para noite cancelou tudo, o que antes era prosperidade agora é um nada? Será que Vitsky esconde algo de nós? Dizem que está passando algo difícil da sua vida.
   — Não sabem de nada! — as palavras saem com ódio, quase posso sentir o sentimento criando forças. Cheiro mais uma carreira e relaxo, não ouço mais a voz do repórter, tudo parece em silêncio, começo a me recordar por quê escolhi uma casa tão longe de tudo e todos, grande demais para mim, mas no lugar perfeito. O silêncio, a paz, apenas as folhas de árvores se chocando no forte frio, é nisso que me concentro, ouço as folhas, as cores, a televisão, um vermelho e um azul misturado, o som das folhas lá fora.
   — Que droga é essa? — meus olhos se distanciam da luz azul e vão à porta — cancelou suas entrevistas e trabalhos da empresa, por minha causa? — Anna fala — não acredito.
   — Agora você está me vendo — olhando a garota à minha frente com braços cruzados e furiosa. Olha para mim como se pedisse explicação enquanto estou debruçado sobre os lençóis — de um jeito que nunca pensou ver
   — De que jeito? — diz autoritária.
   — Assim tão desprezível e tão sujo — virou sua cabeça para o lado.
   — Você se orgulha do que está vendo? De quem se tornou?
   — Se eu me orgulho de mim? Não deveria estar aqui, é só o que penso.
   — Não estaria se quisesse.
   — Se eu fosse esse Harry de agora, antes, com certeza não estaria numa maca — a mesma fica quieta.
   — Você não prever o futuro, se soubesse que estaria aqui hoje, com os cabelos longos, barba por fazer e deixando uma das suas mais raras joias a cair em falência, o que mudaria?
   — Se eu soubesse de tudo que poderia está acontecendo no futuro, não seria aquele Harry orgulhoso que achava que ninguém nunca o ultrapassaria que pensava ser dono do mundo. Poderia ser um Harry a acabar a faculdade e ser um cara normal, um Harry que só queria esquecer o seu passado, não querer se vingar dele continuando a caminhada de seu pai.
   — O Harry que eu conheço estaria agora na mesa com dez homens a ganhar negociações. Não a beber enquanto lamenta. Eu dei minha vida Harry, por você. Para te encontra ai? — aponta para mim — então quer dizer que se estivesse morta, você estaria se lamentando? Não quero te ver assim, dei minha vida para ver o Harry que eu sempre acreditei dá a volta por cima.
   — Por que você está aqui me falando isso? Você é só mais uma alucinação. Anna esta praticamente morta.
   — Não sabe disso! — diz quase de imediato.
   — Dorme há cinco meses, acha que tem esperanças em acordar? — eu não sabia o que saia da minha boca, só estava com raiva e cansado.
   — Não sou quem estou lá todo dia depois do trabalho para contar a ela como é difícil aguentar cada reunião mantendo a cabeça no lugar — sumindo, me deixa com aquelas palavras, ainda tinha esperanças de vê-la abrir os olhos, mesmo negando a mim não poderia negar ao meu coração.
   — Você me aparece agora depois de cinco fodidos meses, cinco Anna você acha que para mim está sendo fácil lidar com isso? Acredite para mim não esta sendo como achei que seria. E você... você — me levanto por algum motivo e ando em direção ao nada e do nada, surge ela. Não consegui chegar tão perto daquela coisa que tinha o jeito da Annastácia sem derramar uma lágrima, porque não tinha como não dizer que era ela, tropeçando em meus pés tento continuar o percurso.
   — Vai ficar jogado numa cama a beber essas porcarias — aponta para as bebidas no móvel ao lado da cama, olho para lá, e me vejo paralisado, com a garrafa na mão e o nariz sujo. O que... — dei minha vida por você e por algum motivo estou naquela cama e é assim que fica? Quero acordar e encontra-lo vivo, não abaixo de sete palmos como minha mãe. Harry, onde você está? O Harry que eu conheço, seguiria em frente mesmo doendo, me contou seus planos para a empresa naquele dia, já os elaborou ou abandonou o grande projeto da sua vida? Quero que pegue aquela porra de mala no seu closet faça, ligue para seus contatos seja o que for esse caralho todo. Mas aceite, vá, assine contratos, organize reuniões, seja o Harry frio e sem sentimentos que eles conhecem. Mas esteja aqui quando eu acordar — Sumiu! Simplesmente, sumiu!

 Será que ele está ficando louco? Vote e comente por favor.

Obrigada ❤️

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora