Capítulo 12

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   Hoje é outro dia, ontem na casa de Débora foi um sufoco e precisava vir ver Anna hoje. Estaciono o carro em uma vaga no estacionamento do hospital, enquanto ouço a voz de Suzana me dizer todos os horários das reuniões que havia remarcado com parcerias e empresas estrangeiras, também dizia sobre todas as viagens que teria que fazer. Assim como Anna disse, teria que abandonar um pouco a minha culpa, ainda sou Harry Van Vitsky, mesmo doendo, ainda sou eu. Seguro dois buquês de flores enquanto subo o elevador para o quarto de Anna e quando a porta se abre, me bato de cara com Helena que estava prestes a descer.
  — Olha quem encontrei — sorri largo para ela que também sorriu — isso é para você — lhe entrego.
  — Está de bom humor? Muito obrigada! Ocorreram bem as reuniões?
  — Ainda acontecerão — sorri a ela vendo que trouxe sua filha que caminhava ao encontro de sua mãe. — Olá pequena, essa é sua — tiro uma rosa amarela do buquê que seguro entregando para a menina que sorri.
  — Obrigada — diz e me despeço das duas, indo em direção ao quarto de Anna. Cristal está a minha espera depois que levei suas malas para casa e tentei esquecer Débora e seu companheiro no fim de tarde de ontem, fui à empresa e ela veio ficar com Anna e me dá novas notícias antes que eu tivesse um treco de tanta ansiedade para saber dela. Diferente de ontem, de ter ido ver minha mãe indiretamente, de saber das novas reuniões da empresa que estão por vir, o dia pareceu passar mais rápido hoje, nem parece que estive numa sala cheia de homens e mulheres conversando sobre a empresa.
  — Como foram as reuniões? — Cris diz assim que entro ao quarto, vejo que Helena retirou as antigas flores do jarro e coloco as novas.
  — Ainda irão acontecer — beijo sua testa e me sento ao lado da maca de Anna — como foi o dia?
  — Saí com Estevão e o mesmo me trouxe para cá logo depois — me olha nos olhos — fomos ao shopping com suas irmãs, confesso que estava com saudades das garotas. Débora me passou uma mensagem e disse que vai para casa se Tio Mike e que depois que saímos ontem teve uma briga com Jemie — suspira — é bom que vá. Precisa de um tempo a só. Fora isso, por que demorou tanto?
  — Parece que vai haver algum evento na cidade, um show talvez, a organização atrapalhou um pouco — seguro a mão da garota que se mantém intacta.
  — Vou pegar algum lanche — aceno para a mulher à minha frente e vejo que seu corpo se move para a saída.
  — Bom, sei que demorei pra vir falar com você, está sendo muito corrido os últimos dias, os últimos acontecimentos — por um breve minutos os flashes das noites passadas retornam, abano minha cabeça e volto à atenção a ela. — Quando pedi um sinal nunca pensei que seria desta forma. O que quero dizer é que estou surpreso por isso. Irei iniciar as viagens de negócios, queria realmente voltar e ver que está em casa na nossa cama a me esperar. Ficarei algumas semanas fora e isso é mais doloroso do que passar duas semanas aqui e não vier, irei para os Estados Unidos, Nova York, voltarei para a Europa, para França e depois irei vir para casa. Nunca pensei que viajar para mim fosse tão atormentador, mas é assim que me sinto. A imprensa vem me enchendo para falar sobre você, querem montar um motivo para eu ter mudado e desaparecido da mídia, querem por que querem mostrar isso, não venho dando as entrevistas, aliás, minha vida pessoal nunca foi exposta dessa forma para quererem saber sobre você. Só por que nos vimos jun... — meus olhos vão as nossas mãos e sinto seu toque aperta meus dedos, meu coração palpita e olho seus olhos fechados. Ouço a porta abrir e passos no chão.
  — Você está bem? — ouço a voz de Cris e logo em seguida Helena.
  — Harry o que houve? Está pálido — Helena põe a mão em mim para ver se tenho algo.
  — Ela — as duas se olham e me encaram — apertou minha mão — vejo que Helena abre um sorriso e Cristal também.
  — Isso é bom? — dirige a pergunta para a enfermeira ao meu lado que examina algo em Anna.
  — É ótimo! Para alguém que não mexe nenhum músculo por cinco meses, ela pode está a acordar ou até tendo pequenos espasmos. Mas vamos acreditar na primeira hipótese. — Me olha sorrindo — a sua menina está acordando Harry — uma pontada de felicidade me invade e olho Cristal que sorri de ponta a ponta de suas orelhas. Chego próximo do corpo imóvel e acaricio a pele macia do rosto de Anna, sinto as lágrimas nas paredes da minha garganta, mas nenhuma ousou em cair.
  — O amor realmente muda, não é meu irmão? Estaria disposto a tomar um tiro por ela — encaro a garota séria ao meu lado.
  — Assim como ela tomou por mim. — Sua mão pousa no meu ombro.
  — Anna irá acordar logo, logo.

  Eu e minha irmã voltamos para casa a falar sobre o suposto show que ocorreria no centro, ela está alegre por ser uma banda de indie, não sei nem qual era, mas por se tratar do gênero seus olhos brilham. Falamos de comidas e combinamos em viajar junto qualquer dia desses, disse que não iria comigo justamente pelo seu trabalho. Cristal trabalha com roupas e não posso negar seu ótimo talento para desenhos, boas partes das minhas joias saíram da sua cabeça. Quando chegamos a casa fomos aos nossos quartos, eu com uma garrafa de uísque nova que havia comprado. Estou sem sono e talvez o trabalho que tenho que terminar está em um dos afazeres de hoje à noite, tomo minhas pílulas e respiro fundo. Seguro no meu notebook tirando a maldita gravata do meu pescoço jogo para a cama e me sento sobre a secretária do quarto, deixo que o líquido desça por minha garganta queimando. Espero minutos, não sei quantos, mas quando estou prestes a escrever ouço um "psiu", olho para fora para ver apenas os cabelos flutuantes na varanda.

Anna.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora