Capítulo 05

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   — Ela. — Não sei se contaria a ele, mas quero compartilhar o que sinto com alguém — é uma criança — olho nos seus olhos azuis — mas tão madura, tão inocente, sem maldade alguma. — Respiro fundo lembrando da pequena menina — ela me ensinou Estevão que para o amor não existe tempo, não existe o "impossível" porque em meses criamos tudo isso, intimidade e confiança para contar um com o outro, e o amor. A droga do amor, me pego a pensar. Se contasse para alguém no futuro que o amor entre duas pessoas, se criou em meses, nem anos, foi apenas em meses, queria contar como eu, um ser tão frio e sem sentimentos algum, amei alguém oito anos mais nova. Eles iriam acreditar? — encontro seus olhos depois de deixar a visão dos meus dedos.
   — Me conte! — Estevão se ajeita na poltrona — se eu acreditar, por que alguém não acreditaria? Nada é impossível, nem mesmo para o amor — é tão bom falar com Estevão, porque ele não tem esse negócio todo de anotar e depois me dá a resposta, ele simplesmente está aqui, como uma pessoa normal, poderia o pagar, mais ele está aqui, apenas para me ouvir, não parece um psicólogo, é apenas o Estevão disposto a ouvir e de graça.
   — A história é longa e já é de madrugada — olho meu relógio vendo que já são duas da manhã.
   — Está com sono? Cansado?
   — Não quero dormir — suspiro — cansado? Sim — me levanto indo ao banheiro, jogo uma água gelada por meu rosto e volto ao quarto tirando meu blazer jogando para a cama junto à gravata. Sento novamente a poltrona e encaro o rapaz pálido. — Quando fui resgatar Anna, todos pensavam que era um simples negócio e que ela foi minha escolha como recompensa. Mas na verdade, Anna é filha de Franklin, tio de André, resumindo a você dos franceses — Estevão pareceu entender depois de dizer a ele, pois grande parte da minha vida ele sabe, principalmente dos franceses. — Meu sou e mãe os mataram por causa de Anna, a trouxeram com o objetivo de virem atrás de quem pego-a, no caso ela seria entregue a Otto, assim como fiz com o uísque minha mãe fez com ela, entregou a Otto para que matassem ele e sua esposa, porém, nunca souberam onde Anna estava e só descobriram quando ela voltou a mim. A trouxe com o objetivo de cumprir o que prometi para meu pai, cuidar dela como cuidaria de Cristal Acontece que me apaixonei por ela, mesmo sendo errado, não consegui me livrar dela do sentimento que sentia. Eu queria me livrar de Otto.
   — Porque matou seu pai — não era uma pergunta, pois para Estevão o assassino do homem que ele conheceu, era Otto.
   — Não, nunca te contei, porque não queria que soubesse o quão errado era minha família, mas já está grandinho e não é novidade — sorri comigo mesmo — Débora matou meu pai e vi tudo — tem um cenho confuso e frustrado — me disse que matou a mãe de Anna, pois Otto não a queria, tentou matar Anna e muitas outras crueldades — sinto minha lágrimas caírem enquanto não deixo que veja o quão vulnerável estou. Mexo em meus anéis tentando não olhar nos seus olhos. — Acho que falei mais do que falei que falaria, não é? — o olho.
   — Desabafar faz bem — me entrega um pequeno pano amarelinho.
   — Minha família só destruiu a vida de Anna e quando pensei que seria diferente, fui lá e deixei pior. Por minha culpa está jogada na maca daquele hospital.
   — Não se culpe. Fez isso por amor.
   — Por me amar — o interrompendo comecei — não merecia isso Estevão.
   — Ei, isso é a prova de amor mais linda que já vi e sim, acredito que podemos amar alguém em tão poucos dias, estou vendo o quanto a ama e tenho a resposta para a pergunta que pode te atormentar, se você ainda vai lá, é pelo amor que sente por ela. O amor fez isso, está assim por se sentir culpado e se não sentisse não a amaria. Você Harry Vitsky, mudado por uma "criança" — sorriu para mim e se levantou. — Descanse, amanhã falamos, sim? Me leve para casa — sorriu saindo do quarto.

   Está certo, talvez não desistisse de Anna, por amá-la demais, mas Estevão está certo em muitos quesitos, teria que dividir minha dor e minha raiva. Aliás, Anna não gostaria de ver um Harry assim. Dispo minhas restantes peças do corpo indo direito à casa de banho. Hoje estarei em casa e talvez saísse com cristal. Um dia de folga seria bom, descansar realmente depois de dias exaustivos e de meses pesados.

   Quando acordo foi com a luz do sol nas minhas magras pálpebras, com o corpo mole e preguiçoso abraço o travesseiro querendo mais minutos deitado na cama sentindo apenas o calor do sol no quarto, meus olhos aos poucos se abrem para ver a luz amarelada que toma conta do quarto, o sol bate na beirada da cama deixando um quente confortável e preguiçoso, minha mão fica ali tentando sentir a quentura de algo a mais além do sol, não iria, então apenas respiro o ar profundamente sentindo o cheiro familiar do meu perfume distante, no relógio do móvel ao lado da cama marca dez da manhã, hoje o dia é curto, tenho muitas coisas em mente para fazer.

   Assim que desço as escadas, sinto o cheiro maravilhoso do café de Mary. Vou ao meu escritório a procura de Estevão, provavelmente estaria lá, mas não está, então volto para a sala e já ouço a voz de Mary junto com a de Cristal e dele, adentrando a sala aonde vem o falatório, sou recebido com a risada alta de minha irmã.
   — Bom dia senhor! — Estevão me saúda levantando sua xícara de chá.
   — Bom dia — me sento à mesa com eles — por que me deixaram dormir até tarde? — uma boa golada do líquido quente me desperta rapidamente.
   — Pelo simples fato que conseguiu dormir sem seus remédios e parecia um bebê? — Cristal começa e ri-se do seu comentário — hoje iremos passear? Parque? Um cinema? Anna? — come torradas.
   — Coma primeiro, fale depois — corrijo o lado mal educado de minha irmã que revira os olhos, ponho a boca um pedaço de bolo de chocolate e começo. — Primeiro levarei Estevão em casa — vejo todos me olhar incrédulos pela minha ação hipócrita e sorri para eles — o que foi? De quem vocês acham que ela puxou esse lado rebelde? — rimos todos e continuamos o nosso café.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora