Capítulo 26

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   Olhando seriamente para o relógio de pulso estava pensando sobre Anna, ainda dá tempo de fugir da minha própria casa, talvez medo ou simplesmente nojo. Quero ter uma boa relação com minha mãe, pois já perdi tanta coisa na minha vida, e não quero que ela seja uma pessoa a menos, estarei disposto a perdoar, se fosse real o que tem a dizer. Levanto da sala e vou em direção à cozinha, enquanto ponho uma água no fogo para um café, me lembro de Mary. Pego o telemóvel e disco seu número.
   — Menino Harry, está bem? — ouço sua voz e confesso que é muito bom a ouvir.
   — Estou bem Mary, e Dafine? — a mesma solta um longo suspiro.
   — Foi apenas uma dor de barriga por intoxicação alimentar. Doces — a mesma parece frustrada e aceitando o fato de ser criança, sorri com isso — parece que vou ter que tirar os doces dela — ouço sua risada rouca e pude a imaginar sorrindo.
   — Pode ficar com ela até que melhore, vou aí amanhã, sim?
   — Tudo bem menino, se cuide — tomo o café pronto e ouço passos se aproximar. Parece que a conversa que Mike disse que Débora queria ter, já se adiantou com Cris.
   — Café? — sorrio para a mulher pálida e ela abre um grande sorriso, se senta comigo deitando sua cabeça sobre meu ombro, a abraço de lado.
   — Você a perdoaria? — penso muito sobre essa pequena pergunta, então ela falou mesmo com Cristal.
   — Ela foi convincente? — me olhou e torceu os lábios.
   — Muito — pareceu indecisa.
   — O que está te deixando em dúvida?
   — Se é verdade ou se usa sua habilidade de atriz — rimos um pouco e a sirvo café. — Mas se está arrependida e disposta a mudar, é bom para nós dois. — Sim, é bom, mas não confio mais na minha própria mãe e me sinto horrível, por mais que a máfia seja da família há muito tempo, me sinto horrível de afastar Débora, porque por mais que saiba que ela matou meu pai, poderia a perdoar antes, sinto que poderia a unir antes a mim. Mas deixei a raiva me consumir.
   — Irei dormir — parece tão pensativa — vem comigo? — ela sorriu largo.
   — Como nos velhos tempos.
   — Como nos velhos tempos— sorrimos e subimos as escadas rapidamente.

~*~

   No dia seguinte quando acordei, Cristal não estava mais comigo, preguiçoso continuo na cama por uns minutos apreciando a luz fraca do sol a bater no meu rosto, rolo para o lado e me sento na beira da cama, bocejo ao levantar a caminho do banheiro. Tomo um banho lento a pensar no tenso café da manhã, mas o cheiro de panquecas é convidativo.

  No andar de baixo, há três pessoas à mesa, não costumo acordar tão tarde assim há tanto tempo, ainda mais que à noite foi ótima e pareceu como os tempos antigos, quando corria para o quarto de Cris.
   — Bom dia — por que meus olhos se encontram com o de Débora? Por que simplesmente não aceito que ela é minha mãe e devo agir como seu filho apesar de tudo? Mas apesar de querer vencer essa luta toda, apesar de querer encarar. Dou para trás. — Vou visitar Anna.

   No carro suspiro e deito minha cabeça no volante. Covarde! Observo a rua, estou fugindo da minha própria ca...
   — Ficar fugindo de mim não fará eu não ter uma conversa contigo — entrou no carro e sim! Estou fugindo de você! Não quero conversar com você! Não quero ouvir você, mas quero me reconciliar com você.
   — Não estou fugindo de você — não olho nos seus olhos, apenas para o volante à minha frente.
   — Te conheço o bastante para saber que não fugiria de uma conversa — olho nos seus olhos, raiva e tristeza passa por mim.
   — Vá direto ao ponto — olho o relógio — não tenho tempo para súplicas e choros.
   — Sei que eu falhei, como amiga e como mãe, sei que fiz coisas horríveis, tirei coisas de você e de Cristal, não fui mãe, mas apesar dos meus erros me arrependo, porque vi como meu orgulho me afastou dos meus filhos, vi como a minha necessidade de estar sempre no meu posto e não querer que outras pessoas assumam meu lugar, deixou que eu matasse, deixei a raiva tomar conta de mim deixei que o orgulho me tirasse às coisas mais valiosas, para outras sem valor ser postas no lugar. Harry, só não quero mais estar longe de você, de Cristal! Já não vi vocês se tornando adultos, não quero ver vocês passar por coisas tristes e felizes e não fazer parte dessas memórias, não tenho um histórico bom com você, mas quero consertar tudo isso — agora vi que sou totalmente igual ela, em todos os quesitos, em todos os aspectos, em todos os atos e pensamentos. Vi o porquê meu pai falava tanto que a lembrava.
   — Por mais que te perdoe, nunca vou esquecer o que você fez! Porque isso está gravado em mim como uma ferida, posso ter você comigo como minha mãe, mas quando um espelho quebra os cacos não se voltam. Vai demorar em ter uma confiança em você e isso, é o que mais me dói. — Ficamos um bom tempo calados olhando os carros e as pessoas de um lado par só outro. Suas palavras frescas na minha cabeça, procuro algum vacilo nelas, mesmo sabendo que minha mãe, é uma ótima mentirosa.
   — Pode ser insignificante, mas seu pai deixou isso a você, era do seu avô, que foi do avô dele — uma arma — tinha um grande significado para seu pai e ele queria que você passasse isso a seu filho. — Fugindo totalmente do assunto que estamos tomo isso como se aceitou que não irei confiar nela como queria confiar, mas, ao mesmo tempo, seguro a arma, a olho nos olhos e ela tem lágrimas, ainda amava meu pai? Por que o matou? Sai do carro e pude pensar melhor em tudo, nunca vou deixar que meu filho siga a mesma estrada que segui.

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