Capítulo 11

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   Fiquei tantos minutos no chão olhando o lugar vazio, de apenas um olho, senti uma lágrima cair. Passo a mão nos meus cabelos e levanto do chão frio suspirando, desligo a televisão e ouço uma voz baixa e rouca.
  — Harry, falando sozinho novamente? — é Cristal na cama — volta a dormir.
  — Estou indo — limpo a lágrima que escorre pelo meu queixo com o dorso da minha mão, caminho até a casa de banho para uma ducha, preciso tirar o cheiro de bebida de mim. Tento relaxar o máximo que posso no banho, mas todas as palavras que aquele ser disse estão na minha mente. "Seja o Harry frio e sem sentimentos que eles conhecem".

Então eu serei.

~*~

  Pela manhã espero Cristal descer para irmos buscar suas coisas na casa de Débora assim como disse que iríamos. Não me sinto tão nervoso como poderia me sentir, estou apenas ansioso. Veria ela novamente e isso me traz muitas emoções.

  — Pronta — minha irmã passa por mim saindo porta a fora determinada, sei que tem medo assim como tenho. Parece triste ao contrário de mim que só estou sentindo algo como raiva e ansiedade. Quando entramos no carro tudo fica em um repleto silêncio, apenas a música calma do rádio e o barulho do vento passando pelos nossos rostos, é meio de verão, mesmo assim o dia parece um dia de outono. Cristal digita algo no seu smartphone enquanto na minha cabeça há muitas coisas para uma só pessoa pensar. Mês que vem teria mais um comercial e mais um desfile em propaganda das novas joias, as mesmas que Anna desenhou. Tenho cinco reuniões em dois lugares diferentes, fora as parcerias. Só em pensar já estou cansado, mas como eu disse, não ligo pelo que estão falando da minha pessoa na mídia, não devo nada a eles e se as pessoas querem acreditar nas coisas que a mídia está expondo, dane-se.
  — Harry — encaro a garota ao meu lado antes de voltar à atenção na estrada. — Quando disse que Débora tinha algo haver com o coma de Anna, do que se referia? — sabia que as perguntas iriam surgir, era só questão de tempo e tempo é o que temos bastante antes de chegar a casa dela.
  — Antes de vocês chegarem a Los Angeles, havia dito ao tio Mike todos os planos para acabar de vez com Adrovtch e logo depois vocês chegaram. Creio que Mike disse a ela todos os meus planos e ela deve ter falado ao André, pois só havia dois por cento de chances de fracassar. Noventa e oito por cento era nossa vitória Cris — minha irmã sabia dos meus planos infalíveis, somos Vitsky, nossa família sempre foi calculista o bastante, antes de qualquer coisa sabemos dos riscos e benefícios do que iremos fazer, sabia que risco não correria essa pequena missão, mas por conta de alguém, Anna sofreu o impacto.
  — Sei que Débora é capaz de tudo, mas por que faria isso? Essa luta sempre foi nossa, por que se juntaria aos Jones?
  — Eu não sei.

  Quando chegamos a frente ao apartamento onde Débora mora com seu novo namorado, não pude evitar sentir formigamento e nervosismo. Na recepção avisam a ela que Cristal subiria e quando estamos no elevador sinto a mão gélida segurar a minha, olho a miúda ao meu lado enquanto já caminhamos entre os corredores, está tão tensa quanto eu e isso me incomoda, não o fato de estamos com medo, mas o fato de temos medo da nossa própria mãe, Cristal sabe da minha máscara e eu sei da dela, se existissem outros reis e reinos, com certeza diria que somos príncipe e princesa bem treinados para saber lidar com o resto da corte, pois foi isso que Débora e Túlio nos ensinou, ser frios e esconder tudo o que nossa feição pode revelar, somos pessoas bem treinadas para usar uma face sem sentimentos e tê-los consigo no mesmo minuto.

  Paramos em uma porta com o número quarenta e cinco, em poucos minutos parados ali enquanto Cris revira sua bolsa posso reparar no lugar luxuoso, é um prédio grande e rico, corredor largo com papéis de paredes em dourado e vermelho, combinando com o tapete e os beirais das portas. Não poderia esperar menos de minha mãe, sempre gostou de ter mais do que necessita, não a culpo por um momento da minha vida fui assim, é por isso que tenho a casa tão grande, me recuso a ver o quão parecidos somos, pois ao mesmo tempo há um abismo tão grande entre Débora e Harry. A chave rodou a fechadura e quando abrimos ouvi a voz da mulher que me pôs ao mundo.
  — Cris querid... — sua voz calou assim que me viu, seu semblante é indecifrável, não sei se é arrependimento ou ódio, talvez nenhum sentimento, esqueci que para aprender ser quem sou eu tive ela como professor, não sou eu que vou decifrar algo, por mais que já a superei de diversas formas, ainda não tive a habilidade de desvendar o que tem atrás dos olhos, para isso meu conhecimento é limitado, uma simples coisa me aborrece. — Voltou cedo — Cristal a abraçou que não tirou seus olhos de mim.
  — Vim buscar minhas malas mãe — mãe, ainda abraçadas Débora revelou a confusão e a encarou.
  — Malas! Para que malas? — Vejo um homem de cabelos grisalhos, fisionomia forte e alto aparecer. Rapidamente assumo a pessoa que treinei metade da vida todo para ser.
  — Irei passar um tempo com Harry mãe — Cris desaparece pelo corredor, me fazendo ficar apenas com Débora e o tal. Obrigado maninha.
  — Parabéns! — o homem ainda desconhecido para ao seu lado, confuso — pelo companheiro, mãe! — a mesma abre um pequeno sorriso e minhas mãos que estão dentro do bolso fecham em punhos amassado o tecido, pois só talvez, a raiva está se apoderando de mim, quero soltar um monte de coisas a sua cara, porque mesmo querendo todo mal a Anna, ainda queria a ver no hospital. Não, isso não! Queria explicações, saber o porquê, mas me mantive calado.

"Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne".

  Apenas respiro fundo e conto até dez, era apenas um teste e não quero falhar.
  — Jemie, esse é Harry, meu filho — o homem se aproxima a erguer sua mão para mim.
  — Sou grande fã do seu trabalho, ano passado comprei um dos seus colares para minha mãe — seguro em sua mão olhando seus olhos. Não me esqueci do que Cris me disse.
  — Espero que ela tenha gostado — aperto sua mão e sorri. — Se me permite? — ando para o mesmo caminho que Cristal fez e entro para seu quarto. — Como você aguentou aquele cara? Mal olhei para ele senti vontade de esmurra-lo — me sento sobre uma poltrona que há no seu quarto e a encaro, a mesma tem um sorriso bobo no seu rosto enquanto arruma sua mala, vejo que segura um pistola e põe sobre o bolso de sua mochila.
  — Tenho um bom fone de ouvido para nem ouvir a voz dele chatinho — chatinho sorrio pelo apelido que não ouço há muito. Revira seus olhos e cai sobre a cama. — Boa parte do tempo eles viajam e eu fico aqui sozinha, ou vou para casa do tio Mike. — Se senta e me olha — sinto falta de nós — aponta para ela e para mim ao mesmo tempo — lembro muitas das nossas travessuras quando pequenos. Da vez que escondeu os pertences de Mary e Joana. — Sorri com a lembrança da minha irmã e realmente vejo que não andamos a conversar bastante.
  — Arrume logo suas malas que passaremos muito tempos juntos.
  — Não sou Anna, mas posso a substituir por um tempo — sorri — só não iremos fazer coisas — a mesma ri — que nojo! — ambos rimos. Sim, irá tirar minha dor um pouco, mas Cris me mostrou agora que ninguém poderá substituir essa dor melhor que ela mesma.

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