Capítulo 16

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   Depois do banho dei uns últimos reparos nos desenhos que acabara de fazer, deixo a taça de vinho encima do balcão enquanto o prato de comida é posto na máquina de lavar louças. Seguro no meu notebook e subo, a notícia de mais cedo que Anna está reagindo cada vez mais, me fez ficar alegre e inspirado para mais desenhos, quero que esse desfile seja uns dos melhores que já poderia ter acontecido na minha carreira.

  Quando me sento à cama e suspiro pelo cansaço do dia produtivo, me pego a ter pensamentos pessimistas, o que estava bom de mais para acontecer agora e os pensamentos rondam em cerca de: se eu fosse apenas um homem normal a cuidar da empresa e da família, Anna não estaria na maca, mas se fosse um homem normal a trabalhar honestamente, não acharia Anna, pois estaria pouco me fodendo para achar a garota que meus pais deixaram órfã e logo depois a 'venderam'. Mas não posso deixar a possibilidade do pensamento, se eu fosse como Cristal. Totalmente fora da família, mas por dentro ao mesmo tempo, se não fosse essa bomba relógio e se eu amasse Emma, só não sabia disso? Teria sofrido como sofri com Anna? Passando as mãos no meu rosto, deixo todos os pensamentos que me perturbam de lado, apago o abajur e me deito na cama vazia e fria. Deixo que a névoa do sono, me leve a um descanso, só espero que seja mais longo e duradouro possível.

 "Olho de um lado para o outro a procura de algo na imensidão escura, barulho de água caindo em uma poça, procuro onde pode estar caindo, tento seguir o barulho, cada passo meu exige muito esforço e me pego a ficar cansado. — Você mentiu! — levanto meu olhar para ver o vestido — é sua culpa, poderia está viva! — A imagem de Anna à minha frente, dou um passo e estendo minha mão, caindo em seus pés, eu não consigo a tocar, ajoelhado nos seus pés, derramo lágrimas vendo o sangue escorrer por seu pescoço. — Eu estou indo, e não haverá mais uma Anna, eu espero que fique feliz".

   Acordo e olho todo o quarto não consigo respirar, me sento na cama tentando recuperar a minha respiração, levantando acabo por cair, só preciso chegar à minha bolsa. Tossindo vou me arrastando enquanto o ar está se tornando preciso. Com a pequena bombinha na boca puxo o oxigênio respirando tudo o que preciso para abrir meus olhos, vendo tudo embaçado e a escuridão tomar conta do quarto tento processar tudo o que aconteceu em meros segundos de sono e o que fez ter ataque de asma, o pesadelo retornou a minha cabeça e a imagem de Anna ensanguentada foi demais para mim. As lágrimas inundam meu rosto e seguro com força a pequena bomba na minha mão, não deixo de esmurrar a substância de madeira que é a porta, descarregando minha raiva ali, sinto minha mão doer, as lágrimas descem por meu pescoço e sinto necessidade de puxar o ar. Tento me levantar enquanto apoio minha mão sobre a maçaneta.

 "Você mentiu! É sua culpa eu poderia está viva!".

   — Porra! Babaca! Idiota! — jogo para longe as almofadas e os lençóis, os quadros e as garrafas de bebidas vazias. Pego meu celular para ver que são três da manhã, passou pouco menos de meia hora apenas, há uma mensagem de Cristal, mas disco outro número.
   — Estevão! — posso perceber a minha voz, alterada, chorosa e dolorida. — Eu a matei!
   — Quem?! Quem você matou? Harry são três da manhã! — Passo a mão nos meus cabelos e soluços são soltos enquanto vejo minha sombra na parede, ouço a cama do outro lado da ligação.
   — Anna! Foi minha culpa! É-É minha culpa! — ouço seu suspiro e acendo o que está me matando, trago um pouco do cigarro e me sirvo de uísque. — É tão horrível! É como se, ela não vai mais estar aqui! Eu a-a perdi e o sentimento de culpa, o sentimento de culpa é — tento procurar palavras — tão ruim, é tão! — deixo as lágrimas cair, porque a cada palavra é uma lembrança do sonho. — É como se ela se foi para sempre e isso é devastador! Eu não sei se seria capaz de viver sem ela.
  — Harry se acalma, Anna está bem! Está forte, fui a visitar, Helena disse que está reagindo e isso é um ótimo sinal, não é? Não tem para que te esses sentimentos. Toma algo, dorme, relaxa, fique bem.
   — Tudo o que aconteceu, passa por minha cabeça e para mim, nunca fui suficiente para ela, nunca fui presente como deveria. Eu só queria pedir perdão e me preparar — me sinto um puto patético e ridículo, mas não ia negar o que estava sentindo e desabafar com Estevão é uma das melhores coisas, para uma das pessoas com melhores conselhos.
   — Está tendo uma recaída? O que o fez ter isso? — respiro fundo, mesmo que a minha grande vontade fosse chorar, jogo a droga do cigarro para longe e tomo a bebida toda.
   — A droga de um sonho. Na qual ela me culpa — olho um ponto específico, o quadro quebrado no chão. Ouço o suspiro do outro lado e respiro fundo. Saio do quarto que se tornou uma caixa pequena para mim.
   — Só precisa descansar e parar de se culpar, não foi sua culpa. Ela fez isso! E você não foi o culpado.
   — Fez por mim! Para me salvar! — Disse entre dentes — o que faz ser minha culpa!
   — Fez por te amar! Pare de se culpar! Não gostaria que ela se sentisse assim, gostaria? Durma, trabalhe como sempre trabalhou e volte, porque ela precisa de você. — Com os olhos fechados tomo uma inspiração profunda, solto em seguida com toda calma e desisto de ir para a cozinha.
   — Tudo bem, obrigado! — viro em meus calcanhares.
   — Passa bem. — Ouço o bip da ligação e jogo o celular para o sofá, minha cabeça está sobre a parede, um dos meus pés prestes a subir o primeiro degrau da escada e só preciso afastar a droga do maço de cigarros para longe de mim. Subo as escadas sentido o calafrio por estar descalço. Sento-me a cama e acendo o abajur, encaro os cacos de vidro jogados e os quadros aos pedaços, resolvo arrumar isso antes que me machuque. São três e meia e eu não sei se durmo ou sei lá o que posso fazer, só não quero ter pesadelos outra vez.

  Depois que tudo estava arrumado olho meus e-mails, cristal perguntava se estou bem, e antes que fechasse a aba das notificações, vejo a mensagem de Claire. Respiro fundo, pois a questão de "por que ela apareceu agora?" Está na minha mente, mas, ao mesmo tempo, penso que não é nada demais, porque junto a ela, também apareceu pessoas do colegial, e até Estevão dizendo que veríamos amigos antigos. Mas, um lado meu diz que não devo me preocupar, devo me divertir e esquecer um pouco quem me tornei, mas o outro lado, só quer se isolar do mundo e mandar tudo ao ar. Assim deito, com pensamentos que me levam a dormir em minutos. 

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora