Capítulo 22

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   Me afoguei em tudo, naquele momento soube que estava tão vulnerável a qualquer coisa que poderia virar apenas uma garrafa de bebida, mas virei muitas, cheirei um pouco, me senti mal de todas as formas, estava mal, vomitei, chorei e quebrei coisas. Não consigo parar de colocar qualquer tipo de culpa em mim, só quero ter que parar com a dor, só quero deitar e ter uma noite de sono, mas sei que isso não será possível. Então sento, olho para o quarto bagunçado já um pouco sóbrio, no espelho vejo o quão desprezível estou, meu nariz, olhos e lábios estão vermelhos e minha mão cortada por cacos; puxo uma respiração funda e me acalmo aos poucos.
   — Não quero ter que ir! — Ouço sua voz e a procuro pelo quarto. Não vejo Anna, mas sinto que está aqui.
   — Você está me deixando louco. Se já não sou! — olho cada canto atenciosamente, quero ter que a achar, tenho que saber onde ela está e cambaleante rodo no quarto. — Anna! — procuro atrás das cortinas e nada — Anna! — deixo a garrafa no móvel e corro ao closet — Anna! — minha mão vai ao lado da porta e sinto a latejar pelos cortes, me olho no espelho e me ver me deixa ainda mais frustrado.
  — Não quero ir — sinto sua mão me agarrar, mas não é nada gentil, sinto a falta de ar. Tento me livrar, vou de um lado para o outro, derrubando coisas até cair no chão, sinto a dor do impacto e fico, de repente puxo o ar.

~*~

  Acordo com leves empurrões no meu braço e com dores reclamo com a mão na cabeça.
  — Harry — ponho as mãos nos ouvidos e devagar abro meus olhos que se acostuma com a claridade do ambiente.
  — Não grite — olho nos olhos castanhos de Cristal e a mesma se levanta pondo a mão na cintura.
  — Bebeu novamente! — me ajuda a levantar. — Está precisando de um banho, fede a tequila, daqui á uma hora vamos ver Anna, não se esqueça do tio Mike. O que está fazendo consigo? — me joga a cama e reclamo de dores, vejo que o quarto está organizado e sinto vergonha, não queria por Mary a essas situações. — Falou à noite inteira, ouvi seus gritos por Anna do meu quarto Harry! Pesadelos? — permaneço quieto a escutar tudo o que diz. Engolindo tudo do dia anterior lembrando poucas coisas, as poucas que poderiam me machucar muito.
  — São apenas más lembranças me atormentando. — Olho fixamente o espelho vendo a minha figura.
  — Tome um banho relaxante, está precisando e vá ver Anna. Fará bem. — Sorri, vejo minha irmã sair do quarto e suspiro em alívio, tiro minha blusa despindo o resto do meu corpo indo ao banheiro.

  Depois de um banho demorado arrumo meus cabelos, tomo um comprimido que está no móvel ao lado da cama para dor de cabeça e ponho uma roupa leve, está calor e isso é bom. Desço as escadas e Cris conversa ao telefone, adentro a cozinha vendo que Mary não se encontra aqui, mas há comida, tomo apenas um café e pego nas minhas chaves para ir ao hospital.
  — Tio Mike chegará em dias não se esqueça — concordo ao ouvir e saio. Dispenso a guarda de Thomas e Dallas e vou sozinho para o hospital. Estou pensativo das drogas que venho usando, lembro pouco sempre que faço seu uso, isso me recorda a minha adolescência.

  Subindo o elevador com novas flores para o jarro, penso em mil possibilidades de Anna está melhor depois do que ouvi e, ao mesmo tempo, tento me preparar para o pior, sinto minhas mãos soadas, no meu corpo inteiro sinto calafrios, só quero ir logo com tudo isso e descobrir a verdade, para parar com essa ansiedade e nervosismo. Ando para o quarto, assim que entro pude suspirar aliviado e descansar meus ombros, não é Helena que está ao quarto, é uma mulher que nunca vi aqui.
  — Olá! — A morena me saúda e coloco as flores ao jarro.
  — Oi — fico de frente a moça e aperto a sua mão.
  — Annastácia está bem, sua temperatura abaixou e representou bons resultados. O doutor acha que essa mudança de diferentes temperaturas e outros sintomas, seja porque seu corpo está reagindo e vivendo como se ela estivesse consciente. Mas ela passa bem e há mais possibilidades de acordar, 75% de chances agora, só não sabendo se ela irá ter alguma sequela. Mas o resto, ela está bem — sorriu e saiu do quarto. Sentando a poltrona respiro fundo, apenas o silêncio e o barulho dos aparelhos são a minha companhia.
  — Estou virando um alcoólatra incontrolável como meu pai e não quero isso, não quero ter que chegar e beber e beber até cair, não quero te recaídas, não quero ter que tomar remédio, não quero ter que odiar, só queria estar no seu lugar, como deveria estar desde o começo. Tudo isso está me matando e estou aceitando isso, se você morrer, morro junto. Porque não quero aceitar que você está aí e não eu.
  — Então aceite que ela possa ter dado a vida para você continuar a grande e futurística que é a sua. Você é uma pessoa especial Harry. Ela sabia as grandes coisas que você iria fazer, as grandes coisas que está fazendo, você não pode desistir independente do resultado de tudo isso, não pode deixar que o que ela fez seja em vão — olho para Helena na porta, depois para o corpo na maca.
  — Não sei qual o propósito disso tudo, Helena, não sei por que, acredito que tudo que acontece ao nosso redor é para coisas futuras acontecerem, coisas que nem mesmo ainda conhecemos ou sabemos, mas entenderemos quando enxergamos tudo com clareza.
  — Então, sabe que coisas mudaram, foram esclarecidas e que o que ela fez tem propósito?
  — Não. Eu não sei, mas quero descobrir — levanto olhando mais uma vez para Anna.
  — Lembre-se, mesmo ela não estando mais aqui — chego perto da enfermeira — estará aqui — seu dedo vai a minha cabeça — e não saíra daí.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora