Mais de duas estações haviam se passado desde a partida de Yeda, no começo do verão. O outono fora tristonho e o inverno monótono, além de bastante rigoroso, sobretudo para as crianças que sofreram muito com o frio. Há alguns dias tinham recebido uma carta de Yeda - a terceira até então - na qual, uma vez mais, ela os inteirava de que estava muito bem. Por mais que relutasse em admitir, Sesshoumaru precisava aceitar que a ausência da youkai lobo mudara a rotina por ali, e para pior. O grupo perdera sua coesão; não que cada parte houvesse se isolado em sua ala, mas já não se reuniam com a frequência de antes, parecia faltar assunto ou entrosamento. Ele não se importava muito com isso em relação aos outros, mas sentia-se angustiado com o quanto a situação poderia aumentar o desânimo já bem preocupante de Rin.
Sim, ele se preocupava com o fato de vê-la sempre tão calada e quieta nos últimos tempos; nem de longe exibia a disposição e alegria a que estava habituado. Por essa razão resolveu passar aquele dia na mansão e tinha a intenção de levá-la ao mercado para que se distraísse um pouco comprando qualquer coisa. Saiu à varanda de sua ala e farejou o ar, buscando sentir o perfume dela - adorava aquela fragrância. Guiando-se então pelo cheiro, rumou ao jardim na parte de trás da mansão. Lá chegando, encontrou a jovem sentada numa esteira; ela tinha uma tela de pintura sobre as pernas e, a seu lado, uma caixinha de madeira na qual guardava as tintas e os pincéis.
Com um olhar muito atento, ele ficou observando-a a uma meia distância, porém se alarmou ao vê-la enxugar dos olhos uma lágrima solitária antes que essa viesse a estragar a tela em suas pernas. Pensou um pouco e logo compreendeu que a razão de tamanha tristeza só podia estar relacionada à carta de Yeda.
Passados alguns instantes, resolveu se aproximar e o fez de um modo sorrateiro e silencioso. Certo de não ter sido notado, esticou a vista à tela e, ao reconhecer sua figura ali, sorriu levemente - Rin era muito talentosa nas artes; sabia desenhar e escrever muito bem.
– Senhor Sesshoumaru? - ela exclamou ao notá-lo e, rapidamente, tampou o desenho com os braços.
– Tarde demais - ele disse num tom brando.
– Não vi que era o senhor - devolveu, acanhada e com as bochechas coradas.
– Perdoe-me o incomodo então.
– Não é isso! - exclamou alarmada. – O senhor não me incomoda de modo algum...
Ele sorriu, tanto com a resposta como com a maneira singela e meiga com que ela falara. Continuou parado ali, bem ao lado dela, então a viu deixar a tela de lado, ainda sobre a esteira, e guardar o pincel que estivera usando. Depois, ela se colocou de pé e muito respeitosamente fez-lhe uma meia reverência. Não que ele fizesse caso de gestos assim, o fato era que conforme ela crescia e desde que passara a estudar sobre a vida e os costumes dos nobres, adquirira tais hábitos naturalmente. Mas, enfim, seus olhos se encontraram.
Ele gastou alguns instantes contemplando a exuberante beleza daquela jovem, admirado também com o brilho de seus olhos castanhos que, dia após dia, pareciam mais fascinantes. Quebrando o contato visual momentaneamente, ele perguntou num tom bem casual:
– Sente falta de Yeda? - a confirmação dela não foi além de um menear de cabeça, ele continuou: – Mas você sabe que ela está feliz? Não sabe?
– Sei... - falou num murmúrio.
– Certamente, ela ficaria triste se soubesse que anda tão abatida.
Conforme ele imaginara, o comentário a fez enrubescer constrangida outra vez.
– Me desculpe, senhor Sesshoumaru, o senhor tem toda razão...
O tom dela soou tão maduro que até causou um pequeno estranhamento nele. Os anos passavam muito rápido para os humanos e ele ainda não havia se acostumado com isso; para ele ter ressuscitado Rin com Tenseiga parecia um evento tão recente, mas, na realidade, sete anos já haviam se passado. Os primeiros quimonos que lhe dera de presente há muito deixaram de servir. Os cabelos dela estavam crescidos, ela toda estava crescida. Embora uma parte de si continuasse achando que Rin ainda era uma menininha - e claro que ela não passava de uma criança ainda -, a outra já não conseguia permanecer indiferente à mudança física que aqueles poucos anos trouxeram. Assim, num gesto um tanto ousado, ele se aproximou e pousou a mão na face dela.
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As Crônicas de Sesshoumaru
FanfictionUma narrativa da trajetória de vida do Senhor das Terras do Oeste, ao lado de sua querida protegida humana. [SesshyRin - Canon Divergence - Longfic] Tem: Inuyasha x Kagome e Sango x Miroku. Disclaimer: Sesshoumaru e seus personagens pertencem à Rum...