Capítulo 35 - Festa

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Muito longe do vilarejo, no Castelo do Oeste, Satori achava-se em seu aposento, estirada no amplo leito ao centro do cômodo, ao lado do youkai cachorro Amanuma. Vestida com um kimono vistoso, porém com os cabelos soltos, ela tinha a cabeça apoiada na curva do ombro do youkai.

– A essa hora meu filho já deve estar casado.

– Você gostaria de ter estado lá?

– Não...

– Mas esse casamento te deixa feliz ou triste?

– Nem feliz, nem triste. Apenas me sinto um pouco preocupada.

– Por quê?

– Ele insiste em dizer que o amor fez dele mais forte, mas eu temo que a humana possa se tornar o alvo dos inimigos dele e que isso o deixe vulnerável.

– Eu acho que está se preocupando à toa. Ele é um bom guerreiro, saberá lidar com os inimigos.

– O pai dele também era um bom guerreiro e todos sabem o trágico fim que ele teve.

O comentário deixou Amanuma enciumado.

– Você sofreu muito com a morte de Inu no Taishou? - ele perguntou, sem conseguir camuflar seu ciúme.

– Se eu sofri? Como assim? - ela retrucou e ficou sentada no leito.

– Não deve ser fácil perder o companheiro de uma vida.

Satori começou a rir alto, deixando o youkai muito desconcertado. Então, depois de sentar no leito também, ele ficou encarando a regente com um olhar interrogativo.

– Não, meu querido Amanuma, a morte de Inu no Taishou não me trouxe qualquer sofrimento. Eu não o amava e tampouco ele a mim. A humana mãe daquele filho bastardo dele foi a única que ele amou.

– Ele não te amava? Não posso acreditar! Vocês pareciam um casal tão... Perfeito.

– Apenas encenação. Eu sou boa nesse tipo de coisa, não acha?

– Não tem nem como não achar. Estou para conhecer uma youkai mais fingida que você.

Satori sorriu, tomando aquilo por um elogio.

– Mas então como era a relação de vocês? Vocês se odiavam?

– Não chegava a isso. Em público nos portávamos como um casal, mas a sós, éramos como irmãos. No começo, nos entendíamos bem, mas depois que ele se apaixonou por aquela humana foi como se nós trocássemos de papéis. Eu queria expandir o reino, ele apenas manter as fronteiras. Eu queria lutas, ele as evitava. Por isso eu digo que o amor é um sentimento inútil e que só traz infortúnios. E posso defender essa minha visão usando o exemplo de Inu No Taishou mesmo, já que o amor foi a ruína dele. Aquele tolo morreu para salvar aquela humana.

– Está falando sério? - duvidou Amanuma e depois que Satori assentiu, ele ajuntou: – Eu não sabia disso.

– Mas não é nenhum segredo. Pode imaginar então como me sinto de ver meu próprio filho, que eu criei para ser inume ao amor, como eu sou, seguindo pela mesma trilha que o pai? E você ainda tem coragem de me dizer que estou me preocupando a toa.

Não fosse o tom melodramático com que a regente dissera tudo aquilo e o qual denunciava que ela não se importava tanto assim com as circunstâncias, Amanuma teria se sentido mal.

– Tudo bem, agora eu entendi as razões que te fazem ver a coisa dessa forma, mas assim como o seu filho, eu também acredito que o amor nos faz mais fortes.

As Crônicas de SesshoumaruOnde histórias criam vida. Descubra agora