07:45 A.M
Ethan se sobressaltou quando o despertador tocou, ele não estava mais dormindo, mas só de pensar no que lhe esperava dava preguiça de levantar. O quarto estava escuro apesar de já ser de manhã, talvez o fato do tempo lá fora estar horrivelmente nublado tivesse alguma parcela de culpa.
O garoto suspirou exasperado já se lembrando do que lhe aguardava. Naquela manhã nublada e fria seria seu primeiro dia em um novo colégio; mais um para a sua longa lista de colégios caros, com pessoas esnobes que pensavam ser melhores que as outras por terem tido a sorte de nascer em uma família rica, e aquilo, na opinião de Ethan, não era motivo para se gabar, afinal qual era a grande coisa de poder dizer que vinha de uma família com status? Do que adiantava ter tanto dinheiro, mas não ver a cara de seu pai por um mês inteiro por causa do trabalho dele? Ou mesmo poder comprar tudo o que queria e não poder dar a quem queria? Quando tinha certo status na praça, não se podia sequer confiar nas pessoas, o que resultava em uma triste e solitária vida e aquilo era algo que Ethan não queria para si.
Ele se forçou a sair da cama — que era grande demais para apenas uma pessoa — e jogou os lençóis de lado se sentindo exausto, arrastou-se até o banheiro e se encarou no espelho, mas imediatamente se arrependeu de tê-lo feito. Na verdade se arrependia mesmo era de ter feito o que fez na noite passada.
Apenas para fazer raiva a seu pai — que nunca estava em casa, mas se sentia no direito de mandar em sua vida — saiu passando a noite quase toda fora, mesmo sabendo que no outro dia começaria suas aulas. Havia chegado há apenas três horas e dormindo mais ou menos uma hora e meia. Seus cabelos estavam uma bagunça, sua roupa extremamente amassada, com marcas de batom e cheiro de perfume caro que as garotas tinham deixado nele. Pôs as mãos nos olhos e massageou as pálpebras doídas com a ponta dos dedos, suspirando ainda mais exasperado que antes, parecia que recentemente tudo o que ele fazia era suspirar, não importava o quão bom tinha sido sua diversão, logo após ele continuava se sentindo vazio.
Depois de ter certeza de que não tinha mais jeito, Ethan se despiu e ligou o chuveiro; não usou a banheira, pois se o fizesse não sairia dali tão cedo e acabaria perdendo o dia de aula. A água quentinha lhe escorria dos cabelos aos ombros e em seguida para todo o corpo, aquilo lhe acordou um pouco e depois de apenas alguns poucos minutos embaixo da água, teve que sair; fechou os olhos e ergueu a cabeça passando uma toalha por seus quadris. Estava mais magro que antes, agora sentia seus ossos pélvicos mais salientes e talvez fosse todo o estresse que vinha passando.
O garoto realmente queria evitar se encontrar com o pai quando estivesse saindo, o que era pouco provável, já que ele estava trabalhando em casa aquele mês e esse era noventa por cento dos motivos de seus problemas.
Ethan pegou a primeira roupa que achou e vestiu, não estava com disposição e nem via motivos para se preocupar com a aparência, e também não se interessava muito por moda, mas a roupa até que lhe caiu bem, na medida do possível. Sua calça jeans preta não chamava atenção, mas contrastava com a blusa branca de algodão estilo moletom, porém o casaco preto que havia posto por cima a encobria parcialmente e além de lhe proteger daquele frio ridículo que fazia ainda lhe ajudava com a sua camuflagem, já que odiava chamar atenção, finalizando com um coturno marrom e a mochila também preta, que era norma da escola.
Ele arrumou os cabelos, ou pelo menos tentou deixá-los meio normais, já que eles achavam que tinham sua própria vida e continuavam saindo e voando pra onde queriam, então desceu as largas escadas que davam para a sala de visitas e de jantar com cautela para, infelizmente, ver que seus pais já estavam tomando café da manhã ali.
Ethan ainda não tinha se acostumado àquele local, só fazia uma semana que haviam se mudado e era tudo muito novo; não que a casa não fosse tão extravagante como a antiga, mas o ambiente era diferente. Ele respirou fundo tentando juntar coragem e força de vontade para tentar pelo menos ter um diálogo decente com seu pai, um que não acabasse nele saindo furioso enquanto o outro lhe chamava de inútil. Entrou no cômodo indiferente, como se não houvesse aprontado nada na noite passada e também como se seu pai não existisse ali.