24 - Aos Poucos Ele Irá Me Aceitar

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Sexta-feira19:05 da noite

O vento uivante da noite fazia as árvores se agitarem ao longe. O cheiro de chuva que ele trazia era aconchegante, porém trazia também a gélida sensação de um feriado molhado. As aulas da semana haviam chegado ao fim mais cedo naquele dia trazendo a animação e expectativa de um feriado prolongado. O jantar seria servido dentro de alguns minutos e todos — alunos e professores —, já se preparavam para o tão esperado feriado, tornando os arredores do colégio, assim como os dormitórios, movimentados.
      
Willian caminhou até sua mesa, junto à seus colegas do conselho e sentou-se suspirando, sentia como se carregasse o peso do mundo nos ombros, principalmente porque não tinha visto Ethan durante todo aquele dia e logo após uma briga. No outro dia ele havia saído e voltado bem tarde da noite parecendo bastante abalado. Willian se sentiu tentado a ir atrás dele tentar conversar, mas acabou desistindo no final.

Enquanto devaneava sobre Ethan, um professor se aproximou o puxando para o presente. O garoto o encarou e sorriu esperando não estar com uma carranca. Por que tinha que fazer o seu papel de bom aluno mesmo no jantar das vésperas de um feriado? Ainda assim respondeu a todas as perguntas do homem sobre seu futuro e possíveis cursos que poderia fazer na faculdade, até que, depois de quase uma hora, o homem finalmente se despediu dele indo para a sua mesa, afinal o jantar acabara de ser anunciado.

— Qual o problema, cara? — Will se sobressaltou com a voz de Gabriel ao seu lado — Você tem estado muito quieto esses últimos dias. Aconteceu alguma coisa?

— Nada fora do normal! Acho que só estou cansado.

— Hum...! Você devia dar um tempo de vez em quando, sabe? Descansar também faz parte de ser um bom aluno, afinal sem descanso não tem como você ir bem nas provas e elas estão às portas.

Willian, de fato, estava mais quieto que o normal, mas aquela semana estava uma completa bagunça, então não era para menos. Sequer tinha percebido o tanto de estresse que a ligação de sua mãe tinha lhe causado até perceber o quão sensível estava. Tudo lhe fazia explodir, o mero pensamento de rever a mulher após tanto tempo lhe fazia estremecer, assim como não estava nada ansioso para rever seu irmão mais velho após três longos anos fingindo que ele não existia. A perspectiva de ver o estado de seu avô, que estava com os dias contados, lhe aterrorizava e a aproximação das provas finais lhe dava dores de estômago. Fora toda a pressão colocada em seus ombros pelos professores. Por tudo isso, sem querer, tinha acabado descarregando mais do que devia em Ethan e tinham acabado brigando. Pela primeira vez tivera uma briga razoavelmente séria com o garoto e aquilo lhe deixava terrivelmente ansioso.

Após pensar naquilo tudo, de repente se sentiu muito cansado. Willian deu uma breve olhada para o amigo, suspirou e baixou a cabeça massageando as pálpebras pesadas com os polegares e os indicadores, na tentativa de mandar embora o cansaço e estresse acumulado. Tornou a erguer a cabeça e olhou ao redor apenas por acaso, mas algo chamou a atenção de seus olhos cansados. Era a mesma mesa onde Ethan estava no jantar da outra noite, bem no canto, próxima a uma árvore, quase na penumbra, já fora dos limites da cantina. Ali um grupo muito barulhento estava sentado e imediatamente ele soube que eram os amigos de Ethan. Enquanto os encarava, alguns acenaram para ele, que franziu as sobrancelhas estranhando aquele ato, mas então percebeu que, na verdade, os acenos não eram para ele e sim para alguém que vinha às suas costas.

Willian seguiu com os olhos até eles pousarem em alguém. Ethan vinha caminhando ao longe, já sorrindo para os amigos à mesa. Ele caminhava em direção aos garotos de forma despreocupada, todo o abalo do outro dia esquecido pelo sorriso que seus lábios desenhavam, de dentes brancos e perfeitamente alinhados. Ele tinha tomado banho e seus cabelos ainda estavam úmidos, parecendo mais escuros do que realmente eram na claridade fraca do ambiente. Apesar do clima frio, ele usava roupas muito finas e aquilo o preocupou.
      
Seu jeans preto, rasgado nos joelhos e nas coxas, deixava à mostra a pele pálida de suas pernas. A blusa de algodão branca, com gola V, parecia absorver a luminosidade do ambiente causando a ilusão de que ele puxava a luz para si. O casaco escuro que ele trazia amarrado aos quadris, balançava alegremente por trás de suas pernas tornando seu andar preguiçoso ainda mais sedutor e, claro, não poderia faltar o All Star cano longo, que ele insistia em deixar com os cadarços soltos.

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