25 - Sob Um Céu Estrelado

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Aquele cheiro tão autêntico, que só fora sentido tão de perto algumas poucas vezes, agora se enroscava como fumaça ao nariz sensível de Ethan. A calidez e o conforto que as cobertas daquela velha, porém quase inutilizada cama lhe proporcionava beirava o prazer, tanto que a sonolência insistia em permanecer pesando em suas pálpebras, mesmo seu relógio interno e seu estômago lhe avisando que estava passando da hora de acordar.

Ethan não sabia ao certo quando ou como havia adormecido, apenas se lembrava de deitar-se na cama de Willian por um momento e fechar os olhos apreciando o cheiro de seu corpo que ficara nos lençóis. Também se lembrava de ter achado estranho o fato destes ainda terem o cheiro dele, ainda que fraco, já que já fazia algum tempo que o garoto não ia àquele lugar. Virou-se no colchão sentindo-se confortável de um jeito que não se sentia há muito tempo. Aconchegado e quentinho, era assim que se sentia, como uma criança no colo da mãe, protegida e acolhida.

Ethan sabia que estava frio, mas por algum motivo sentia-se bem com o clima, na verdade, nem se importava o suficiente para se incomodar. Mesmo ainda estando sonolento, se obrigou a despertar e não precisou de muito esforço, pois ao sentir movimentos ao seu lado — na verdade, muito mais perto do que esperava — imediatamente todo o sono que ainda lhe restava, de repente, se dissipou.

O garoto abriu os olhos com dificuldade e piscou algumas vezes tentando se acostumar com a escuridão que inundava o quarto, olhou ao redor e viu pela janela que lá fora já estava escurecendo. O horizonte alaranjado e azul-serenity pintava a paisagem como em um quadro aquarela e algumas estrelas já piscavam alegremente para ele, ao longe, iluminando o céu semi-escurecido fazendo ele se perguntar por quanto tempo eles haviam dormido.

O quarto já estava praticamente todo engolido pelas sombras, tornando difícil a visualização das coisas, tudo o que Ethan conseguia ver eram borrões e vultos dos móveis ao longe. Ele suspirou sentindo o corpo pesado e com dificuldade sentou-se se espreguiçando, então finalmente tomou coragem para olhar para o lado. Não queria encarar Willian, porque na verdade ainda não acreditava que havia mesmo viajado com o garoto, mas ao olhá-lo de relance viu apenas a sombra do corpo grande e adormecido do garoto ao seu lado, tinha sido por causa dele, que se mexera em seu sono, que ele acordara.

Willian estava deitado em posição fetal, dormindo profundamente e Ethan não conseguiu desviar os olhos, mesmo que quase não conseguisse vê-lo e foi este o seu maior erro. Por não poder ver bem na escuridão, que se aprofundava cada vez mais no cômodo, ele caiu na tentação de aproximar-se apenas um pouquinho, só para ver que expressão o garoto estava fazendo enquanto dormia ao seu lado e quando percebeu, já estava perto demais para seu próprio bem.

Bem que ele tentou afastar-se, mas, aparentemente, Willian sentiu seu movimento brusco e, talvez como um reflexo, o segurou pelo pulso puxando-lhe para perto, lhe obrigando a deitar-se novamente. Ethan caiu deitado ao seu lado com os olhos fechados fortemente, pois tinha certeza que o garoto havia acordado, mas quando nada aconteceu, ele finalmente criou coragem para abrir um olho e prendeu a respiração ao perceber que seus rostos estavam a centímetros de distância um do outro.

Ele também estava em posição fetal, sua cabeça estava repousada no braço de Willian e seus joelhos se encostavam, sentia a respiração dele em seu rosto e seus olhos iam bem de encontro com os lábios delineados e sedutores do garoto. Olhou para seu pescoço e viu um pequeno sinal próximo a clavícula e aquilo lhe trouxe lembranças, como a da primeira vez que haviam dormido juntos, e, estranhamente, aquela era uma sensação muito boa.

Ethan olhou para fora mais uma vez, agora ainda mais escuro que momentos atrás; também havia algumas nuvens no céu que antes não estavam ali e isso lhe fez questionar sobre o horário. Não queria sair dali, estava muito bom, mas infelizmente não podiam ficar o dia todo no quarto e sua barriga estava roncando. Estava criando coragem para acordar Willian, já que o garoto não parecia muito afim de acordar, mas por alguma razão, também não queria fazê-lo.

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