Segunda-feira, 07:35 AM
Willian acordara exausto naquela manhã, ele não conseguira dormir quase nada durante a noite e tudo porque sua mente não parava de voltar ao mesmo tema: Ethan. Aquilo já estava indo longe demais. Na semana anterior eles tinham que ter elaborado um seminário para apresentar na aula de Física, mas o garoto não havia aparecido e o trabalho fora prejudicado; por sorte — ou azar (?!) — o professor tivera uma emergência em outra cidade e adiara as apresentações para o final do bimestre, que seria em quinze dias.
Willian encarava seu reflexo no espelho do banheiro distraidamente enquanto se lembrava da segunda anterior, quando Ethan havia ido lhe pedir desculpas por não ter aparecido para fazer o trabalho; ele lhe explicou que tinha tido alguns problemas pessoais e que tinha perdido à hora.
Will se surpreendeu com o pedido de desculpas, afinal o garoto não era de fazer aquilo. E se ele era orgulhoso para pedir ajuda, imagine então para pedir desculpas. Aquilo era algo totalmente fora de cogitação em sua realidade, mas por aquele mesmo motivo, aquele gesto havia lhe deixado bobamente feliz; era um passo para a frente, apesar de ter precisado segurar o riso ao ver o quanto parecia difícil e o quanto ele estava se esforçando para fazer aquilo.
Ao chegar à cozinha de sua casa o garoto percebeu que não tomaria café sozinho, pois seu pai já se encontrava sentado à mesa tomando seu café e olhando atentamente para a tela do celular com um semblante preocupado, enquanto Isabel falava agitadamente com ele sobre ir fazer uma visita a alguém, gesticulando bastante.
Aquilo lhe surpreendeu tanto, que por um segundo ele apenas permaneceu de pé, vendo o homem beber seu café quase como uma miragem. Quando dissera que nunca via seu pai em casa pela manhã, ele não estava exagerando, então quando acontecia, era realmente um choque. Resolveu não interferir na conversa dos dois, então apenas caminhou em silêncio até a geladeira, pegou o suco e pôs um pouco em um copo, tornou a mesa e se sentou em uma das cadeiras, ainda calado, porém quando se sentou seu pai pôs o celular em cima da mesa e lhe encarou.
— Bom dia, Willian, já está indo ao colégio?
— Sim, senhor, e você, não devia estar a caminho de uma reunião com seu novo sócio?
— É, mas ele acabou de desmarcar... Algo sobre sua esposa estar doente.
— Poxa, que pena, deve ser sério pra ele desmarcar uma reunião tão importante. — na verdade, ele não tinha interesse algum na reunião de seu pai e muito menos na esposa doente de seu sócio, mas era a única forma de conversar com seu velho, então ele apenas seguia o ritmo.
— Sim, me sinto realmente mal por ele. Sua esposa parece estar em um estado bem mal, algo sobre estar com Alzheimer ou alguma doença assim... e ela ainda é tão jovem, e tem um filho com mais ou menos a sua idade. Ele me explicou brevemente que sua condição piorou e que vai ficar ausente por alguns dias até ela viajar para tentar um tratamento novo.
— Nossa, eu sinto muito por ele... e por ela também. — Willian realmente sentia muito; quando seu pai falou que a pobre mulher estava doente, ele pensou em algo como uma gripe ou uma virose simples e não algo sério como Alzheimer; aquela era uma doença realmente triste de se ter.
— Sim, eu concordo, não pude lhe negar tal pedido, então vou tirar esse tempo para viajar com Isabel. — ele falou sorrindo para a garota, que agora ouvia a tudo séria enquanto comia sem muita vontade uma fatia e encarava com olhos cheios de lágrimas a mesa; talvez ela e a tal mulher fossem amigas, porque era a primeira vez que ele a via tão quieta.
— Bom, vou indo. Até mais e divirtam-se na viagem.
Dizendo isso, Willian saiu da cozinha, caminhou até seu carro desativando o alarme e entrando, jogou sua mochila no banco do reserva e seguiu para o tráfego.
Estava começando mais uma semana, mais uma chance de se aproximar do garoto de cabelos vermelhos e grandes olhos cinza, que insistia em aparecer em sua mente nos momentos mais impróprios.