Domingo, 00:57
O tique-taque contínuo do relógio ao lado da cama avisava que estava prestes a dar uma hora da manhã e o silêncio contínuo da madrugada já perdurava por tempo o suficiente para permitir que pensamentos dos mais variados corressem soltos por uma mente já perturbada. Ethan, a única pessoa naquela casa ainda muito acordada àquela hora, não conseguira dormir ainda, ao contrário, se encontrava sentado na cama de Willian, bem ao lado do garoto, que depois de um tempo conversando animadamente, finalmente havia caído no sono. Seus olhos permaneciam fixos nos lábios do garoto e sua mente insistia em lembrar-se da sensação deles em sua boca; a calidez e maciez eram incrivelmente agradáveis, muito mais do que ele havia imaginado, tanto que quanto mais pensava naquilo, mais se chateava por sentir-se tão fodidamente atraído.
Além de sua aparência havia aquele sentimento estranho e ao mesmo tempo tão familiar, que o cercava, quase como um campo de força, que lhe atraía para si. Aquela aura de homem, a maturidade em seus olhos, a perfeição de suas ações. Talvez fosse como "o homem" que Ethan sempre quisera ser, ou talvez, ter. Tudo nele lhe atraía; de sua aparência a sua personalidade e talvez por aquele motivo, no início Ethan o odiou tanto, por saber que ele significava problema, que ele seria sua queda, seu desvio do caminho, sua fraqueza. Talvez desde o início, Ethan sentira que Willian seria aquele que o faria sentir o que ele tentava negar a si mesmo há tanto tempo, que ele seria o seu erro assumido, e aquilo lhe aterrorizava.
O garoto abraçava os joelhos junto ao peito nervosamente, aquela cena lhe era familiar; lhe lembrava bastante a última vez em que ele fora parar no quarto de Willian e naquela brincadeira, tinha acabado transando com o garoto. Ainda o observando, ele percebeu que, aparentemente, seu sono não era um sono muito tranquilo, pois ele parecia tenso. Por algum motivo, enquanto o via franzir as sobrancelhas e apertar a mandíbula em seu sono, Ethan tornou a lembrar dos acontecimentos de algumas horas atrás; aqueles últimos dias de fato tinham sido um tanto cheios.
Primeiro havia o fato de ter dormido pela primeira vez com um homem, depois o descobrimento da doença de sua mãe - fato aquele que o abalara demais para um único dia -, se não fosse o bastante, tinha a ex do garoto e para completar, tinha brigado com ele por conta da maldita garota e ele ainda se irritara com ele ao invés de ter ficado puto com ela. Aquilo era problema demais em sua vida, problemas esses que não existiam antes de ele começar a se importar e a sentir coisas que não devia sentir... que não podia sentir. Antes de começar a baixar sua guarda e permitir que um certo alguém entrasse e invadisse seu espaço.
Willian tinha invadido seu espaço pessoal e sentimentos sem aviso prévio e não parecia querer sair e, no momento, aquilo era um problema gigantesco para a sua vida; vida esta que antes não tinha problemas com emoções relacionadas à pessoas. Ele encarava o garoto lembrando da primeira vez que o vira, havia se lembrado há um tempo, já o vira antes, anos atrás em uma festa beneficente de Natal, por isso o garoto lhe parecera tão familiar a primeira vez. Ethan suspirou se lembrando da conversa que haviam tido há alguns minutos.
Não havia entendido bem aquele convite tão aleatório para uma viagem, mas sabia que ele estava tramando alguma coisa, porém se sentiu tão ridiculamente feliz na hora que não conseguiu recusar, afinal havia chegado em um momento tão conveniente para ambos que ele não conseguiu dizer "não". Do contrário, aceitou de bom grado e foi recompensado por um abraço mais demorado que o necessário do garoto, que o ajudou a se enxugar, vez por outra passando aquela mão boba em lugares que não devia e levando tapas constantes.
Willian falou animadamente sobre onde seu avô morava, fazendo Ethan se encantar mais uma vez com seus muitos lados. Naquele momento, ele quase conseguia ver o reflexo da criança que o garoto um dia foi e ficou feliz com a descoberta de um Willian bobo e alegre e não apenas o certinho e mandão ou o pervertido de sempre. Aquilo, porém, também lhe tirava a paz, afinal eram poucas as coisas que faziam Ethan se encantar nesse mundo, mas Willian já era o motivo de tê-lo feito, e mais de duas vezes... Ele certamente era uma pessoa perigosa.