Capítulo 34

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Nate: Excelência. Senhores. – Cumprimentou, indo pro centro do semi-circulo formado entre as mesas. – Viemos aqui hoje com o intuito de cobrar justiça por uma atrocidade cometida há uma família há mais de uma década atrás. Em 2017, Madison Salvatore e Christopher Uckermann, aqui presentes, viveram a gestação e a ansiedade pela espera do seu bebê a caminho. Um momento bonito na vida de um casal. Não tendo sido uma gestação planejada, e sim o que eles preferem chamar de "surpresa", toda a vida do casal e da família se adequou para esperar a criança a caminho.


Madison Salvatore começou a apresentar problemas no inicio da gravidez. – Ele hesitou um momento, como se organizasse seus pensamentos. - Desmaios em excesso, fadiga, perda de forças pra uma mulher que até então sempre teve a força de uma muralha. O pré-natal da criança diagnosticou problemas severos de hipertensão no caso, o que foi imediatamente acompanhado por médicos. Apesar de todos os esforços, e eles não foram poupados, no segundo trimestre da gestação houve um descolamento de placenta. Naquela altura, basicamente uma declaração pra um aborto espontâneo. – Aquela parte ele se lembrava de cabeça, pela tensão do dia a dia – Lhe foi recomendado repouso absoluto. Que não saísse da cama a não ser para ir ao banheiro, que seguisse tomando os remédios, que seguisse uma dieta prescrita... A gravidez que era um sonho se tornou algo a se preocupar. Ainda assim, a alegria não se perdeu. A gestante passou a se locomover, o pouco que se locomovia, em uma cadeira de rodas motorizada. Fazia isso apenas para acompanhar a decoração do quarto da criança, uma menina, a qual chamaram 'Brianna' devido a uma brincadeira pessoal do casal. Mesmo com todos esses repousos, não foi o suficiente. Em novembro de 2017, no inicio do 7º mês de gestação, Madison teve um episódio espontâneo de um sangramento severo, acompanhado por dores no pé da coluna. Imediatamente foi removida de casa e levada ao hospital Saint Lucas, onde todo o pré-natal da criança vinha sendo feito, declaradamente o melhor hospital de Los Angeles lá e até então. Uma cesariana de emergência foi solicitada, pois o risco de morte para mãe e filho eram enormes. Foi feito. – Ele tornou a hesitar, os olhos passando pela comissão da vara da infância e da família, que o observavam. O silencio era esmagador.


Um parto extremamente difícil, demorado, sofrido. A mãe teve um principio de eclampsia no procedimento, do qual era quase certeza a concretização da eclampsia que a mataria. A criança, prematura, foi levada de imediato. – Ele avançou um passo, os olhos azuis duros – Uma hora depois, um médico retorna com a informação de que a recém-nascida não sobreviveu, vitima de uma parada cardiorrespiratória. Não havia desenvolvido os pulmões ainda. O feto morto, por um engano cometido sem intenção, foi dado a mãe para que se despedisse. Ela embalou aquele corpo nos braços e pranteou a morte da criança. – Ele respirou fundo – Uma família inteira sangrou até ruir naquela noite.


Agora, como é de praxe, a vida os obrigou a seguir. Com a quarto da bebê que nunca viria, com a dor da perda, com o questionamento de não terem feito o suficiente. A família ruiu, começando pelo casal, que não conseguiu suportar a dor da perda, e ruindo em todas as suas ramificações, porque cada um era parte daquele todo. – Ele recuou um passo, se virando. Os olhos azuis, brilhando em um tom que não se entendia, focalizaram a juíza. Katelyn o observava, os dedos cruzados em cima da bancada. – Agora, tendo ciência disso, entendam qual não foi a dor desses pais, a dor dessa família, 13 anos depois, ao descobrirem que a recém-nascida nunca morreu. Não, a mãe pagou o preço no parto, mas era uma recém-nascida saudável, dentro do que uma prematura pode ser. Como você diz a aquela mãe, que chorou pela criança morta em seus braços, que sofreu todos os dias por anos, que seu bebê estava vivo esse tempo todo, apenas lhe fora tomado? – Ele parou por um momento, como se desafiasse a juíza, que era quem ele encarava, ou alguém no tribunal a responder a pergunta.


O fato é que Brianna Salvatore foi roubada de seus pais na maternidade do Saint Lucas apenas com uma hora de nascida, e um bebê natimorto foi colocado no lugar. Foi roubada de caso pensado, repassada a outra família, família essa que simplesmente ignorou que aquela criança tinha pais que a amavam e aceitou a menina como se tivesse caído em seus braços, quando sabiam o que havia acontecido nos bastidores para que ela estivesse ali.


Ainda Sou EuOnde histórias criam vida. Descubra agora