Capítulo 66

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Anahí olhou em volta, um sorriso satisfeito. O ambiente ficara exatamente como ela planejara, cada móvel, cada estante. Era amplo, era confortável, passava segurança. Havia uma mesa dela, no canto da sala, onde havia uma alguns livros de orientação, seu notebook, um porta retratos com uma foto da filha e outro dela com o animal carniceiro que ela chamava de amor.


Andou em volta, tocando seu real local de trabalho: Uma poltrona, ficava de frente pra um sofá confortável. Havia uma mesinha do lado, com uma agenda de capa preta e uma caneta prateada que Alfonso lhe dera de presente, anos atrás, quando ela estava montando aquele lugar. "Pra dar sorte", ele dissera. Era cara, pesada, e apesar de tudo, ela a guardou durante os anos, pra quando esse dia chegasse.


Usava os cachos presos em um coque comportado, uma camisa branca de botões e uma saia lápis. Alfonso voltara a cidade, conforme prometera, mas a chamara pra "falar sério" que isso não mudava nada. A ideia a fazia rir toda vez que ela lembrava. O estava dando um momento pra se acostumar a estar de volta a família, a filha, e pra cuidar de Clair, que agora, graças a Deus, estava passando pela fase dos hormônios (ninguém sabia quanto tempo mais o pobre Nate aguentaria antes de colapsar). 


Alfonso ajudava muito nesse processo, estando sempre perto, aparando as arestas. A pior parte foi quando, por acidente, Clair terminou assistindo Marley & Eu na Netflix (ela nunca havia visto). Se divertiu a inicio, mas terminou chorando desesperadamente agarrada a uma Billie Jean assustada que parecia por tudo querer fugir dali, sem sucesso. Alfonso precisou vir no meio da noite, e Nate jurou por Deus que não viu, ela só estava quieta, rindo, antes do ataque vir. Agora as pessoas começavam a confiar de novo, inclusive Brianna; o enxoval do bebê (ainda nas eliminatórias pro nome) começara a ser feito.


Kristen e Ian iam maravilhosamente bem. Ela ficou ainda mais sobrecarregada com a ausência de Alfonso em Tokyo, mas ficou muito feliz por tê-lo de volta; realmente tinha uma amizade próxima com ele agora. Contudo, tê-lo lá significava ter um par de olhos que não deixariam nada passar ao acaso. Agora, ela comandava aquele projeto com mãos de ferro; não podia ver, mas o tom de voz no telefone, as ordens duras por e-mail, as solicitações de chamada de vídeo (que pouco ajudavam, mas ela exigia mesmo assim) deixavam claro que nada naquele prédio poderia sair fora de uma virgula do que ela ordenava. Ian tirava as crianças do caminho quando ela estava envolvida naquilo; ninguém estava seguro de tomar uma bala perdida. Ela era grata por ele ajudar e dar espaço pra que ela pudesse trabalhar: Seria mais fácil se ela fosse até lá, mas voltar ao Japão não estava nos seus planos. Os dois eram bons como equipe.


Blair ficou radiante e frustrada ao mesmo tempo com a volta do pai. Radiante por poder vê-lo o tempo todo (e houve um tempo do processo coala, onde ela grudou nele e se recusou a soltar, nem mesmo pra ir a escola, e Alfonso, saudoso como estava, não reclamou), e frustrada porque agora ele não aparecia mais na TV. Mas ela podia lidar com isso.


- Doutora, seu paciente das 14h está aqui. – Anahí virou o rosto, olhando o telefone na mesa dela.


Anahí: Mande-o entrar. – Aceitou, respirando fundo.


Anahí achou que poderia haver algum ressentimento posterior por parte de Leila quanto ao ocorrido com Alfonso, mas a médica simplesmente isolou esse fato. As consultas continuaram normalmente, ela sempre querendo saber como Anahí se sentia com as mudanças ao redor dela, sobre Blair, sobre o próprio Alfonso rejeitando-a e bloqueando-a o tempo inteiro (se surpreendendo quando Anahí demonstrou achar graça), e quando Anahí informou, feliz, que terminara sua carga horária, o que significava que estava oficialmente autorizada a clinicar, ficou feliz por ela. A parabenizou. Em uma consulta, quando tudo estava bem, e Anahí relatou certa ansiedade, pois havia contratado uma secretaria e finalmente ia abrir seu consultório, a psicóloga a surpreendeu dizendo que poderia lhe indicar alguns pacientes. Tinha a agenda lotada agora e as pessoas ainda a buscavam, e Anahí precisaria começar por algum ponto, antes de ganhar nome. Confiava plenamente nela para lhe fazer esse repasse, essa indicação, "apesar dos últimos eventos". Anahí ficou estática pela surpresa, mas ficou imensamente grata.

Ainda Sou EuOnde histórias criam vida. Descubra agora