— Rebecca, esse não é um bom momento pra conversamos. — o moreno se desgrudou de mim e segurou em meu ombro. — Orelha, leva ela pra casa da amiga da minha mãe. E você, fica lá até eu voltar.
— Eu não quero ir, Miguel! Eu quero ficar aqui com você! — exclamei com a voz falha.
O mais velho nada disse, apenas desviou seu olhar do meu enquanto eu era puxada para fora por Orelha. Aproveitando que estava tudo calmo, novamente, o garoto me levou até onde estava a mãe de Miguel. A casa não ficava muito longe, era só um pouco mais a frente de onde estávamos então foi rápido para que chegássemos. João tocou a campainha e, não demorou muito para que uma menina de cabelos castanhos, pouco puxado para o ruivo, atendesse.
— Orelha, quem é essa? — me olhou de cima em baixo, meio desconfiada.
— Uma amiga minha. Deixa ela aí até eu voltar, a Márcia conhece. — o mais velho me deu um leve empurro para que eu entrasse e a garota me deu passagem.
— Sobe, a Márcia tá lá no quarto da minha tia. — a menina cruzou os braços, subindo as escadas logo atrás de mim.
Assim que cheguei na sala, uma moça e Márcia saíram do quarto e, não demorou muito para que a mãe de Miguel, corresse para me abraçar.
— Rebecca, minha filha, há quanto tempo! O que faz por aqui e por que está chorando? — a mais velha limpou minhas lágrimas que ainda insistiam em cair.
— Eu fiquei sabendo do que 'tava acontecendo por aqui e fiquei preocupada com o Miguel, precisei vir aqui correndo e... Eu o vi e comecei a chorar por ver que ele estava bem. — mordi meus lábios para que impedisse que mais lágrimas caíssem.
— Minha filha, eu sinto muito por ter visto ele desse jeito... É algo que eu mesma não gostaria mas foi impossível o impedir. — a mais velha começou a mexer em meu cabelo, como uma forma de me consolar.
— É uma pena mesmo mas todos sabiam que, uma hora ou outra, o Silvestre entraria pra boca. — a menina que havia me atendido apareceu na sala novamente, com um copo de água.
— Desculpa mas... Quem é você? — funguei, pegando o copo de água que a garota me entregava.
— Me chamo Beatriz, mas pode me chamar de Bia. Sou sobrinha da amiga da mãe do Silvestre. — sorriu sem mostrar os dentes.
Bia? Esse nome não me era estranho...
— A Bia é um doce, ela sempre esteve presente na vida dos meninos. Mas, faz alguns meses que ela teve que ir embora do morro pra morar com os pais... — Márcia disse próximo ao meu ouvido.
— Sim, mas eu voltei a morar aqui com a minha tia. Bateu saudades desse morro, principalmente as pessoas... — se sentou no sofá e cruzou as pernas.
Bia! Agora eu lembrei! Ela era a ficante do Miguel antes de começarmos a fingir namorar. Eu não sabia que eles se conheciam de anos...
— Bom, sinta-se à vontade. Eu vou voltar a fazer companhia a Tânia enquanto você fica com a Bia. — Márcia disse e eu assenti. — Ah, fique tranquila, Miguel ficará bem. Eu passava pelo mesmo que está sentindo agora com o pai dele, mas sei que meu filho está bem. Meu Deus é maior e está o protegendo. — sorri de canto e a mais velha voltou para o quarto.
Olhei novamente para Bia que mexia em seu celular e resolvi me sentar ao seu lado. Por algum motivo, eu me sentia desconfortável por estar ali com ela.
Já eram quase oito horas da noite e, só agora, o morro havia ficado calmo. Julia e Marina haviam me mandado várias mensagens perguntando onde eu estava e minha mãe já havia me ligado várias vezes, mas eu só pude as responder agora. Em momento algum eu ousei puxar assunto com Bia; algo naquela garota não me descia e eu já estava ficando preocupada de não ter notícias ainda de Miguel.
Porra! Os policiais já desceram há quase uma hora! Por que ele não pode voltar?
Novamente a campainha tocou e eu me levantei num pulo. Bia olhou para mim com desdém, permanecendo sentada.
— Não vai abrir não? — olhei para a garota que apenas revirou os olhos.
Após o segundo toque, Beatriz se levantou e desceu as escadas. Escutei o portão ser aberto e, enquanto Márcia e Tânia vinham para a sala, Bia subiu com João Pedro e Miguel.
— Meu filho! Que bom que está bem! — Márcia correu para abraçar o garoto.
— Eu vou preparar algo pra vocês comerem. — Tânia correu para a cozinha.
João Pedro saiu do lado dos dois e se sentou no sofá, jogando seu boné logo ao seu lado. Ele parecia sentir dor em sua barriga mas ele não dava um pio, apenas colocava suas mãos em sua costela e fazia caretas de dor.
— E, como eu disse, sogrinha, sem nenhum arranhão. — como é? Sogrinha?
Miguel se desgrudou de sua mãe e me encarou. Eu apenas cruzei os braços, esperando alguma resposta dele. Ele ameaçou dar um passo para frente mas Bia ficou em sua frente, não demorando muito para o beijar.
Eu fiquei estática ali mesma, descruzando os braços. Meu mundo havia desabado ali mesmo.
— Miguel... Que porra é essa? — perguntei quase que num sussurro, sem tirar meus olhos dele.
— Eu... Vou ver se a Tânia precisa de ajuda. — Márcia olhou para mim, logo desviando seu olhar para seu filho, não demorando muito para ir até a cozinha.
— Algum problema, gata? Você não sabia que eu sou a fiel do Silvestre? — Bia segurou na mão do garoto que apenas abaixou a cabeça.
— Ela sabia sim Bia, apenas não sabia que era tu. — Jp se levantou com dificuldade e se aproximou de mim, passando seu braço esquerdo pelo meu pescoço.
— Orelha, tu disse que ela é sua amiga mas... Já aguentei ela por um tempo aqui na minha casa com essa cara de cu dela e não sou trouxa. Diz logo quem é ela. — a ruiva cruzou os braços, parecendo estar puta.
— Ela é... Ela é... — o mais velho tentava arrumar alguma desculpa enquanto eu não conseguia dizer uma palavra.
Eu não conseguia deixar de encarar Miguel. Ele estava de cabeça baixa mas também nada dizia. Eu não entendia. Por que ele beijou outra na minha frente sendo que eu quase morri na porra de um tiroteio só para vê-lo? Porra, eu me declarei pra ele e chorei na frente dele! Por que ele fez isso comigo?
— Minha namorada! — fui interrompida de meus devaneios por Orelha que tomou meus lábios em um beijo.
Eu estava tão perdida ali que nem me movi, apenas o esperei parar o beijo.
— Eu... Preciso ir embora. — afastei Orelha de mim e passei correndo entre os dois.
— Rebecca... Espera aí. — Miguel estendeu o braço para me impedir mas foi tarde demais, eu já estava descendo as escadas para cair o fora dali.
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Namoro de mentirinha (LIVRO 1)
Teen FictionRebecca só queria alguém que a ajudasse a conquistar seu amor de faculdade e Miguel foi a escolha perfeita. Porém, Miguel apenas queria seguir os passos de seu pai e se tornar um homem respeitado em sua comunidade. E, entre seu namoro de mentira, os...