João Pedro Carvalho
Eu sabia que ter aceitado vir nessa viagem com geral não ia dar certo. Ao começar por Silvestre que havia me tonteado o tempo inteiro, insistindo pra que eu fosse, dando a desculpa que seria uma boa eu sair um pouco do morro e curtir um pouco. Eu até tinha concordado com essa ideia, até descobrir que Julia também iria.
Desde a festa que ela me fez ir pra me fazer de otário que eu não falava com ela. Eu gosto dela ainda, é difícil negar para mim mesmo isso mas eu não sou uma criança pra aturar as coisas infantis dela e agir como se estivesse tudo bem porque não é assim que as coisas funcionam. Eu sei que ela ficou com aquele ex dela, eu não sou trouxa e, se ela queria isso, conseguiu. Mas eu não sou obrigado a correr atrás dela por um vacilo que ela mesma cometeu.
Eu topei ir nessa viagem por consideração ao Silvestre mesmo porque, se não fosse por ele, eu nem iria. Fiquei bem longe de Julia o dia inteiro, até a hora do luau — que, por culpa do otário do meu amigo, não rolou já que fui em cana com meus amigos —. Eu estava fazendo de tudo para fingir que não sentia mais nada pela Julia a porra do dia inteiro, fingindo que estava bem com meus amigos e pra completar a porra da minha noite que eu só queria curtir e, talvez, pegar alguma mina, passei a madrugada numa cadeia com os meus amigos porque o filho da puta do Rafael não sabe guardar as merdas que usa.
Quando fomos soltos, Julia tentou conversar comigo. Com a cara mais lavada possível e mais sonsa do que nunca, veio falar comigo sobre a festa e dizer que nada rolou. É sério isso mesmo? Eu por acaso tenho um "idiota" escrito na minha testa? Eu acho que não. Por isso, pra não me estressar, mandei ela sair da minha frente e saí da delegacia, escutando seus xingamentos gratuitos. Se fosse pra alguém xingar alguém ali teria que ser eu, não ela. Mas não, a Julia sempre tem que ter a razão, sempre quer estar por cima, nunca está errada... E foi com tudo isso que minha noite acabou ali mesmo.
Quando chegamos na casa que a mãe da Rebecca alugou, o pai dela havia feito um pouco de churrasco mas eu não estava muito no clima pra comer nada. Apenas entrei em casa e fui para o meu quarto. Tirei minha camisa e meu boné e apenas me joguei na cama, não demorando para pegar o travesseiro e colocar em meu rosto para abafar o grito que havia dado.
— Qual foi cara? Tá a fim de trocar uma ideia? – me sentei na cama ao ver Miguel entrar no quarto e se sentar ao meu lado.
— Não mano, eu 'to bem. Eu só quero dormir, sabe? Estraguei a nossa noite de luau e ficar a madrugada naquela cela me deixou cansado. – apoiei minhas mãos no colchão e sorri minimamente sem mostrar os dentes.
— Tu não me engana Jp. Te conheço desde moleque e sei quando tá encanado com algo. – o moreno me encarava seriamente. — Anda. Dá logo o papo. – deu um tapa em meu peitoral e eu deixei um suspiro pesado escapar.
— Eu já disse que não é nada Miguel, sério mesmo.
— João, olha só, sou teu mano, tá ligado? Sempre vou 'tá aqui pro que precisar, sou fechamento contigo e tu sabe. Eu sei que tem algo te incomodando e não vou sair daqui até tu abrir a boca. Assim como 'cê fez comigo várias vezes, chegou a minha hora de fazer o mesmo. Sou teu melhor amigo e me preocupo contigo pra caralho pra deixar quieto.
Após alguns minutos meio hesitante, finalmente resolvi contar tudo para Silvestre — sem revelar o nome de Julia, claro —. Contei tudo o que aconteceu na festa, como ela agiu, como eu agi e tudo mais, até chegar na parte de agora que eu tive que mudar um pouco dizendo que havia recebido mensagens dela. Confesso que desabafar sobre aquilo com alguém fez com que me sentisse melhor. Eu ainda não sabia o que fazer em relação a Julia, mas jogar pra fora tudo o que estava sentindo era como se eu houvesse tirado um enorme peso de cima de mim.
— Mano, tu disse que não tem certeza se ela ficou com o ex ou na festa, tu só tirou essa conclusão. Pelo que 'cê contou agora, tu gosta muito dela e, menor, mandar um papo de visão, algo que eu mesmo aprendi: se tu gosta, corre atrás. Não deixa ela ir embora pra depois se arrepender. Eu acho que 'cês deviam conversar e ser sinceros. Ela pisou na bola te levando pra festa só pra fazer ciúmes no ex mas vocês não tem nada sério, você não pode cobrar muita coisa dela. – abaixei minha cabeça e mexi minhas pernas.
Querendo ou não Miguel estava certo. Julia vacilou comigo, mas eu não sei se ela ficou ou não com o Henrique. Eu também não posso ficar puto por toda essa situação, eu nunca disse sobre meus sentimentos a ela, apenas ficávamos e curtíamos estar juntos. Ela não podia adivinhar nada.
— Ai menor, tem certeza mesmo que quer ser dono do Turano? Porque tu se sairia muito bem como psicólogo. – dei um leve tapa em seu braço, fazendo o mais novo rir.
— Ah, eu faço o que posso. – se ajeitou na cama e eu ri. — Mas então? Vai falar com ela? Eu acho que não custa nada tentar mas papo tá dado. Só que a escolha só cabe a você decidir. – se levantou da cama e foi em direção a porta, a abrindo. — Eu vou descer e comer um pouco. Só fica bem, tá? – sorri sem mostrar os dentes e assenti com a cabeça, não demorando muito para que Miguel saísse do quarto.
Fiquei mais um pouco deitado na cama e, depois de alguns minutos, finalmente decidi sair do quarto.
Peguei minha escova de dente, um short que usaria para dormir e minha toalha de banho e fui para o banheiro. Ao passar pelo corredor, esbarrei com Julia que acabava de subir. Ela me encarou mas nada disse, porém antes que ela fosse embora decidi segurar em seu braço.
Se eu tinha que me resolver com ela, aquela era a hora.
— Julia, quero falar contigo.
— Agora você quer falar comigo? Engraçado que quando eu tentei conversar com você, tu veio cheio de arrogância e até gritou na frente de todos pra eu te deixar em paz. – a morena deu um tranco em seu braço, fazendo com que eu a soltasse.
— Porra Julia! Se coloca um pouco no meu lugar. – apontei para mim mesmo. — Como tu reagiria se eu fizesse tudo o que tu fez comigo? Tu falaria comigo normal? Conversaria de boa comigo? Eu acho que não e tenho certeza que me trataria bem pior do que eu te tratei até agora.
Ela desviou seu olhar do meu para o chão.
— Isso não é uma desculpa por te tratar desse jeito mas eu estava puto com você sim, por ter me feito de otário apenas por uma atitude egoísta sua. Mas eu gosto de você pra caralho e quero me resolver contigo. Você vai querer conversar comigo ou não? – cruzei os braços, esperando uma resposta dela.
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Namoro de mentirinha (LIVRO 1)
Подростковая литератураRebecca só queria alguém que a ajudasse a conquistar seu amor de faculdade e Miguel foi a escolha perfeita. Porém, Miguel apenas queria seguir os passos de seu pai e se tornar um homem respeitado em sua comunidade. E, entre seu namoro de mentira, os...