Bom, foram semanas complicadas.
Esses dez dias passaram como meses.
Não tinha mais risada nenhuma, música alta, beijos, gemidos, provocações, ou sua guitarra estourando os vidros da minha casa.
Não tinha nada.
Meu irmão deu um jeito de sumir também. Sem notícias de Frank, nem dele ou Ray.
Apenas eu e um monte de bebidas.
Aquele dia que Frank deixou meu quarto, chorei até finalmente conseguir fechar os olhos e dormir. Não sei se ele passou a noite lá, provavelmente, pois escutei alguns barulhos no quarto próximo ao meu.
E dizer que eu não tive coragem de sair gritando que ele era o amor da minha vida era extremamente certo, porque não tive. Então passei três dias seguidos deitado, acabado. Apenas levantando para ir ao banheiro ou no máximo beber alguma coisa. Meu sono e a minha alimentação estavam horríveis e não me importava muito.
Aquela primeira semana foi um caos de dor e tristeza. Já a segunda, foi movida a cigarro e álcool. E mesmo tendo feito uma promessa de nunca mais colocar uma gota de álcool na boca, descumpri.
Então bebi. Bebi mais do que podia e deveria, porque porra, eu não precisava me preocupar com alguém que se importava comigo. Não precisava cuidar do horário ou esperar ansioso para vê-lo. Porque ele não estava mais ali.
E por mais que isso seja ruim, não encarei a situação desse jeito. Tentei parecer forte, contido e normal, mas sabia que na verdade não era isso.
Sabia também que quando o telefone tocava, independente de onde eu estivesse, eu parava tudo e ia atender. Tinha noção se que qualquer vento que batesse na porta e fizesse algum barulho eu descia as escadas correndo para ver se ele estava lá.
Ou... Qualquer música que tocava eu precisava me concentrar para ter certeza que não era Frank, encolhido em minha cama com sua guitarra nos braços. Aquele sorriso de sempre e seus dedos brincando com as cordas enquanto me esperava impaciente para alguma coisa. Porra, aquelas palavras não saiam da minha cabeça um segundo e era recíproco, só não tinha a coragem de falar, nem demonstrar.
Seria muita covardia?
Enfim... Eu estava sem coragem para levantar quando Mikey invadiu minha casa como sempre fazia. Abriu meu quarto reclamando da iluminação e que estava cheirando a álcool.
- Por que você ainda não levantou? Meu deus, Gerard! - Meu irmão ainda não tinha me visto depois que brigamos. Ele me ligou sem parar e quando escutou minha voz embriagada hoje pela manhã, não deu outra. Menos de uma hora e sua voz estridente e preocupada adentrou meus ouvidos. Minha cabeça explodia por causa das bebidas e confesso que não lembro da última refeição que fiz.
- GERARD! O QUE SÃO ESSAS COISAS! O SEU CHÃO ESTÁ INTEIRO MOLHADO E MEU DEUS! - Com os edredons cobrindo meu corpo e rosto, resmunguei um xingamento que provavelmente ele não entendeu. - V-você bebeu? - Sua voz era tremida agora, tinha medo. - D-de novo?- Me deixa em paz, Mikey! - Com um único movimento senti aquele calor agradável voar para longe. Meu irmão tinha afastado as cobertas e me olhava com... Pena.
- Você está terrível. - Ele já estava calmo, e como esperava, olhava cada parte da minha face, desde seu tom mais pálido que o normal até as olheiras profundas. Os lábios estavam levemente cortados e confesso que estava mais magro do que de costume. - Por que fez isso, Gerard?
- E não é óbvio? Ou você está vendo aquele baixinho andando por ai?
- Não me diga que... O motivo é ele? - Enquanto Mikey falava, sentei no colchão, olhando o chão que realmente estava uma bagunça. - Hey... O... Nosso pai, pediu para que fôssemos lá. Mas acho melhor ir sozinho. - Foi sua última frase, antes de cruzar os braços e suspirar.
- Não! Eu vou com você, só preciso tomar um banho e... Me a-arrumar, não estou tão mal. - Levantei minha cabeça e encontrei seus olhos meio marejados. Nunca gostei de ver Mikey triste.
- Eu devia recusar e te trancar nesse quarto até ficar bem, mas acho que é importante. E com essa confirmação, andei em passos lentos (com ajuda de Mikes) para o banheiro, demorando lá. Ainda era difícil olhar para a minha situação e ver algo de bem nela, mas já estava na hora de seguir em frente e não seria nada legal ignorar um chamado do meu pai. Tomei um banho na mesma preguiça e calma, logo terminando e vestindo roupas simples.
Quando desci as escadas, Mikey me fez comer tudo que ainda tinha na geladeira para depois irmos até o centro da cidade. Chegando lá, como sempre, fomos recebidos com vários elogios e olhares de saudade. Fazia um tempo desde que deixei o lugar, e mesmo com todas aquelas armas e drogas, o pessoal era legal.
- EU NÃO ACREDITO, GERARD? - Aquela voz mais do que conhecida me despertou como nunca e logo vi aqueles cabelos afros se aproximarem, lançando seu corpo contra o meu. - FAZ MUITO TEMPO QUE NÃO TE VEJO, CARA! - Ele me abraçava com força, parecia mesmo sentir minha falta.
- Digo o mesmo, mas sei que o meu irmão é uma visita frequente, né? Não achei que era tão substituível assim... - Falei provocando, enquanto ele me soltava e mostrava suas bochechas coradas.
- E não é! Poxa, você é meu melhor amigo, esqueceu? - Sua voz me animava, pelo menos até escutar alguns resmungos e sentir meu corpo sendo empurrado até a famosa "Parte do chefe" vulgo, meu pai.
Assim que entramos naquela sala escura, cheirando a cigarro e maconha, não deixei de franzir o nariz, e ver aquela cadeira tão gasta girando, fazendo com que eu me encontrasse com ele, não resisti de sorrir.
- FILHO, QUANTO TEMPO! - Ele levantou, meio desajeitado, para me abraçar. - Achei que nunca mais ia voltar...
- Também estava com saudade, além do mais, você que chamou né? Aconteceu alguma coisa? - Nos soltamos do aperto e percebi seu olhar entristecer levemente.
- Mikey? Sei que pedi para que os dois viessem, mas posso conversar com Gerard? Já que você sabe tudo que aconteceu. - Encarei meu irmão confuso e logo vi o mesmo acenando com a cabeça e sair da sala.
- O que aconteceu? - Perguntei mais uma vez, sentando em um dos sofás que existia naquela salinha, acompanhando com os olhos o mais velho contornar a mesa e fazer o mesmo em sua cadeira.
- Sabe filho... Quando você ainda participava de entregas e tudo mais, quando era ativo aqui nesse meio, muitos homens gostavam disso, sabiam fazer as coisas. Mas quando saiu, foi como uma bomba, perdi muitos companheiros e algumas gangues estão nos atacando novamente.
- Como assim perdeu muitos homens? Eles estão matando os nossos? E o acordo? - Parece que todos aqueles pensamentos no início do dia tinham desaparecido, agora a situação era realmente séria.
- Ele não se importa em seguir aquilo, para ele é só um aperto de mão qualquer. Era fácil ultrapassar a linha do limite e foi o que ele fez. Sabe que Chris nunca ligou para isso.
- Qual o problema desse cara? Nunca apontamos a arma para nenhum deles e agora isso?
- Eu sei, eu sei... É por isso que queria você aqui de novo. Mais de vinte dos meus se foram nesse meio tempo, e ele não consegue lidar com você, Gerard... Preciso que volte e me ajude nessa situação. - Era muito complicado pensar em voltar e me envolver em tudo isso de novo... Ainda mais quando me apaixonei por alguém que só queria isso. Perder amigos é uma coisa, mas a arriscar a própria vida por rivalidade? Era algo que eu não pensava em tempos, pois estava cansado disso tudo.
Mas nesse momento, valeria mesmo a pena voltar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
NOVEMBER RAIN - FRERARD
FanfictionVocê disse que deveríamos sair, embora ainda pudéssemos. E eu deveria ter ouvido, mas eu entendi mal. Então quando a polícia arrombou a nossa porta e nos segurou contra o nosso chão, parecíamos amantes ou parceiros no crime?