16°- CAPÍTULO ✝

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Durante grande parte do meu expediente na loja, era inevitável não pensar em tudo que enchia minha cabeça nos últimos dias. Mesmo ontem, quando passei na loja de Caleb, eu não encontrei nada de tão relevante, a não ser a Erva-Amarela, que era tão estranha quanto a Erva-Verde. Aproveitei daquele momento e tentei encontrar qualquer coisa relacionada a Alter ego no livro Drácus Dementer, mas, sem sorte. Haviam tantas páginas faltando que parecia impossível responder a qualquer coisa.

Eu tenha essa sensação de que quanto mais eu procuro por uma explicação, mais elas se tornam confusas. Nem um simples sonho eu sou capaz de compreender. Minha cabeça estava tão cheia que me tornei desastrada com alguns clientes e vovó já me olhava com desconfiança, perguntando se alguma coisa havia acontecido. E precisei me virar muito bem para contornar essa situação e, por sorte, Wendy me ajudou. Às vezes, penso que deveria esquecer tudo isso, inclusive, deixar de visitar Jimin e seus irmãos, mas depois daquele sonho, sei que não posso. E o fato deles serem sempre tão gentis comigo, não ajuda. Era difícil pensar na hipótese de que eles podem ser completamente diferentes da imagem que criei.

Vovó estava nos fundos, como sempre, trabalhando no jardim, e Wendy estava lá fora, varrendo a entrada da loja, enquanto eu ficava parada atrás do balcão, encarando a porta aberta e os fracos raios de sol no chão, sem conseguir tirar toda essa bagunça da minha cabeça.

Quem diria que as minhas férias se tornariam algo tão estranho.

Suspiro e fecho os olhos, passando as mãos pelo rosto como se pudesse afastar tudo isso por um momento.

Escuto a voz da minha irmã me chamar em um tom baixo, quase como um sussurro, e ao abrir os olhos, vejo Wendy inclinada com metade do corpo para dentro da loja. Ela faz um gesto silencioso para que eu vá até ela e depois some. Me sentindo lenta e preguiçosa, saio de trás do balcão e vou para fora da loja, que emoldurava um dia de sol fraco, possibilitando qualquer um a usar desde um vestido até uma blusa.

— Olá, Venator. — Blarie estava próxima a Wendy. Ela sorri para mim.

— Oi. O que está fazendo aqui? — Pergunto, um pouco confusa com sua visita repentina.

Blarie - enrolada em seu lenço preto, chapéu, luvas e óculos escuros, ri.

— Você é sempre tão receptiva. Aprenda a receber melhor uma amiga. — Ela retira os óculos, deixando as irises escuras a amostra.

Wendy ri também, se apoiando no cabo da vassoura.

— Me desculpe. — Encolho os ombros e ela ri.

— Não se preocupe com isso. Eu apenas vim te fazer um convite.

— Convite para o quê? — Pergunto, interessada, sentindo os fracos raios de sol esquentarem minha pele.

— Nós conversamos ontem, Amia te chamou para sair. Vim aqui saber se podemos fazer isso hoje à noite? E antes que você responda, quero que considere o esforço que Amia está fazendo para sair com você. Ela passou mal para caramba ontem, não disse o motivo, mas achei que acordaria pior hoje, mas ela já está bem e faz questão de sair essa noite. — Blarie explica, me deixando completamente intrigada com a situação.

Não posso deixar de associar isso aos bolinhos de Erva-Verde que entreguei para Amia ontem. Será que foram eles?

— Wendy pode ir também. Será uma noite de garotas. Nós podemos fazer alguma coisa legal. — Blarie mal termina de falar e já percebo os olhos de Wendy brilhando em excitação, mas, dessa vez, não será preciso que ela me convença, eu já estou decidida.

— Claro, nós quatro podemos sair essa noite. — Sorrio.

Se Amia passou mal por conta dos meus bolinhos, esse é o real motivo pelo qual ela quer sair comigo e eu não posso fugir do que fiz. Aqueles bolinhos tinham um único propósito, e se eles parecem terem funcionado, não posso dar um passo para trás agora.

DRÁCUS DEMENTER || KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora