33°- CAPÍTULO ✝

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Respiro fundo e abro os olhos, encarando o teto claro e limpo. Empurro a coberta que me cobria e sinto algo enrolado em volta da minha barriga. Levanto o tronco e a blusa, vendo uma atadura manchada de sangue enrolada ao redor do meu corpo. Sinto algumas leves fisgadas por me movimentar, mas nada que me impossibilitasse, na verdade, a dor era quase inexistente.

— Eu suturei o seu machucado com algumas coisas que encontrei em um dos kits de primeiros socorros. — Ergo meu olhar para frente, vendo Wendy parada na entrada do quarto. Ela segurava as próprias mãos e tinha os ombros encolhidos, enquanto me observava com preocupação.

Os seus olhos estavam bem avermelhados e eu podia enxergar as olheiras e as pequenas veias vermelhas que indicavam uma noite de sono mal dormida. A cor do seu rosto também parecia ter sumido, ela estava pálida como uma doente.

— Sei que não deveria me arriscar em uma coisa tão delicada. Mas o seu machucado estava bem feio e eu não conheço nenhum médico aqui em Upiór, acho que nem tem. — Wendy se explica com a voz baixa, mexendo nos próprios dedos de forma nervosa. — Também coloquei um pouco daquela pasta de Erva-Laranja para ver se diminuía a sua dor.

Me sento na cama e depois coloco os pés para fora do colchão para me levantar. Sinto algo nos meus pés e quando olho para baixo vejo mais ataduras. Os meus pés não doíam, mas era um pouco incômodo a textura das ataduras contra a sola deles.

Estranhamente, sinto uma sensação de calor, como se o dia do lado de fora estivesse quente. Então, caminho até à janela do quarto e afasto a cortina para o lado, vendo apenas a rigorosa neblina que escondia a rua e as casas do vilarejo.

Escuto os passos de Wendy se aproximarem, onde, depois, sinto sua mão encostar em um dos meus braços.

— Elena... deveríamos ligar para a vovó. Eu sei que ela vai voltar hoje, mas esse seu machucado está muito feio e também... — Uma estranha sensação corre por todo o meu corpo, dos pés à cabeça, e antes que eu pudesse raciocinar direito, me viro em um movimento apressado e agarro um dos pulsos da Wendy, a puxando com força e a prendendo entre o meu corpo e a janela, impedindo-a de terminar sua fala.

— Nem pense em ligar para ela. Você entendeu? — Minhas palavras saem um pouco ásperas demais, o que assusta Wendy, fazendo seus olhos começaram a marejar.

Espantada com minha própria atitude, solto o pulso da minha irmã e me afasto dela.

— Wendy... Eu... Eu... Me desculpa. Eu não queria fazer isso. — Um pouco exasperada, passo as mãos pelos cabelos emaranhados.

— Está tudo bem. — Ela e depois limpa o nariz com as costas de uma das mãos.

Seu pulso ficou um pouco vermelho, mas sem hesitar e com os olhos ainda marejados, Wendy volta a se aproximar de mim com seus pés descalços.

— Você precisa ver isso. — Wendy pisca os olhos repetidas vezes, afastando as lágrimas que ameaçavam cair.

Cuidadosamente, ela segura minha mão e me leva até o banheiro do nosso quarto. E pelos ombros, ela me coloca de costas para o espelho.

— Tira sua blusa. — De frente para mim, ela pede.

Encarando seus olhos nervosos e sinto como se um pressentimento ruim me abraçasse, enquanto a sensação de calor de antes, se perpetuava por todo o meu corpo.

Mesmo com todas essas impressões, começo a desabotoar os botões do pijama que estava usando. Lentamente, deslizo o tecido fino de cor rosa-claro e branco, pelos ombros e fico com o tronco completamente despido.

— Agora olhe no espelho. — Wendy aponta para objeto de vidro atrás de mim e esse simples gesto faz com que eu seja atingida outra vez pelo pressentimento ruim.

DRÁCUS DEMENTER || KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora