32°- CAPÍTULO ✝

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Corro floresta adentro como se minha vida dependesse disso. Eu não sei ao certo quanta vezes cai, mas foram vezes o suficiente para sujar e rasgar esse vestido. Os saltos das sandálias afundavam toda vez que eu pisava com mais força, por isso, as tirei e deixei na floresta. E mesmo que agora, os meus pés queimem toda vez que corro sobre à terra seca cheia de insetos, pedras ou galhos, mas não vou parar.

Quando consigo sair da floresta e entrar em Upiór, respiro fundo, sentindo o ar gelado preencher os meus pulmões. Continuo correndo e, ao passar em frente à loja de vovó, minhas pernas falham um pouco, devido à dor nos pés que me fez mancar, seguido de uma dor ardente em minhas costas.

Não posso desistir agora.

Deixando para trás pegadas de sangue, ergue a barra de vestido e permaneço correndo até que eu conseguisse chegar em casa. Ao avistar a casa da vovó, corro ainda mais até ela, me apoiando contra a porta de entrada. Fecho os olhos e deixo minha boca entreaberta para que o ar entrasse em maior quantidade quando a dor nas costas volta, dessa vez, com uma intensidade tão grande que faz cair de joelhos no chão. O vestido amortece um pouco o impacto, mas eu ainda o senti. E ajoelhada no chão, começo a vascular por entre os vasinhos de flores em busca da chave de casa e a pego tão desesperadamente que tento, ao menos, três vezes colocá-la dentro da fechadura.

Depois de conseguir destrancar a porta, joga a chave para dentro e bato a porta com força, me escorando nela quando minhas pernas falham outra vez devido à dor nas costas e nos pés. Me arrasto pelo corredor e me lança nos degraus da escada tentando, com cuidado, ver o estado das solas de meus pés que estavam cobertas pelo vermelho.

Meu peito começa a subir e descer com rapidez e uma enorme falta de ar me atinge, e todo o ar da casa parece não entrar mais no meu corpo. Aflita, me levanto dos degraus e seguro no corrimão, subindo a escada com rapidez, causando mais barulhos. No andar de cima, corro pelo corredor, enquanto tento respirar. Completamente exasperada, abro a porta do quarto, encontrando Wendy sentada na cama com uma expressão sonolenta que muda assim que me vê.

— Elena, o que aconteceu com você?! — Wendy salta da cama, mas eu não a espero, pois, corro até o banheiro e tranco a porta.

Me apoio na pia do banheiro e abro a torneira jogando várias vezes uma grande quantidade de água no rosto, sentindo, aos poucos, o ar retornar para dentro do meu corpo.

Minhas costas ardem outra vez, então fecho os olhos enquanto sinto meu corpo escorregar para o chão.

— Elena?! — Wendy chama do lado de fora do banheiro, tentando abrir a porta.

Não consigo conter o grito de dor quando algo parecer rasgar a pele das minhas costas. Curvo meu corpo para frente e fecho os olhos com força. A torneira que deixei aberta, enche a pia até que a água comece a cair em mim, acertando minhas costas como se fosse ácido.

Grito outra vez, e rolo para longa da água que transbordava.

— Elena, abre a porta, por favor!

Puxo o vestido para baixo, tentando arrancá-lo do meu corpo assim que o pano gruda na minha pele.

Agora, coberta apenas por uma calcinha, jogo o vestido sobre a água que formava uma grande poça no chão do banheiro. Percebo que ela começa a ganhar uma coloração avermelhada, enquanto alguns filetes de sangue escorriam do meu corpo. De uma vez só, me levanto do chão e acabo por escorregar na água, batendo as minhas costelas contra a privada próxima. Outra vez sinto a falta de ar em conjunto com a dor, e me agarro na privada, enquanto as lágrimas começam a escorrer do meu rosto.

— ELENA, ABRE A PORTA! ABRE A PORTA AGORA! — Wendy grita extremamente alto, fazendo o zumbido voltar aos meus ouvidos.

Sinto o sangue escorrendo das minhas costas, acompanhando a água que transbordava da pia. E com muita dor, me apoio na privada e consigo me levantar, depois, agarro na minha pia cheia de água e encaro meu reflexo no espelho.

O meu estado era deplorável.

Lentamente, me viro de costas para o espelho, tentando olhar sobre os ombros. Cortes profundos e sangrentos estavam por toda parte da minha carne, traçando cada ponto das minhas costas. Com as mãos trêmulas, tento tocar alguns dos cortes, sentindo-os quentes e fundos.

— Elena! — Me viro de frente para o espelho outra vez, mas meu reflexo não segue os meus movimentos, ele continua de costas para mim, espiando-me sobre os ombros, enquanto me mostrava aqueles horríveis e dolorosos cortes. — Este é o momento, Elena Van Helsing. Agora, somos apenas uma. — O reflexo no espelho diz para mim e logo reconheço aquele olhar tão diferente do meu.

Em um estado de choque, me sento no chão molhado.

— Eu estou ficando louca? — Sussurro em meio ao choro.

Mais uma vez, algo parece rasgar minhas costas e era tão fundo que eu podia sentir isso tocando os meus ossos. Era desesperador e eu não posso aguentar, era como morrer.

Eu estava morrendo.

Me arrasto para perto da porta e seguro na maçaneta para conseguir me levantar. De pé, grito contra a madeira branca da porta quando a dor toca os meus ossos outra vez. Trêmula da cabeça aos pés, destranco e abro a porta, encontrando Wendy com o rosto vermelho e molhado de lágrimas. Seus olhos ficam completamente assustados ao me ver, mas estou tão desesperada pela dor que não consigo me importar com isso agora.

Empurro seu corpo para o lado e saio do banheiro, indo em direção a saída do quarto.

— ELENA, ONDE VOCÊ VAI?! — Wendy grita atrás de mim quando começo a correr no corredor.

Desço a escada com presa e meus pés molhados escorregam nos três últimos degraus, fazendo minhas costas baterem contra a quina dos degraus. Grito de dor, enquanto choro e Wendy se desespera ao descer os degraus, mas não quero que ela fique perto de mim, ela não pode me ajudar, eu só preciso que essa dor infernal suma.

Com dificuldade, me levanto e consigo ir para à cozinha.

— Pelo amor de Deus, o que aconteceu com as suas costas?!

Paro ao lado da gaveta de talheres, a abro e vasculho dentro, pegando a maior faca que havia ali.

— O que você vai fazer? — A voz de Wendy falha e eu a encaro. Ela estava parada do outro lado da mesa, com medo de se aproximar. Ela não parava de chorar e seu nariz já estava escorrendo.

Pisco algumas vezes, enquanto as lágrimas quentes pingam do meu rosto.

— Eu não consigo suportar essa dor, Wendy. — Sinto a saliva escorrer pelo canto de minha boca. Volto meu olhar para a faca de carne que segurava, aperto o cabo preto com força.

— ELENA, NÃO! — Wendy grita e empurra a mesa, tentando correr até onde eu estava, mas já era tarde demais, eu já havia golpeado a própria barriga com a faca, atravessando minha pele de um jeito cruel, sanguinário e extremamente dolorido, e tudo que eu espero é que isso me tire daqui de uma vez.

Não consigo nem ao menos gritar, minha visão começa a embasar e minhas pernas perdem por completo as forças, meu corpo fica mole e tudo que faço é soltar a faca que fica presa entre minha pele e ossos. A expressão de pavor no rosto da Wendy, enquanto ela tenta segurar meu corpo que cai no chão frio da cozinha, é a última coisa que vejo antes de perder por completo todos os meus sentidos.

 A expressão de pavor no rosto da Wendy, enquanto ela tenta segurar meu corpo que cai no chão frio da cozinha, é a última coisa que vejo antes de perder por completo todos os meus sentidos

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