19°- CAPÍTULO ✝

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— Esse calor está insuportável. — Wendy resmunga, abanando um leque improvisado de papel, de um lado para o outro em frente ao rosto.

Aceno, concordando.

Olho para a porta aberta da loja, vendo os iluminados raios de sol do lado de fora. E mesmo longe, eles pareciam tão quentes quanto o ar seco e abafado que produziam.

— Acho que vou comprar um sorvete, o que acha? — Sugiro e os olhos de Wendy ficam grandes.

— É uma ótima ideia! — Sua voz fica animada e alta como um pedido implorado por aquilo.

— Certo, então tome conta de tudo, eu não vou demorar. — Sem me importar em tirar o avental por cima do meu vestido fresco, procuro por dinheiro antes de sair da loja.

O lado de fora era cinco vezes mais quente e toda vez que os raios de sol tocavam minha pele, eu sentia que poderia derreter. Com uma das mãos sobre os olhos improvisando uma viseira, caminho pelas ruas de ladrilho, enxergando melhor dessa maneira, mesmo que o sol batesse diretamente nas minhas costas, me fazendo sentir a pele esquentar mais do que eu gostaria.

As cigarras em estavam por toda parte, cantarolando a canção do sol, com certeza, mais animadas que qualquer um de nós - ao receber esse calor. Sigo pelo caminho que aprendi a fazer durante os últimos dias. E depois de passos lentos e quentes, quase corri para debaixo do toldo listrado quando avistei a pequena loja, da qual, Wendy e eu sempre comprávamos comida quando passávamos o dia na loja da vovó.

Fico alguns segundos parada debaixo do toldo, tentando me recompor do calor, antes de entrar pela porta branca que estava aberta. Inspiro tudo que posso quando sinto o ar gelado do lado de dentro, agradecendo por esse lugar estar mais fresco que o lado de fora.

— Elena! Bom dia! — A mulher com os cabelos ajeitados em um coque bem puxado e em roupas de verão, me recebe com um grande sorriso.

— Bom dia, Cora. — Sorrio de volta e passo em frente ao balcão que ela limpava com o auxílio de um pano.

— O que vai ser hoje?

— Sorvete. — Respondo, parando em frente ao freezer que armazenava diversos sabores do doce gelado que seria a minha salvação.

— Os sorvetes estão vendendo muito bem nos últimos dias. Toda noite antes de dormir, eu sempre preparo mais uma remessa deles, pois, sei que no dia seguinte irá fazer esse calorzão danado.

— Por favor, continue fazendo muitos sorvetes. — Suplico e Cora ri.

Depois de escolher dois sabores de sorvete, os levo até o balcão onde pago o devido valor para Cora, que me oferece uma pequena sacolinha para carregar o sorvete de Wendy.

— Cora, você pode me responder uma coisa? — Abro meu sorvete, dando a primeira chupada no doce gelado que quase me faz suspirar.

— Claro, o que seria? — A mulher sorri outra vez, fazendo suas pequenas rugas ao redor dos olhos se tornarem visíveis em pequenas linhas.

— O que você sabe sobre Upiór? Ultimamente eu tenho escutado alguns boatos do que aconteceu nesse vilarejo há tempos atrás. — Encaro com curiosidade a mulher de cabelos presos.

Por alguns segundos, ela pensa, mas logo volta a passar o pano no balcão.

— Hm, Upiór tem muitas histórias, lendas que ninguém sabe se é verdade. Nós temos muito disso por aqui, não é algo com que você deva se preocupar.

Parece que quando o assunto é saber a verdade do que aconteceu nesse lugar, todas as respostas somem.

Sabendo que não conseguiria nada além disso e, também, antes que o sorvete de Wendy derretesse, resolvo deixar esse assunto para lá, por enquanto. Então, me despeço de Cora e agradeço pelo sorvete.

DRÁCUS DEMENTER || KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora