42°- CAPÍTULO ✝

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A noite chegou grandiosa, sem qualquer vestígio de brilhantes estrelas no céu, apenas nuvens carregadas que traziam relâmpagos e trovões em uma celestial tempestade que escondia a gloriosa lua de sangue.

Caminho por entre as duas fileiras separadas de bancos de madeira, da pequena capela de Upiór. O crucifixo pendurado ao redor do meu pescoço, bate contra meu peito, acompanhando cada passo que dou sobre minhas botas, que em altos ecos, serviam como uma música de fundo.

Mais uma vez, a claridade atravessa majestosamente os vitrais da capela, acompanhada por um poderoso trovão que range de forma furiosa. Paro, ao ficar de frente para o pequeno altar, e, respeitosamente, curvo minha cabeça, fazendo um rápido sinal de cruz antes de me levantar e virar para esquerda, indo diretamente para o confessionário.

Já perto do pequeno armário de madeira com detalhes em vinho, abro a porta da direita e, em seguida, me sento no pequeno banco do lado de dentro. Dou duas leves batidas na parede oca e a janela trançada que me separava da outra metade do confessionário, é aberta.

— Padre Albert, perdoe os meus pecados. — Encaro a porta fechada na minha frente e escuto um longo suspiro vindo do outro lado da tela trançada, que mal me dava vista para o homem velho.

— Eles são muitos, não é?... Está perdoada.

Fico em silêncio, apenas escutando a forte tempestade do lado de fora, enquanto aguardo suas instruções.

— Não poderá haver falhas essa noite. Precisamos terminar o que começamos há quase cem anos atrás, Elena.

Seguro em meu crucifixo de prata.

— Não haverá falhas, padre.

— Me escute, pequena criança, o seu despertar já aconteceu e, por isso, nós te treinamos por todo esse tempo. Sua força é maior que a de qualquer outro humano, seu reflexo e agilidade são aguçados como uma faca, e sua resistência também é maior. Você se tornou um mestre em armas e em combate, e o seu sentido é sensível como uma flor, Elena. Mas tudo isso já vinha com você só por nascer uma Van Helsing. — Seu tom de voz não era gentil, era duro e impassível. E mesmo sem vê-lo, aposto que a expressão do padre se tornou rígida. — Olhe para mim, Elena.

Viro minha cabeça em direção a tela trançada, enxergando apenas a sombra do padre Albert do outro lado do confessionário. Aqui dentro era escuro como o inferno.

Que Deus perdoe os meus pensamentos.

— Você tem grandes habilidades, mas não se esqueça, ainda é uma humana que pode morrer em uma vida. — Sua voz se torna mais séria a cada palavra que ele dizia, mas isso não pode me assustar agora. Eu já havia tomado minha decisão.

— Me diga, padre, como terminamos de matar uma criatura que já está meio morta? — Pergunto, apertando meus dedos ao redor do crucifixo.

Olho para baixo, encarando no meio do escuro, a cruz que embalava minha pele presa a um grande cordão de prata. O anel da minha família pesava no meu dedo e a pedra preta nele me prometia proteção eterna até o meu último suspiro.

— Nós arrancamos a cabeça fora. — Respondo minha própria pergunta, sentindo o sangue vibrar em minhas veias apenas por pensar no momento que me aguardava do lado de fora, na grande tempestade de Upiór.

— Você levará todas as suas armas de treinamento, mas nós também separamos algo especial. Drácula não é como os outros Drácus Dementers. Use uma estaca especial. Por fora ela é feita de prata e por dentro contém água benta. Depois que você acertar o peito daquela criatura infernal, arranque sua cabeça para se certificar de que ele nunca mais abra os olhos.

— Eu trarei isso para o senhor, padre. Espere por mim.

Os pelos de meu braço se eriçam por debaixo do grande sobretudo preto de couro. Eu podia sentir, eles se aproximavam do lado de fora, essa presença é única.

— Que Deus te guie e te proteja nessa noite.

— Amém, padre. — E com isso, abro a porta do confessionário, sentindo todo meu corpo se arrepiar ao pisar no chão da capela.

Tudo era escuro e silêncio, apenas com a tempestade clareando os vitrais coloridos e desenhados.

Me viro, dando dois passos e ficando de frente para a porta esquerda do confessionário, onde, os padres costumam nos esperar para a libertação de nossos pecados. Abro a porta, encontrando o lugar vazio de presença, mas com um grande saco de linho marrom sobre o banco, qual, padre Albert estava sentado a poucos minutos atrás.

Puxo o saco de linho para fora do confessionário e o abro, checando tudo que a igreja preparou para mim. A primeira coisa que me saltam os olhos, é um longo e velho rifle com uma tira de couro repleta de munições extras; balas de prata. Passo a tira de couro sobre os ombros, de modo que, o rifle fique pendurado em minhas costas. Depois, a próxima coisa que pego é uma pequena faca afiada, que prendo no cinto das calças pretas. Pego também, a balestra de madeira com dez lanças engatadas em sua engrenagem e a deixo de lado por um momento, assim que meus olhos enxergam o último item guardado dentro do saco de linho.

A estaca de prata.

Com cuidado, pego à estaca, a vendo brilhar sob a claridade do relâmpago acompanhado pelo trovão que gritava do lado de fora. Aproximo à estaca da orelha e a chacoalho, escutando o líquido de dentro balançar, a água benta.

Um arrepio corre por meu corpo, como, o gosto da morte.

Depois de admirar o grande presente surpresa que levarei para o futuro Drácula, guardo à estaca de prata dentro da minha bota, sabendo que ela enterraria todos os sentimentos que um dia compartilhei com aquelas criaturas sem coração e alma.

Mais um relâmpago atravessa os vitrais da capela e a porta da frente é aberta em um grande e alto estrondo, da forma mais desesperada possível.

Rapidamente me abaixo, pegando a balestra e a apontando em direção a porta, sabendo que não erraria essa flechada e que posso derrubar o intruso em poucos segundos.

Os meus olhos atentos encontram os olhos assustados da Wendy, que arfava em seu corpo completamente encharcado pela tempestade. Minha irmã me encara por alguns segundos, e mesmo estando um pouco longe, eu conseguia ver que ela tremia muito.

Apenas um lado da porta dupla de madeira estava aberto, mas era o suficiente para que eu pudesse vislumbrar as infernais criaturas voando entre os pingos grossos da chuva.

Gritos de socorro tentam atravessar as paredes da igreja.

Eles chegaram, Elena! Os vampiros estão aqui!

— Eles chegaram, Elena! Os vampiros estão aqui!

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