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— Você já deve estar cansada de ficar me ouvindo falar o tempo inteiro

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— Você já deve estar cansada de ficar me ouvindo falar o tempo inteiro. — Escutei Alex dizendo ao retornar para o lugar dele após usar o banheiro do ônibus. Levei minha mão aos olhos e os esfreguei, temendo que alguma lágrima tivesse escapado depois de reviver as lembranças doloridas de meu passado. — E também deve estar faminta.

Soltei um riso fraco e balancei a cabeça em afirmação. De fato, eu estava com um pouco de fome. Ele se ajeitou na poltrona e estendeu uma barrinha de cereais.

— Apenas temos isso para comer... Você prefere de morango com chocolate ou de banana? – indagou Alex, parecendo preocupado em me alimentar.

— Acho que vou ficar com a de banana — respondi, pegando a barrinha oferecida a mim.

— Boa escolha. — Ele deu um meio sorriso e abriu a barrinha de morango com chocolate e deu uma mordida.

— Você trouxe mais barrinhas de cereais? — questionei, comendo a minha em duas mordidas. — Por que somente uma não vai ser o suficiente pra mim.

Alexander me encarou de olhos arregalados, surpreso.

— Caramba! Você engoliu isso? — Soltei uma risada, me divertindo com sua expressão facial.

- Não! – falei, ainda de boca cheia. — Eu só estou com fome e como pagamento você deve me alimentar!

Ele soltou uma risada alta e acabou recebendo alguns olhares feios dos outros passageiros. Também tentei controlar a minha, mas inevitavelmente acompanhei a dele.

— Bem, já que você aceitou em fingir ser minha namorada — disse ele, sussurrando a última parte. — No mínimo devo te oferecer algo para comer.

Assenti e observei ele se levantando da poltrona e pegando algo dentro de sua mochila guardada no compartimento acima de nossas cabeças.

— Trouxe mais barrinhas de cereais, então vai ter que ser o suficiente até o fim da viagem — brincou Alex, balançando um total de dez barrinhas que havia trazido. Estendi a mão e peguei mais duas. — Ei! Não pega tudo!

Mostrei a língua para ele e voltei a comer. Aquilo me ajudou a distrair a mente e esquecer o passado por um momento. Eu não queria lembrar dele novamente, mas sabia que ficar com os pais de Alex por um fim de semana seria o suficiente para lembrar dos meus. Eu sentia falta deles, da mesma forma que eles sentiam a minha, mas não sentia falta das brigas, lágrimas e dos gritos. Voltei meus olhos para a paisagem e foquei em aproveitar o tempo dentro do ônibus. Não era muito fã de viagens em ônibus, mas estar na presença de Alex — mesmo estando em silêncio — era confortável.

Contudo, inevitavelmente, quanto mais nos aproximávamos de Filadélfia, mais Alexander ficava nervoso. Vi sua perna tremer, em um tique nervoso, nos últimos minutos antes de chegarmos a sua cidade natal. Ouvi meu nome sendo chamado em um sussurro e voltei-me para meu falso namorado.

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