XXIII

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Adam uniu a sobrancelhas e suspirou baixo. Fico curiosa para saber o que se passa na mente dele, provavelmente deve estar pensando na merda que fez.

— Mary, eu... — tentou se aproximar de mim, mas eu recuei me virando de costas para ele e dei alguns passos para me afastar dele — Eu...

— Cala a boca! — esbravejei me virando para ele — Você é um... é um... Idiota, mulherengo. — Adam abriu a boca para falar, mas eu o calei com a minha voz — Você estava com vergonha de mim, não estava?

Ele não falou nada, apenas passou a mão na nuca e olhou para o chão.

— Eu sabia! — conclui — Você é um... um... — perdi completamente as palavras. As lágrimas já rolavam pelo meu rosto. — Eu sei que eu estou errada por ser a pessoa com quem você traiu a Hanna. Mas eu pensei que era só comigo, pensei que era a primeira vez que fazia isso...Eu pensei que você gostava de mim, eu...

Eu mal sabia o que fazer, o que falar. Eu estava desesperada e não sabia como agir, como em todas as situações.

— Gostar de você? — um risinho escapou de seus lábios. Franzi a testa sem entender — Estamos ficando há um dia, Mary, isso não quer dizer absolutamente nada. — se aproximou de mim — E o fato de eu ter quase te comido não diz que eu goste de você.

Dei um passo para trás querendo me afastar dele. Eu não acreditei no que eu ouvi.

Eu juro que eu poderia ter vomitado em cima dele depois de suas palavras nada gentis.

— Então, você está me usando? — encarei seus olhos, os olhos frios e azuis, que combinavam demais com aquele rosto rude.

— Vou ser sincero: sim... — depois daquela resposta eu senti mais nojo dele. — Você é só um passatempo, sabe. E depois que eu vi hoje, você é mais gostosa que a Hanna.

Por que eu não corri na primeira oportunidade? Evitaria ouvir tudo aquilo, poderia ter me poupado de descobrir o nível do ridículo que o Adam atingia.

— É isso que eu sou para você, então? — olhei nos olhos dele, esperando que ele estivesse brincando comigo.

— Sim, assim como todas.

Por um segundo, vi esperança aonde não tinha, esperava que ele me pediria desculpas e que estava agindo errado comigo. Mas nada aconteceu. Meus batimentos cardíacos estavam muito acelerado, e eu já estava me sufocando com o meu próprio choro. Estava tão vulnerável, diante de Adam. Estava me sentindo muito ruim.

Seu olhar parecia tão duro e sem emoção. Cadê o Adam carinhoso que me tratou bem a tarde inteira? Aonde eu o deixei? Era pouco tempo de "amizade" entre nós dois e eu já estava derrotada. Eu era apenas um "passa tempo" para ele e mais "gostosa" que Hanna, como isso me magoava.

Eu não iria ficar parada em sua frente enquanto ele assistia o meu "show" de lágrimas.

Dei uma última olhada para Adam Ashworth e girei meus calcanhares, perdendo a visão do "mulherengo do ano". Dei dois passos para frente, mas parei.

— Mary... — o ouvi me chamar e eu continuei parada. Uma esperança se ascendeu em mim, esperando pelas desculpas dele — a sua chave.

Ele parou na minha frente e tirou a minha chave de dentro do bolso da calça dele e colocou no bolso do meu casaco. Levantei o rosto e Adam deu um sorriso de lado sem graça e saiu da minha frente com passos largos e rápidos.

Olhei para as minhas mãos e depois me virei o observando entrar na casa escura e cheio de jovens transando. Adam participaria daquilo? Aquela pergunta rodou na minha mente.

E cada vez as coisas ficavam piores para mim. Adam me deixou sozinha no jardim de uma casa, à uma da madrugada, sem ter como voltar para casa, pois deixei minha carteira em casa e não teria como pegar algum meio de transporte. Meu celular estava sem um pingo de bateria e eu não conhecia ninguém nessa festa. Ótimo!

Andei mais alguns passos em direção à rua e quando eu ia atrevessar a mesma, um carro todo preto parou na minha frente. Estava ficando com medo e com motivos, mas o vidro se abaixou segundos depois me deixando mais aliviada por ver o rosto de Ellie no banco do motorista.

— Quer uma carona? — perguntou franzindo a testa. — Eu vi o que aconteceu... — ela se explicou, meio receosa.

Assenti aceitando a carona, até porque eu não teria como ir para casa. Contornei o carro indo para o banco do passageiro do lado dela. Eu abri a porta com as minhas próprias mãos, e entrei no carro sentando no banco confortável.

— Eu sinto muito.. — disse assim que eu fechei a porta do carro. — Eu sei que o Adam e a Hanna estão namorando, e sei que... — parou por um momento me olhando meio receosa — que você é super afim dele. Vi vocês dois se pegando lá na festa...

As palavras de Ellie me deixaram em alerta e um pouco apavorada. Muitas possibilidades surgiram na minha mente. Eu poderia confiar nela? E se ela contasse alguma coisa para Hanna? Tudo estava tão confuso.

— Ellie, por favor, não fala nada para Hanna... — implorei olhando para ela pedindo por súplica.

— Tudo bem, Mary. O assunto não é meu, não posso contar nada para a Hanna. — sorriu para mim me deixando mais aliviada, mas meu corpo ainda estava tenso. — E sobre o que eu vi agora pouco... Eu sinto muito, muito! — colocou a mão no meu ombro. E eu estava me sentindo mais a vontade com ela. — O meu irmão é um babaca, por mais que eu não saiba o motivo da briga. — disse com um tom de curiosidade. Eu deveria me abrir com Ellie?

— Acho que posso conversar com você sobre isso né. — olhei para ela que concordou com a cabeça enquanto olhava atentamente para a estrada. Só agora que eu percebi que o carro estava em movimento.

Eu gostava de Ellie, ela parecia ser uma boa pessoa. E a famosa frase "não julgue o livro pela capa" se aplicava bem nela. Eu nunca a julguei, a conheço há poucos dias, e a primeira vez que a vi, tive uma boa impressão dela, já que a mesma é animada e engraçada. Não me deixei intimidar pelas tatuagens e pelos piercings. Sabia que poderia confiar nela e aliás, era a pessoa certa forma para conversar sobre aquele assunto, pois era uma das pessoas que mais conhecia Adam.

Me abri para ela — o que eu não fazia com muitas pessoas, nem com Hanna. Contei desde o primeiro "Eu quero passar e acho que ficar me olhando não vai fazer com que eu atravesse você." — tivemos que concordar que o Adam não tinha educação nenhuma — até a última vez que vi a silhueta dele desaparecer na escuridão da casa. Tentei poupar os detalhes de mais cedo, mas ela me obrigou a contar, e isso me deixou envergonhada e tirou umas risadas de Ellie. Quase chorei contando a última parte, Adam estava realmente mexendo comigo e isso me assustava.

Mas depois ficou tudo mais engraçado quando Ellie começou a contar sobre o porque dela ter batido na Laura, e eu percebi que aquela garota era uma vaca.

E para encerrar a minha noite, Ellie Ashworth não deixou eu ir para a minha casa, alegando que eu deveria dormir em sua casa por estar tarde e que provavelmente o Senhor e a Senhora Cooper não gostariam de me ver chegando às duas da manhã em casa. Acabei cedendo, pois não teria outra saída.

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