LVI

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Pedido de desculpas

Meu braço foi segurado e eu virei o corpo na defensiva. Respirei fundo quando eu vi que era Lyan.

      Ele estava tentando falar comigo desde o que aconteceu entre nós dois. Eu estou o ignorando há vários e vários dias, não queria olhá-lo de jeito nenhum. Lyan me parecia um cara legal e sempre me tratava bem, mas aquela noite foi o cúmulo. Eu me senti horrível, fiquei a noite toda acordada pensando no que tinha acontecido e não querendo acreditar em que Lyan havia se transformado.

— O que você quer? — perguntei ríspida, olhando para o seu rosto.

      — Quero conversar com você! — disse passando a mão na nuca, nervoso.

— Fala! — digo indiferente olhando para os lados, para não manter contato visual.

— Me perdoa, por tudo o que aconteceu. Você sabe que eu gosto muito de você, Mary, e eu nunca faria mal para ninguém em sã consciência. — ouvi seu suspiro, mas continuei olhando para uma árvore ali. — Eu fiquei maluco quando eu vi você cheia de marcas que eu não causei. Poxa, você aceitou me dar uma chance e bom, era quase um namoro, eu fiquei frustrado e decepcionado com você!

Eu sabia que era a mais pura verdade. Eu errei em todos os sentidos. Minha mãe ainda me avisou para eu não brincar com o Lyan, e foi isso que eu fiz. Eu precisava de alguém me fizesse esquecer o Adam, que eu amasse da mesma maneira que eu o amava, mas não consegui, eu não sentia a metade das emoções que eu sentia pelo Adam com o Lyan. E de uma forma, eu magoei ele.

       — Eu... — encarei o chão, envergonhada. — Me desculpe por ter feito isso.

      — Não é você que tem que pedir desculpas, Mary. — ele se aproximou um pouco e eu recuei. — Eu errei muito com você. E agi de forma bruta. Sei que isso é imperdoável, mas eu te peço, só me dá mais uma chance, só mais uma...

       Era típico de homens; errarem e depois pedir mais uma chance, como se nada tivesse acontecido.

      — Não podemos ter o que tínhamos antes, Lyan. — respiro fundo e enfim, o olho nos olhos. — Eu amo outra pessoa.

      — O Adam, eu sei. — ele disse dando de ombros e eu abri a boca sem ter o que dizer. — Sempre observei o jeito que vocês se olhavam, antes mesmo da Hanna saber. E eu sei que vocês dois transaram.

      Fiquei sem palavras e sem reação. Como ele sabia? Será que o Adam tinha contado tudo para ele? Era péssimo isso, tudo era péssimo. Quanto mais pessoas soubessem sobre Adam e eu, as coisas iriam piorar a cada dia e a cada hora, até chegar em Hanna.

       — Olha, Lyan... — respirei fundo, me encorajando para continuar. — Eu realmente já fui muito apaixonada por você, mas... eu conheci o Adam e as coisas mudaram... — mordi o lábio inferior, com o nervosismo nas alturas. — Ele e eu não podíamos ficar juntos, por motivos óbvios, por isso que aceitei te dar uma chance. Eu sei que acabei por brincar com os seus sentimentos, e não era a minha intenção. Eu deveria ter conversado com você sobre Adam e eu, sobre o que eu sentia por ele e sobre o que estava acontecendo, mas as coisas aconteceram rápido demais, e quando eu vi, a merda estava feita... — Nas últimas palavras, puxei todo o ar, tentando me recompor.

        Ficamos em silêncio alguns segundos e pensamentos rodavam em volta de nós. Eu não queria ver o Lyan nem pintado de ouro, para ser sincera, e não queria perdoa-ló, mas eu estava com outros problemas para resolver e precisava me livrar desse peso. Não iria perdoa-ló, não conseguia, mas eu iria tentar, talvez ele conseguisse conquistar minha confiança aos poucos, porém não de cara. Lyan precisava de um gelo — assim como o Adam — e acho que dei um tempo nele o suficiente.

       Na verdade, o Lyan era uma pessoa boa e compreensível, não me julgava e isso eu admirava muito nele. O Lyan não me julgou, não com palavras, mas mesmo assim, não jogou na minha cara tudo o que aconteceu e o que eu fiz.

      — Podemos tentar esquecer o que você fez, mas vai demorar um pouco mais para mim. Se você quiser minha amizade de volta, você tem que saber que vai ser difícil consegui-la. Não confio mais em você... — minhas palavras saíram mais duras que eu pensava. 

     — Eu juro que eu vou fazer de tudo para que você possa confiar em mim novamente. — ele sorriu de lado e passou a mão na nuca. Os garotos tinham essa maldita mania! — Então, estamos bem novamente, ou pelo menos tentando? — Lyan estendeu a mão para mim e o olhei receosa.

      Apertei sua mão e dei um meio sorriso, com muito receio de estar fazendo a coisa errada.

       — Eu já vou indo... — digo soltando nossas mãos e ajeito a mochila nas costas.

       — Deixa eu te levar. — disse rapidamente, mas eu neguei com a cabeça. — Por favor, Mary, temos que recomeçar, lembra?

      Respirei fundo e assenti com a cabeça. Eu iria aceitar por estar muito frio e estar nevando um pouco. Prefiro ir em um carro confortável no que no ônibus.

       O caminho foi normal, eu tentei ficar normal e não surtar do lado do Lyan. Ele começou a puxar assunto comigo sobre a faculdade e me explicou algumas matérias que eu não entendi direito. Eu fiquei um pouco agoniada do lado dele e fiquei bem afastada, apenas ouvindo e interagindo poucas vezes com ele.

        O carro parou em frente a minha casa e eu comecei a tirar o cinto e peguei a mochila, quando levantei o olhar, vi uma Ferrari Califórnia preta parada em frente a garagem. Respirei fundo já sabendo de quem era aquele carro.

       — Eu já vou. — digo ainda olhando para o carro. — Obrigado pela carona.

       — De nada... — disse baixo. O olhei e o mesmo encarava o carro também. — Pede para o Adam me ligar. — disse com o tom decepcionado.

      Apenas afirmei com a cabeça e abri a porta do carro, saindo dali, o mais rápido que eu podia e fechei a porta novamente. Acenei antes de me virar e caminhe devagar até a entrada de casa, olhando para os lados tentando achar Adam. Encaixei a chave na porta e virei, a abrindo. Assim que entrei e fechei a porta, ouvi risadas vindo da sala e tive que respirar muito fundo.

       — Olha quem chegou! — meu pai disse assim que entrei na sala. — Chegou cedo.

       — Um amigo me trouxe. — digo encarando para a pessoa que estava na poltrona. Adam. — Cadê a mamãe? — coloco minha mochila no pé do sofá e mordi os lábios.

       — Estou aqui, querida! — minha mãe gritou, e eu já sabia que estava na cozinha.

      O cheiro forte de bolo de baunilha preenchia o ar da casa toda e meu estômago resmungou de fome. Minha mãe fazia bolos maravilhosos que eram receitas da vovó.

       — O Adam veio nos visitar. — apontou para o cara sentado na poltrona que me olhava curioso. — Ele queria conversar com você, aí pedimos para ele ficar, tem problema? — meu pai explicou.

      — Claro que não... — neguei com a cabeça olhando para o Adam que retribuía o gesto.

      — Ele me contou que vocês brigaram, porque não me disse, Mary? — ele perguntou franzindo a testa.

      Porque o Adam, que você tanto gosta, pai, é um usuário de drogas e tem namorada. E acho que o senhor o mataria se soubesse disso! Respondi mentalmente.

       — Não queria preocupar você e a minha mãe. Mas é coisa boba! Pessoas brigam o tempo todo... — engulo em seco e me sento no sofá, bem longe do Adam.

       — Eu vou para a cozinha para vocês conversarem. — meu pai disse se levantando do sofá e antes que eu protestasse, ele saiu da sala praticamente correndo.

       Eu não queria conversar com o Adam naquele momento, e eu não sabia o que ele queria conversar. Talvez me falar que não queria mais nada comigo e que acabou descobrindo que a Hanna é melhor que eu...

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