Pequenas mentiras

XXXI

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As aulas da manhã passaram tão devagar que eu poderia ver os segundos passando na minha frente, e eu poderia contá-los um por um sem nenhum problema. Foi muito entediante, o dia mais entediante de todo esse tempo na faculdade.

Aysha havia faltado, o que já não era novidade, e eu não conhecia ninguém além dela na aula de biologia celular. Os cochichos hoje na sala estavam piores e toda vez que eu olhava para trás, algumas pessoas estavam olhando para mim. Era óbvio o porquê de estarem fofocando na aula, agora eu virei o assunto dessas pessoas que não tem senso e nada para fazer. A minha vontade era de me levantar ir sair daquela sala e nunca mais voltar. Mas meu futuro dependia disso e se eu precisasse aguentar várias e várias coisas para me tornar uma médica, eu aguentaria.

Depois disso tudo, a minha vontade de almoçar com Lyan foi ladeira a baixo. Não pelo Lyan em si, e sim a minha vontade de querer a minha cama e de não sair com ninguém

Eu me preocupo muito com o que as pessoas pensam de mim, por isso que eu gosto de ficar na minha, sozinha e relaxada, sem me preocupar com esse tipo de coisa. Eu posso estar fazendo uma tempestade em um copo de água, mas não é tão normal as pessoas falarem de mim por aí, isso me assusta.

Sinto braços em volta dos meus ombros e o cheiro de lavanda toma minhas narinas. Hanna não tinha outro cheiro, e era muito bom.

Me viro para ela e me envolvo em um abraço apertado. Fazia tempo que eu não abraçava Hanna, muito tempo. Quase não a vejo, e abraçar minha amiga ja virou evento. Eu gostava da companhia da minha melhor amiga, sempre fomos tão próximas, sempre juntas e quando Adam entrou de verdade na vida dela — assim como na minha —, nos afastamos bastante. Eu pretendia conversar com a Hanna sobre isso tudo o que está acontecendo, mas seria impossível eu não me sentir culpada, pelo o que aconteceu comigo e com o Adam. A culpa estava andando comigo há alguns dias e eu ando até conversando com ela, paranoia minha.

Eu preciso de mais alguns dias para me estabilizar e voltar tudo normal, sem amores platônicos, sem namorado da melhor amiga, sem choro e rosto vermelho, apenas com uma coisa diferente: Lyan — o que era mais uma coisa para pensar.

— Onde você estava, mocinha? — a voz animada dela tomou meus ouvidos, e eu sorri.

— Por aí... — respondo em um fiasco de voz — Quero dizer, ocupada. — desfazemos o abraço e eu a encarei.

Hanna estava péssima, pela primeira vez, eu a vejo sem maquiagem na faculdade. Nessas horas o corretivo faz falta, pois ela está com olheiras profundas debaixo dos olhos e meio pálida.

— Sei bem o seu "ocupada" — fez aspas com os dedos e sorriu, era estranho a ver sem os lábios pintados — Fiquei sabendo que saiu com o Lyan e que chegou com ele hoje... — mordeu os lábios analisando o meu rosto, o seu sorriso desapareceu e por um instante ela me olhou seriamente. Mas logo depois voltou a sorrir — o que andou aprontando, Mary Angel?

— Nada... — dei de ombros e Hanna me olhou desconfiada — Quero dizer, eu não transei com o Lyan, se quer saber e fomos jantar sim, mas não rolou nada.

— Como o Lyan enrola! — bufou baixo e revirou os olhos. — Se o Lyan tivesse a atitude que o Adam tem, vocês ja estariam no finalmente.

Eu queria gritar para a Hanna a diferença entre o Lyan e o namorado perfeito dela. O Adam pode ter atitude, mas falta caráter.